sexta-feira, 16 de dezembro de 2016


E o Banco do Brasil, hein?

Cesar Vanucci

“Não confio nas pessoas que, a propósito do mar, só me falam de enjoo.”
(Loius Pauwells, em “Carta aberta às pessoas felizes”)

Os resultados auferidos pelo sistema bancário brasileiro, com realce para as cinco maiores instituições do ramo, revelam à saciedade que não existe, hora alguma, cenário desfavorável para o setor, mesmo que a conjuntura econômica esteja sob ameaça de devastadores vendavais. Faça chuva, faça sol, a atmosfera dominante nessa rendosa atividade produtiva é sempre amena, remansosa, tranquila. Ao contrário do que, volta e meia, ocorre noutros segmentos empresariais, a abonada classe dos banqueiros se habituou a não ter que confrontar dissabores e sérios riscos em sua atuação operacional.

Aqui estão números e dados comprobatórios da invejável situação vivida permanentemente pelo complexo bancário brasileiro. O total de ativos das cinco maiores organizações bancárias do país elevou-se, em 30 de junho de 2015, à altitude everestiana de 5,5 trilhões de reais. O índice de aumento em 12 meses foi de 12,6 por cento. O patrimônio líquido do mesmo conjunto de bancos expandiu, no já citado espaço de tempo, em 21,3 por cento.  O valor atingido é de 389,5 bilhões. Só na Caixa Econômica Federal a alta registrada foi de 72,5 por cento.

O incremento das carteiras de crédito correspondentes às cinco maiores instituições bancárias, ainda no mesmo período, foi de 10,9 por cento. O montante em dinheiro chegou a 2,8 trilhões. A expansão da carteira da Caixa Econômica Federal, para exemplificar, foi da ordem de 17,4 por cento. Nos demais bancos a expansão em operações de crédito oscilou entre 6,5 e 15 por cento. De 17,9 por cento, comparativamente com o mesmo período do ano anterior, o lucro líquido registrado no primeiro semestre de 2015 dos cinco bancos melhor posicionados no ranque somou 33,6 bilhões.

A contabilidade do Banco do Brasil acusa lucro de 6 bilhões, com crescimento de 11,5 por cento. Esse resultado – isto está devidamente comprovado - é ainda mais expressivo, desde que considerados os efeitos extraordinários incidentes sobre os lucros provenientes do acordo de associação entre o BB, a ELO Cartões e a Cielo, relativos às operações processadas via pagamento eletrônico, como assinala análise recente do Dieese. Os lucros do Banco do Brasil saltam aí para 8,8 bilhões, “elevaçãozinha tão somente” de 60,3 por cento no confronto entre os primeiros semestres de 2014 e 2015. Cabe acrescer a informação de que, levados em conta os efeitos extraordinários projetados não apenas nos lucros do BB, como também noutro banco da lista dos cinco maiores (Santander), o lucro líquido desse conglomerado de instituições dá um salto de 33,6 bilhões para 37,6 bilhões, acusando incremento de 40,7 por cento no semestre.


Tudo quanto aqui exposto oferece argumentos copiosos e convincentes para classificar como questionável do ponto de vista empresarial, incorreto do ponto de vista político e repudiável sob o prisma social, um anúncio recente da alta direção do Banco do Brasil. Trata-se daquele desconcertante comunicado, transmitido a uma opinião pública obviamente perplexa, acerca da demissão em massa de servidores e do fechamento de centenas de unidades de trabalho em vários pontos do país. Esquecida de que o Banco do Brasil é, por excelência, o banco do Brasil - criado para fomentar desenvolvimento, encorajar empreendimentos, expandir negócios, ajudar o crescimento brasileiro em todos os sentidos, abrir perspectivas de trabalho, consolidar a riqueza nacional -, a direção da instituição resolveu, nesta quadra cabulosa da vida nacional, aderir de chofre, insensatamente, à deletéria onda derrotista que sobrepaira sobre nós e que persevera no impatriótico propósito de encolher o Brasil e desviá-lo da rota de sua vocação histórica.

O estarrecedor anúncio, ao som de clarins, como se fosse feito retumbante, a respeito de se colocar no olho da rua milhares de chefes de família e de se cerrar as portas de centenas de agências, constitui prova de chocante insensibilidade social. Significa sinal de desalento que deixa na alma das ruas a desagradável sensação de haver se originado em domínios tomados por inadmissível complexo de viralatice e por estridente desapreço ao sentimento nacional.

