sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Snowden, o filme

Cesar Vanucci

Oliver Stone sempre foi conhecido por trazer em seus filmes temas incômodos ao seu país de origem. Extremamente politizado, Stone alia uma narrativa que traz novo olhar para assunto polêmico, com forma capaz de atrair o público.”
(Giovanni Rizzo, crítico de cinema)

O esclarecimento foi prestado pelo próprio cineasta Oliver Stone, quando da visita, dias atrás, ao Brasil. A alternativa sugerida nas palavras “herói ou traidor”, pespegadas ao título “Snowden”, do filme recentemente lançado, não está contemplada na história. Trata-se de um subtítulo marotamente introduzido nos letreiros.  Fruto de inocultável “forçação de barra” dos distribuidores, pressionados com toda certeza por órgãos comprometidos com a paranoia sherloqueana estadunidense.

A envolvente narrativa cinematográfica não abre chance, visivelmente, para que a pecha de “traidor” seja aplicada ao ex-agente da CIA que denunciou o assustador esquema de vigilância global, no tétrico estilo previsto no “Big Brother” de Aldous Huxley, por parte do Tio Sam. A disposição dos produtores da fita é exaltar o relevante papel desempenhado, no contexto histórico, pelo ex-servidor das agências de espionagem. Tudo no enredo conflui para enaltecer sua postura desassombrada; para ressaltar a grandeza do gesto de um cidadão que se sentiu, a partir de certo momento, alvejado em sua dignidade, diante dos abusos perpetrados em escala planetária contra os direitos fundamentais, pelos serviços de inteligência de seu país.

Consciente dos enormes riscos pessoais a enfrentar em consequência da divulgação do nefando esquema de arapongagem eletrônica massiva ocorrido – pasmo dos pasmos! – na administração Barack Obama, Edward Snowden prestou, na realidade, no modo de entender dos produtores do filme, um serviço de inestimável valor à sociedade humana. Oliver Stone faz questão de registrar o fato de forma razoavelmente convincente. Ninguém deixa a sala de projeção em dúvida quanto à classificação justa a ser atribuída ao analista de sistemas responsável pelo destemeroso ato.

A mesclagem de contundentes fatos reais - extraídos da documentação que Snowden entregou à mídia internacional, deflagrando o avantajado processo de divulgação que impactou o mundo -, com ficção de estilo melodramático, salpicada de exageros “hollywoodescos”, impede que, do ponto de vista artístico, “Snowden” possa ser comparado a outras obras marcantes do mesmo celebrado autor. Casos, por exemplo, de “JFK, uma pergunta que não quer calar” e “Nascido em 4 de julho”.

As relações afetivas do personagem central, focadas na figura de Lindsay Mills – que o acompanha na atualidade em sua vida de asilado no território russo -; a condição de saúde precária de Snowden recebem tratamento cinematográfico edulcorado, com o indisfarçável fito de tornar a fita um produto comercialmente mais palatável.

Afiguram-se compreensíveis conjecturas a respeito de que o  resultado dessa momentosa obra cinematográfica pudesse revelar-se, talvez, mais substancioso, se o competente Oliver Stone houvesse enveredado por uma trilha exclusivamente documental. Seja como for, por representar contundente amostra dos descaminhos percorridos pelas grandes potências em suas ousadas manobras geopolíticas de cunho hegemônico e pelos angustiantes problemas de consciência humana suscitados pelos posicionamentos assumidos pelo agente da CIA tomado de desencanto, o filme “Snowden – herói ou traidor” justifica sua ida ao cinema.


Uma jovem romancista chamada Yasmin

Cesar Vanucci

“A mocidade é um relâmpago ao pé da eternidade!)
(Guilherme de Almeida)

Yasmin Rocha Debossan, 14 anos, estudante de nível médio do Colégio Santo Agostinho, madrugou na carreira literária. Seu primeiro romance – “O amor além das estrelas”, 400 páginas, lançamento da “Chiado Editora”, de Portugal – encantou muita gente, mormente no meio jovem. A garota já tem um segundo romance no forno. Seu auspicioso ingresso na lida da criação literária inspirou-nos as considerações abaixo, transmitidas no ato de lançamento do primeiro livro.

