sexta-feira, 9 de junho de 2017

Prova definitiva

Cesar Vanucci

“Perdão foi feito pra gente pedir.”
(Verso do cancioneiro popular brasileiro)

Demorou, mas aconteceu. Tutu foi pilhado em vexatório flagrante. Avisos de amigos não faltaram. Tantas as traquinagens extraconjugais praticadas que não ficava nada difícil prever a cena: o teto desabando sobre sua cabeça. Conto como sucedeu. Não sem antes relatar meia dúzia de três ou quatro coisas essenciais para um correto entendimento.

Amigo de infância, confidente do personagem, o cirurgião dentista Isaltino Joaquim, Quinzinho, definiu com exatidão o perfil de Tutu: “Boa praça, mas com defeito de nascença incorrigível, vive se enroscando com rabo de saia!” Tutu é o apelido de Tubertino do Equador. Proprietário de um armazém de secos e molhados na próspera localidade de Capão da Onça, adquiriu o cognome, dado pela devotada esposa Etelvina, à época do namoro.

Não havia um único vivente na cidade que não desse notícias de suas travessuras. Dona Etelvina, justamente ela, a única honrosa exceção. A respeito da cara metade é bom saber que ela, pelo trato lhano e dedicação aos afazeres do lar, desfrutou vida afora de especial simpatia na comunidade. Presença obrigatória na lista anual das “dez mais”, organizada pela festejada colunista Ethel, do semanário local, foi sempre vista pelo pessoal, repetindo palavras publicadas na coluna social, como “dama de acrisoladas virtudes”, “de excelsos e peregrinos dotes”.

Anos a fio, a relação do distinto casal permaneceu imperturbada. De um lado, o “desconfiômetro” de Etelvina totalmente desligado; de outro, o Tutu a aprontar umas e outras. Partícipe ativo de vesperais e noitadas de farra, até noivar o sujeito andou noivando. Escapuliu da encrenca graças a providencial ajuda do Quinzinho. A duras penas, ele conseguiu desfazer um “acerto de contas” articulado por parentes da “noiva” ludibriada pelo “dom juan do empório”...

Municiado de álibis engenhosos, Tutu reduzia a subnitrato de pó de mico  murmurações que ameaçassem quebrar a tranquilidade doméstica. Alertava sempre a esposa: “Sacumé, minha santa, pessoas como nós são alvo dos invejosos.”

Quando a cunhada surgiu com a história de que ele fora visto de braço dado com uma moça numa clínica ginecológica, Tutu safou-se do rolo com a mesma desenvoltura verbal volta e meia registrada em performances de traquejados próceres políticos surpreendidos com a boca na botija. Arrancando de Etelvina o compromisso de conservar em hermético sigilo a “confidência”, detalhou “tim-tim por tim-tim o que realmente se passou”. Solidário com fraternal companheiro, por “coincidência” o Quinzinho, enfrentando destemidamente o risco de colocar a reputação pessoal em jogo, se dispusera a acompanhar a namoradinha do mesmo a consultório médico pra teste de gravidez, que felizmente deu negativo. O companheiro, impactado pelo problema, sofreu colapso nervoso, vendo-se forçado a procurar ajuda numa casa de saúde...

Estamos pois cientes, a esta altura, que os estratagemas empregados por Tutu surtiram com habitualidade os efeitos desejados no sentido de neutralizar uma que outra desconfiança irrompida, de quando em vez, no plácido semblante de Etelvina.

O mundo de Tutu ruiu numa madrugada fatídica. O dito cujo chegou em casa com o galo já cantando no terreiro. Largou as vestes numa cadeira, botou pijama, calçou chinelo e dirigiu-se à cozinha para tomar um copo de leite. Momentos depois, Etelvina ajeitou-se ao seu lado. Com voz firme, resvalando a irritação, passou a interrogá-lo. Onde estivera? Por que o cheiro de álcool que estava impregnando a casa inteira? Por que, na roupa amarfanhada, tantos fios de cabelo feminino? Respostas engatilhadas na ponta da língua, Tutu apelou para a lábia de sempre no enfrentamento da inquirição. - “Sacumé? Houve festa de despedida de funcionário do empório por motivo de aposentadoria. Rolou bebida. Copo de cerveja, numa brincadeira de muito mau gosto, foi derramado sobre o paletó.” Quanto aos fios de cabelo, a “explicação” oferecida desconcertou Etelvina: tratava-se “apenas” de linhas de algodão que ficaram agregadas à roupa durante a visita feita, naquela tarde, à fábrica de fiação e tecelagem.

Ouvindo com toda atenção as desculpas do conjuge, Etelvina disparou a pergunta derradeira: “Aceito o que tá dizendo, mas queira agora, por favor, esclarecer como essas marcas de batom foram parar na sua ceroula? E não me venha com o papo furado de que são respingos de tinta vermelha de lata que caiu da prateleira...”

O chão sob os pés de Tubertino abriu-se em colossal fenda. A cor rosada do rosto foi substituída por palidez cinzenta. A desculpa esfarrapada em gestação engastalhou-se na garganta. Sacudido por lampejo de sensatez, prostrou-se de joelhos, mãos unidas em sinal de contrição, exclamando: - Mulher, pequei! Peço perdão!

Isso mesmo: batom em ceroula é fogo. Prova arrasadora, irretorquível, definitiva.

