sexta-feira, 12 de maio de 2017

XX Congresso Brasileiro de Ufologia



Por falar em buzinação


Cesar Vanucci

“Todo buzinador inveterado carrega dentro de si 
uma alma gentil ávida por mudança de sexo.”
(Professor Adamastor Abaeté)


Um incidente banal no cada dia mais frenético e estressante trânsito da Capital que, por pouco, não fosse providencial intervenção da turma do deixa disso, não desaguou em cena de pugilato, recordou-me a figura veneranda do professor Adamastor. O bafafá citado nasceu do uso exacerbado da buzina. Foi o que inspirou a reprodução do artigo abaixo, de duas décadas atrás.

Na tevê, são apontados os ruídos mais desagradáveis. Um deles: o estrondo de britadeira rasgando asfalto. Choro de bebê na calada da noite entra na lista. Riscar com as unhas a superfície verde das lousas antigamente conhecidas por “quadros-negros” é outro som indicado como capaz de quebrar o sossego público, no grau supliciante mais extremado.

Essa relação de barulhos incomodativos parece insuficiente. Não foram incluídas, pelo menos, três outras práticas atentatórias - quanto as que mais o sejam - aos bons costumes. Suscetíveis, por esse motivo, de atraírem sanções, na forma de degredo, a escolher entre o charme de Cabul e a hospitalidade de Bagdá. Primeira: as batidas belicosas do róqui bate-estaca. Segunda: o ruído arrepiante, de dar calafrio até em múmia alpina, de dedo molhado deslizando no espelho. Terceira: a enlouquecedora buzinação que motoristas desvairados, a pretexto nenhum, aprontam no alucinante tráfego urbano.

O buzinaço remete à figura do professor Adamastor, dono de insólita tese acerca dos riscos à saúde decorrentes do emprego descontrolado da buzina. Antes de falar da tese, contemos algo sobre o autor. Adamastor, natural de Catas Altas da Noruega, é sociólogo, com mestrado em Kuala Lumpur, onde residiu à época em que o pai exercia função diplomática. Acompanhando o genitor em sua peregrinação profissional, morou em dezenas de países. Aprendeu idiomas, entre eles o mandarim. Em momento de desencanto, ruptura de casamento (quinto de longa série) com uma atriz croata, alistou-se na Legião Estrangeira, indo servir no Saara tunisiano. Da convivência com culturas do oriente nasceu provavelmente sua inclinação para vivências ocultistas. Prestou serviços como escafandrista em Luxor. Foi pintor de quadros na Riviera. Atuou, ainda, como sertanista, no Roncador. Em Belô, onde residiu por alguns anos, ali por volta do sétimo casório, andou ministrando aulas de física quântica e esperanto. Cometeu livro de versos e se envolveu na preparação de um filme nunca rodado. Sumiu, ao depois, do mapa. Uns dizem que se recolheu a monastério na Capadócia. Outros garantem que anda por aqui mesmo, curtindo as bem-aventuranças ecológicas de uma próspera quinta recebida como herança, lá nas bandas de São José do Mantimento.

Chegamos, finalmente, à tese do polimorfo ensaísta. Juntando conceitos de gente respeitada em estudos de comportamento com pesquisas e intuições pessoais, o homem sustenta, com ardorosa convicção, a ideia de que a buzinação é consequência fatal de insopitável anseio, do desalmado buzinador, de que se possa operar, algum dia, uma radical mudança sexual em sua anatomia. Até mesmo, pegando ao pé da letra o significado médico do verbo, recorrendo aos préstimos profissionais daquele cirurgião do Paquistão que adquiriu sólida fama mundial em operações transexuais.

O professor entrega copiosa argumentação. Casos de buzinadores inveterados, por ele próprio, exaustivamente, acompanhados. Um deles: rapaz de família abastada, morador do Carmo-Sion. Dono de frota de carros, marido de socialites. De repente, não mais que de repente, chutou tudo pra corner. Mandou-se para Paris, depois de apoquentar, anos a fio, os ouvidos alheios e a tranquilidade das ruas com diabólicas partituras de buzina. Buzinava sem parar. Saindo e chegando. Pra chamar a atenção de alguém. Nos cruzamentos e sinais, exigindo passagem. Comemorando sempre não se sabe bem o quê. Lá onde reside ocupa, prazerosamente, o cargo de presidente do Sindicato dos Travestis da praça Pigale. Mais um caso: o de uma jovem do Calafate. Cumpria, também exemplarmente, por onde circulava, a sina inapelável da buzinadora frenética. O berro emitido era do estribilho do hino do clube de sua paixão. Largou amigos e familiares. Foi bater com os costados em Manila. Convolou núpcias com uma halterofilista filipina, de origem cigana. Participa, na atualidade, de disputas de sumô, enfrentando galhardamente avantajados especialistas japoneses.