Os setores lúcidos da Nação, alarmados com essa sequência ininterrupta de desatinos praticados contra os interesses brasileiros, inseridos num processo desagregador de negação sistemática de nossas esplêndidas potencialidades e virtualidades, alimentam ainda uma positiva expectativa. A expectativa de que um lampejozinho qualquer da política progressista, com visão de futuro, executada à pamparra no governo que primeiro ocupou o Palácio da Alvorada, melhor dizendo, nos tempos dourados de JK, possa ainda brotar, qualquer momento desses, nas reflexões e estudos processados pela alta administração governamental, de maneira a impedir que o Banco do Brasil, contrariando clamorosamente suas origens e filosofia de trabalho, venha a consumar o amalucado projeto derrotista divulgado.


Acima do teto 
e do bom senso

Cesar Vanucci

“A situação clama por urgente solução.”
(Domingos Justino Pinto, educador, aludindo ao desrespeito à legislação que estipula teto salarial no Serviço Público)

Ninguém, ninguém mesmo nessa nossa Pindorama continental, incluídos os membros das remanescentes tribos da Amazônia ainda a serem contatadas pelos sertanistas da Funai, desconhece seja o senador Renan Calheiros, como diriam os antigos, “flor que se cheire”... Tudo, na conduta de Sua Excelência, projeta o perfil abominável de uma espécie de homens públicos que a sociedade almeja, ardentemente, ver defenestrada da cena política.

Mas, em que pesem todos os elementos desabonadores constantes do currículo do parlamentar, alvo neste preciso momento de polêmica decisão judicial que o afasta temporariamente da presidência do Senado, não há como deixar de reconhecer, em reta e lisa verdade, que os descabidos atos por ele praticados, investigados com todo rigor, não são de molde, jeito maneira, a desfazerem a legitimidade de uma causa de teor moralizante, circunstancialmente e com certo empenho abraçada pelo mencionado cidadão. As reações provocadas pelos malfeitos que lhe são atribuídos, estridentemente divulgados, mostram-se perfeitamente justificáveis, não cabe dúvida. Isso é uma coisa. Outra coisa, bem diferente, é a “indignação” suscitada – nalguns redutos, até superior em intensidade às justas reações levantadas em função dos graves delitos imputados ao parlamentar – pela bandeira que desfraldou contra abusos detectados na política salarial, em determinados setores públicos.

Sua manifesta disposição de colocar em “pratos limpos” essa escandalosa questão do despudorado desrespeito à lei do teto salarial, instituída pelos Poderes da República, não pode ser confundida, em simplória e oportunística interpretação, com uma atitude desafiadora contraposta ao saneador processo de combate à corrupção. Sem essa – a opinião pública vigilante assim recomenda – de misturar alhos com bugalhos. Repita-se, pra que tudo fique bem claro, ganhe a transparência solar exigida: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Tanto quanto as transgressões das quais é acusado o Senador, emaranhado em mais de um processo da Lava Jato, criticado por atos pessoais altamente lesivos ao interesse nacional, os excessos apontados nas folhas de pagamento de servidores, envergando vistosas indumentárias de marajás, envolvidos em maquinações relacionadas com a extrapolação, traduzida às vezes em números atordoantes, do teto legalmente estipulado, precisam ser objeto de severa avaliação e corrigenda. A questão carece ser encarada com máxima seriedade. Inserida na mesma linha dos ditames éticos e propósitos moralizantes perseguidos no tenaz combate movido pela Justiça à corrupção. As boas cabeças pensantes dos Poderes constituídos, as lideranças providas de lucidez da vida nacional não podem mais se furtar ao dever de uma amadurecida reflexão a respeito dessa história. Cabe-lhes a missão de saber extrair dos estudos e diálogos procedidos uma solução urgente para esse caso dos salários embolsados indevidamente por tanta gente e há tanto tempo.

O assunto não pode continuar sendo “empurrado com a barriga”, como se diz no idioma das ruas. As situações inconvenientes já comprovadas não podem ser blindadas por sofismas fajutos. Constitui razão de constrangimento para a comunidade perceber que os problemas das remunerações desproporcionais e ilegais sejam continuamente jogados pra debaixo do tapete. A preocupação no sentido de se definir, vez por todas, a palpitante questão, é parte indissociável do salutar processo de se escoimar da vida nacional cabulosas situações e deploráveis vícios que tanta influência exercem no desequilíbrio das contas públicas e na disseminação da injustiça social.


A corrupção tem várias faces. Colocar no bolso salários indevidos, pagos pelo contribuinte, é indisfarçavelmente, sem choro nem vela, uma delas.

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