Movimentações financeiras criminosas
Cesar
Vanucci
“Quando é
que uma rígida legislação específica, nascida do consenso mundial, irá por fim
ao escândalo dos tais paraísos fiscais?”
(Antônio Luiz da Costa, educador)
Já dissemos e voltamos a repetir. É mais do que chegada a hora de se
cogitar, numa proposição em que o verdadeiro espírito da globalização seja
levado realmente a sério, de uma legislação competente, elaborada sob os
auspícios da ONU, que vede a facínoras, devidamente reconhecidos como tais, o
direito de operarem nos mercados financeiros. Uma medida dessa magnitude seria
extremamente saudável. Retiraria aos terroristas, aos donos de cartéis de
drogas, a corruptos de todos os matizes e a outros execráveis mafiosos a
condição de poderem especular livremente em bolsas e de se lançarem aberta e
ostensivamente em diversificados e lucrativos empreendimentos na esfera
internacional. E, via de consequência, de auferirem, por meio de tais processos,
ganhos que acabem sendo carreados para operações delituosas contra a
sociedade.
As informações, volta e meia divulgadas, de que as organizações ligadas
a grupos terroristas movimentam operações financeiras em todos os cantos do
mundo, engajadas em negócios de alta rentabilidade, colocam em dúvida a
eficiência dos governos que se empenham em rastrear e combater o banditismo
organizado. Volta e meia, também, são anunciadas intervenções, em nível
planetário, nos negócios dessas organizações. Mas, os resultados práticos
dessas intervenções deixam muito a desejar. A opinião pública nada fica sabendo
a respeito. A sensação que se tem é de que é longo ainda o caminho a ser
percorrido entre a promessa de se fazer algo positivo nessa área e a realidade
da implantação de rígidos e eficazes esquemas de controle, oriundos de um
consenso internacional, que possam amortecer ou destruir os sistemas operacionais
que garantem o fluxo de recursos financeiros para atividades que ameaçam a paz
e colocam em risco vidas e patrimônios preciosos.
A aldeia global em que se transformou o mundo, regida por processos de
comunicação instantânea que podem vir a ser, dependendo da vontade dos homens,
valioso instrumento de progresso e bem-estar social, não tem mais como absorver
e tolerar manipulações financeiras que se coloquem ao desabrigo de causas
construtivas e nobres. A sociedade humana tem todo o direito de criar
mecanismos de controle dessas movimentações financeiras malsãs. O procedimento
há que ser visto como atitude de legítima defesa. Os países empenhados em
campanhas permanentes contra os malfeitores de todas as categorias dispõem de
instrumentos capazes de neutralizar atividades rendosas utilizadas como suporte
em crimes praticados contra a humanidade.
Fica evidente, por outro lado, que quaisquer decisões que venham a ser tomadas
com esse saudável propósito moralizador, para alcançarem plena eficácia, não
poderão ignorar, também, as sedutoras operações clandestinas estimuladas pelos
tais “paraísos fiscais”, criados pela velhacaria e ganância como valhacoutos de
bufunfas imoral e irregularmente adquiridas. Tome-se como exemplo mais famoso o
complexo bancário suíço. Não é de hoje que, com toda aquela panca de cafetina
pundonorosa, facilita a ocultação, em contas numeradas inacessíveis, do
dinheiro mal ganho por patifes de todos os matizes e origens. Está claro que não
poderá ficar de fora, nessa vastíssima ação saneadora global.
História espantosa
Cesar
Vanucci
“Investigação
internacional descobre que Estado Islâmico repassa relíquias saqueadas para a
máfia em troca de dinheiro e armas.”
(Raul Montenegro, jornalista, na revista
“IstoÉ”)
As
grandes potências se dizem firmemente empenhadas em combater o sinistro Estado
Islâmico. Aos olhos de observadores atentos, os métodos de ação e estratégias
adotados pelos sofisticados serviços de inteligência dessas potências, que têm
ao dispor uma fabulosa parafernália tecnológica, fazem prova constante de irrazoável
ineficiência, para não dizer apavorante incompetência.