A tese, damas e cavalheiros um tanto quanto chegados à buzinação imoderada, é da responsabilidade exclusiva do Adamastor. Sua, a frase prefacial destas maltraçadas.
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Atenção para os 
ponteiros do “Relógio”


Cesar Vanucci

“Estamos mais próximos da meia noite”.
(Recente relatório dos cientistas responsáveis pelo “Bulletim of Atomic Scientists” revela que em 2017 cresceram os riscos de uma catástrofe global)

Os ponteiros do “Relógio do Juízo final” apontam, neste momento, que faltam apenas dois minutos e meio para a meia noite dos temores universais. O marcador foi movido 30 segundos para a frente indoutrodia em função do aumento das tensões que toldam o cenário internacional.

Batizado com a denominação científica de “relógio Doomsday”, esse “dispositivo” representa uma sombria metáfora. Foi criado em 1947 por um grupo de renomados cientistas ligados às pesquisas da energia nuclear. Eles se declararam muitíssimo preocupados com os rumos do planeta. O grupo foi acrescido, com o correr dos anos, de outros expoentes do mundo da ciência, ambientalistas e físicos categorizados, tomando a si a responsabilidade de ajustar periodicamente o marcador do “Relógio” às circunstâncias derivadas das posturas humanas globais. Do colegiado incumbido dessas avaliações periódicas fazem parte nada mais, nada menos, que 15 agraciados com o Nobel.

Nos últimos anos, os ponteiros do “Relógio do Juízo Final” permaneceram fixados em 3 minutos antes do horário fatídico. Mas em análise recente, o colegiado de cientistas chegou à aterrorizante conclusão de que os perigos de uma catástrofe generalizada são, em 2017, maiores do que em anos precedentes. Veio daí a decisão de mover em 30 segundos os marcadores desse “relógio simbólico”.

Quando da instituição desse processo, os cientistas tornaram claro que os objetivos da empreitada seriam alertar às lideranças dos países, em particular, e à sociedade humana, em geral, sobre os riscos que rondavam o planeta em razão dos avanços, como instrumento de destruição, da tecnologia nuclear. Na mencionada época (1948), o relógio marcava 7 minutos para a meia noite – ou seja para o final dos tempos. Já dois anos depois os ponteiros apontavam para as 23 horas e 57 minutos. Quando as experiências das grandes potências com arma de destruição em massa “evoluíram” no sentido da fabricação de bombas de hidrogênio – de intensidade mortífera infinitamente superior aos artefatos de fissão nuclear do tipo lançado sobre Nagasaki e Hiroshima –, o “Relógio do Juízo Final” foi adiantado em 5 minutos. Pela assustadora perspectiva ficaram, então, restando apenas dois minutos para o soar das “trombetas apocalípticas”. Temia-se muito pelo acirramento dos conflitos, até que em 1963, com a assinatura (sob muitos aspectos de “mentirinha”, ou se preferirem, de colossal empulhação) do tal “Tratado de interdição dos testes nucleares”, os marcadores recuaram. Fixaram-se nas 23 horas e 48 minutos.

A denominada “guerra fria”, elevando a temperatura do “termômetro” utilizado para medir as tensões, provocou o avanço dos ponteiros para as 23 horas e 57 minutos. Nos anos 90, houve outro recuo. Aconteceu com as mudanças na Rússia provocadas pela “Perestroika” e “Glasnost” e pela queda do famigerado “Muro da Vergonha”. O relógio passou a marcar 23 horas e 43 minutos. O marcador voltou a movimentar-se em 2012, para 23 horas e 53 minutos. Foi no momento em que Paquistão, Índia e Israel ingressaram, apesar da existência de um “Tratado de não proliferação de armas nucleares”, no assim denominado “Clube atômico”. No ano de 2007, os cientistas responsáveis pelas análises concernentes aos atos insanos praticados na convivência internacional decidiram incluir outros tipos de risco nas avaliações, dando ênfase às alterações climáticas decorrentes do aquecimento global.

Eis-nos, neste exato instante, de repente, diante de um novo ajuste dos ponteiros, de significação funesta. Há mais de 5 décadas que não nos encontrávamos em situação tão crítica. As explicações dos cientistas mostram aquilo que os observadores leigos dos eventos no cenário mundial constatam sem maiores dificuldades. As lideranças vêm falhando sistematicamente na solução dos problemas que ameaçam a sociedade. O relatório mais recente do “Bulletim of Atomic Scientists”, elaborado pelos guardiães do “Relógio”, atribui o aumento dos perigos globais às posturas e declarações de Donald Trump; à disseminação da xenofobia e radicalismos; às incertezas sobre os programas nucleares de vários países, com realce obviamente para a Coréia do Norte; ao aumento das ameaças à cibersegurança e à proliferação da “desinformação caótica” pela internet, naturalmente entre outros fatores. Segundo os especialistas, afigura-se de vital importância que os governantes usem do bom-senso para promover planos imediatos com vistas a desativar as “bombas relógios” espalhadas por aí. Ou que, na ausência de posições correspondentes aos seus deveres, os próprios cidadãos se organizem e assumam as rédeas das decisões vitais, de modo a concorrer para que os marcadores do relógio retrocedam a limites menos temerários.


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