Será que não é, então, o caso de manjados personagens políticos da praça, ruidosamente flagrados por conta de provas também arrasadoras, irretorquíveis, definitivas, imitarem o gesto de Tutu, tornando pública na frente das câmeras cabal confissão dos malfeitos praticados? Não é improvável que as pessoas, tal qual dona Etelvina, se disponham condescendentemente a perdoá-los, mesmo que não se revelem propensas, ao contrário da crédula criatura, a aceitar eventual compromisso das ilustres figuras de não virem, jamais, em tempo algum, a reincidir nas bandalheiras intensa e prazerosamente executadas.


Pluralidade de 
mundos habitados

Cesar Vanucci

“O assunto óvni deve ser tratado com seriedade.”
(Jacques Patenet, porta-voz do governo francês)

A admissão, pouco tempo atrás, pelo governo francês, em caráter oficial, da existência de vida inteligente em outros pontos do infindável espaço cósmico pegou de surpresa, de algum modo, envolvendo numa atmosfera de momentâneo alumbramento muita gente. Mas para uma parcela numericamente expressiva de cidadãos, comprometidos não é de hoje com o estudo da tese da pluralidade de mundos habitados, a importante revelação não teve sabor de ineditismo. Na verdade, tais setores aceitam de há muito, com convicção, a teoria de que o universo abriga civilizações avançadas detentoras de tecnologias não compreensíveis à luz dos conhecimentos pacificamente aceitos.  Essa certeza encontra respaldo no acúmulo considerável de evidências e informações que nem sempre alcançam o domínio público, levantadas em todos os cantos do mundo a respeito das mirabolantes evoluções, em nossos céus, dos chamados objetos voadores não identificados (óvnis), também conhecidos por “discos-voadores”. Não deixa de ser oportuno o registro de que essa revelação francesa não foi divulgada com o estrondo midiático de que se faz merecedora, sabe-se lá por que cargas d’água ou sibilino jogo de conveniências.

As autoridades francesas, na citada manifestação, ao abrirem arquivos catalogados como segredo de Estado afetos à segurança nacional, trouxeram para o campo real algo inimaginável tempos atrás. São de Jacques Patenet, diretor do “Grupo de Estudos e Informações de Fenômenos Aeroespaciais Não-identificados”, as palavras seguintes: “Estamos, felizmente, rompendo as barreiras jurídicas e também o receio que nos impedia de abrir os arquivos. Queremos mostrar que o assunto merece ser tratado com seriedade.” Para esse porta-voz do governo francês, as provas reunidas pelo órgão são de tal monta que permanecer em silêncio equivale a cometer ato de “irresponsabilidade científica.” A ênfase na abordagem dessa temática torna o posicionamento francês muito especial. Rompeu-se oficialmente a cortina de silêncio adotada por aí afora. Não há como, diante de tão sonora constatação, insistir na ignorância da realidade, a exemplo do que já ocorreu mais de uma vez no passado. Há cerca de 30 anos, por exemplo, o próprio Ministério da Defesa da França liberou, surpreendentemente, sugestivas informações sobre óvnis coletadas por pesquisadores conceituados. Mas deixou o assunto cair, pouco depois, suspeitosamente, em ponto morto. Reproduziu, de certa maneira, o comportamento habitualmente adotado há décadas pelos Estados Unidos.

Aliás, essa política de escamoteação dos fatos, a bem da verdade, não é praticada apenas pelos estadunidenses. Russos, ingleses, chineses, alemães e outros mais também fingem ignorar “que há algo no ar além dos aviões de carreira”, como costumava dizer, noutro contexto, o Barão de Itararé. Registre-se, a propósito, que as frequentes revelações de astronautas americanos admitindo a existência de óvnis têm sido reforçadas pelos seus companheiros de jornada espacial da Rússia.

Outra informação de mexer com a mufa das pessoas: coincidindo com a declaração francesa reconhecendo a existência dos óvnis, ganharam realce na imprensa as alegações atribuídas a um físico nuclear de nome Robert Lazar. Ele garante haver prestado serviços, nos anos 80, numa base secreta estadunidense no deserto de Nevada, conhecida por “Área 51”. Ali, segundo o físico, acha-se montado um complexo subterrâneo que, em passado recente, teria funcionado como hangar para naves interplanetárias. O que Lazar relata é impressionante. Vasculhando documentos secretos, descobriu que a “Área 51” era frequentada por humanoides, supostamente originários da galáxia Zeta Reticuli. No ano de 1979, teria ocorrido no local incidente gravíssimo, do qual resultou a morte, em confronto belicoso com os alienígenas, de alguns cientistas e militares que atuavam na base.

O atordoante depoimento, que lembra historieta de quadrinhos de Buck Rogers, se junta a um sem número de revelações, dadas como inverossímeis, que a opinião pública não tem ainda, no momento, como confirmar ou negar, face ao silêncio tumular que recobre costumeiramente tudo quanto diga respeito, nos diferentes países, aos avistamentos de óvnis.

É interessante relembrar ainda que Jimmy Carter, ao lançar-se candidato a Presidente dos EUA, confessou ter sido testemunha ocular de um contato de terceiro grau e prometeu abrir os arquivos das investigações estadunidenses sobre os “discos”. Ficou na promessa. Calou-se, “prudentemente” por razões com toda certeza supervenientes...

Por derradeiro, é relevante recordar que, no governo de JK (que baita falta ele faz ao Brasil atormentado destes tempos!), houve a liberação oficial de fotos de um óvni sobrevoando navios da Marinha brasileira nas imediações da Ilha da Trindade, em águas territoriais capixabas.




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