As
evidências desse insatisfatório desempenho acumulam-se. A opinião pública
mundial não consegue mais esconder sua estupefação diante dos resultados pífios
das campanhas deflagradas com o alegado objetivo de desbaratar o complexo
militar dessa horda de fanáticos acantonada em territórios sírio, iraquiano e
líbio.
As
perguntas presas na garganta que clamam por respostas suscitam apreensão e
temor. Se é verdade mesmo que os terroristas estão confinados em áreas
delimitadas, despojados dos recursos de produção necessários, que lhes garantam
condições até de sobrevivência; se são mantidos sob a mira permanente de um
fabuloso aparato bélico - composto de poderosas esquadrilhas aéreas, frotas
navais super equipadas, tropas terrestres bem adestradas -, como é que eles se
arranjam para sustentar seu incrementado ativismo bélico? Como é que fazem para
prover as demandas cotidianas básicas? Seus suprimentos logísticos nas diversas
frentes de combate são garantidos por quais mananciais de produção? Chegam até
eles por quais misteriosas vias? Como explicar disponham os terroristas de carros
de combate, peças de artilharia, mísseis, tanques, outros armamentos de última
geração, munição inesgotável, material de reposição para todos esses
equipamentos? Os fornecedores desses apetrechos, imprescindíveis nas ações empreendidas
pelas falanges radicais, estão, afinal de contas, baseados em que lugares? Aonde
se localiza a sede das operações negociais e por qual sistema bancário tramitam
os recursos alusivos às encomendas dos produtos destinados a abastecerem
armazéns e arsenais? E de onde, responda quem puder, sai a dinheirama toda para
as ousadas empreitadas levadas a cabo por esses amalucados guerreiros, que se
valem da desvirtuada interpretação de conceitos religiosos, sagrados para
multidões fervorosas, em seu nefando propósito de semear o ódio, a intolerância
e o fanatismo?
Recentemente,
jornalistas italianos identificaram uma situação estranha, muito estranha, ao
que parece não detectada pelos supracitados setores de inteligência das grandes
potências, a Itália obviamente incluída, que talvez ajude a responder, em
diminuta proporção, algumas das inquietantes indagações acima arroladas. Nos
arredores de Nápoles, num frigorífico controlado pela máfia, vêm sendo feitas
escancaradamente, sem repressão de quem quer que seja, sombrias operações
favoráveis aos interesses do ISIS. Embarcações de grande porte, controladas por
bandidos chineses, russos e parceiros de outras origens da máfia italiana,
singram tranquilamente as águas do Mediterrâneo para descarregar no local
citado material remetido pela organização terrorista, a ser trocado por
armamento. Os navios chegam carregados de tesouros saqueados pelos fanáticos
fundamentalistas de sítios arqueológicos do Oriente Médio. A máfia napolitana,
que mantém o controle das operações portuárias, recolhe as relíquias e as
redistribui, até mesmo a museus, como denunciam os jornalistas, falsificando –
ora, veja, pois! - atestados de procedência. No retorno, os navios levam
armamentos e outras provisões.
Na
edição de número 2447 da revista “IstoÉ”, a história dessa trama inacreditável
é relatada com minuciosos detalhes pelo jornalista Raul Montenegro. Sem
qualquer margem para equívocos, a parceria firmada pelos terroristas com a
máfia italiana não explica, por completo, as circunstâncias de o Estado
Islâmico manter-se vigoroso diante de toda a poderosa conjugação de forças constituída
para desestabilizá-lo. Mas não deixa de ser um indício alarmante de coisas
escabrosas que podem estar acontecendo no subsolo das conveniências
geopolíticas. Coisas que fazem os serviços de espionagem e contraespionagem das
grandes potências parecerem mais negligentes e ineficazes do que realmente são.
Em toda essa espantosa situação, existe, tá na cara, uma lógica tenebrosa.
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