Pessoas como Yasmin, com os cintilantes dons de seu percurso de vida primaveril, são apostas certas da vida na construção de um mundo melhor. A jovem talentosa provém de ambiente familiar encharcado de místicas inspirações. Isso favorece em muito a circunstância de saber botar pra fora impulsos generosos de fecundidade criadora singular. Está compenetrada – tudo aponta nessa direção – de que a imaginação governa o mundo, como dizia Napoleão. Trata-se de uma espécie de tocha divina apensa ao espírito do homem, que lhe permite mover-se nas trevas da criação, como propunha Joaquim Nabuco. O mesmo Joaquim Nabuco que nos ensinou a suprema utilidade do poder da imaginação no fortalecimento da inteligência. Essa imaginação, que conforme disse também alguém conhecedor a fundo dos mistérios da vida, é inventora da verdade.

Yasmin constatou desde cedo algo transcendente, de muito valor na contemplação do semblante fantástico da realidade: o espírito humano é que nem o paraquedas. Só funciona aberto. A mensagem transmitida no romance que inaugura um ciclo literário que se prevê radioso – “O amor além das estrelas” - encerra mensagem impregnada de ternura. Tem aparência de uma ermida singela plantada no outeiro de paragem com mágico visual. É enredo composto para ser assimilado por pessoas de sensibilidade lírica. Pessoas que, na contemplação dos prodígios do cosmos, diante das fantásticas revelações já conhecidas e das mais fantásticas revelações a conhecer, aprendem a extrair do fundo da mente e do coração, num céu estrelado em noite com suavidade de oração, uma definitiva exclamação de sabedoria “Uai! Minha Nossa! Não é que eu sou parte de tudo isso? Desse colosso de coisas?”

A graciosa Yasmin é um ponto luminoso no cenário tumultuado do mundo. Quando falamos de pontos luminosos, detectados na paisagem humana de nossos tempos, recordamo-nos de uma fala de Sai Baba, o célebre pensador indiano – não sabemos se proferida antes ou depois de sua passagem pela pátria dos homens –, quando assevera que a vida em seu estágio atual, ao contrário do que a maioria pensa, não é regida por trevas espessas, mas por luminosidade ofuscante. Mas, como? Indagarão, por certo, alguns, expressando surpresa com esse tipo de conceituação da história moderna. E as guerras? E as injustiças sociais? E as desigualdades? Como é que tudo isso entra nessa proposta? O que está havendo – explica, então, o sábio – é uma estrondosa manifestação de insurgência comportamental, onde homens e mulheres de boa vontade, abundância de paz no coração, angustiados com os dramas à volta, impostos pela hipocrisia, pela arrogância, pelos desmandos, pela prepotência, estão a deflagrar reações suscetíveis de colocar em pratos limpos acontecimentos indesejáveis, dispostos a desfazerem as muitas estruturas depressivas que nos regem e retardam o nosso processo evolutivo.

Aumentam, a cada dia, as legiões humanas ávidas por transformações essenciais, que recoloquem os trilhos da vida no rumo do bem estar social. Das lideranças humanas em todos os setores os construtores deste novo cenário esperam que se disponham, em dado momento, a deixarem pra traz os refúgios da hipocrisia e do embuste, em que se encastelam; façam cessar a enganação, abrindo-se para a transparência com luz solar das coisas. É muita gente que se empenha, no mundo todo, em trocar lâmpadas de dez watts dos quartos de despejo onde têm sido lançados, ao longo da história, os detritos da incompetência e das insuficiências humanas, por lâmpadas de trezentos watts que, iluminando amplamente as dependências, localizem, visando elimina-las, as sujeiras ali acumuladas. Esse processo de renovação - ordeiro, pacífico, cheio de retos propósitos, de generosas cogitações, abominando radicalismos, fanatismos, ímpetos incendiários, espírito belicoso, racismo, intolerância, preconceito -, exaltando, por outro lado, os valores democráticos, humanísticos e espirituais, será alicerçado com base na luminosidade projetada da alma popular.

Essa, a luminosidade que conta para escorraçar de vez as ameaças das trevas espessas. A mocidade que, segundo o poeta, representa um relâmpago ao pé da eternidade, mostra-se apta, com pureza de intenções, descontaminada de vícios dilacerantes, a ajudar o mundo a palmilhar caminhos mais condizentes com a dignidade da aventura humana. Nossa Yasmin traz contribuição pessoal para tal empreitada.




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