Convite aos amigos
Falas
merecedoras de reflexão
Cesar Vanucci
“Antecipar
eleições seria gesto de grandeza.”
(Ex-Presidente
Fernando Henrique Cardoso)
Numa hora sacudida
por atroantes incertezas, soa compreensível e, mais do que isso, desejável e
positiva, a disposição das cabeças pensantes com capacidade de influenciar
correntes de opinião em trazerem a público contribuições que ajudem a clarear o
trajeto a percorrer na busca de soluções para a encalacrada em que a Nação se
viu metida, a contragosto. Adquirem razoável ressonância, sob tal enfoque,
manifestações recentemente expendidas por algumas figuras proeminentes da vida
pública. Casos, citando exemplos, do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e
do ex-Chanceler Celso Amorin.
Os
pronunciamentos de ambos, mesmo admitida a hipótese de que não suscitem, num que
outro item, apoio em setores da opinião pública, fazem jus a reflexões neste
momento em que tanta gente se acha empenhada em viabilizar estratégias que
ajudem a superar a crise.
Para FHC, antecipar
eleições significa “gesto de grandeza”. Confessando que sua percepção sobre a
situação política sofreu “abalos fortes”, diz haver mudado de opinião no
tocante à inconveniência de convocação de eleições antes do término do mandato
atribuído a Michel Temer.
Pertencem-lhe
as afirmações que se seguem: “A ordem vigente é legal e constitucional (daí ter
mencionado como “golpe” uma antecipação eleitoral), mas não havendo aceitação
generalizada de sua validade, ou há um gesto de grandeza de quem legalmente
detém o poder pedindo a antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de
tal forma que as ruas pedirão a ruptura das regras vigentes exigindo a
antecipação do voto”. O ex-Presidente defende que eventual antecipação de
eleições seja precedida de mudanças na legislação. “Novas eleições requerem
emendas constitucionais que, a meu ver, deveriam ser antecedidas por mudanças
na legislação eleitoral”, salienta.
Sustentando
faltar legitimidade a Temer para governar e que o País vive um tipo de “anomia”
- ou seja, falta de regras, desorganização -, acrescenta que a proposta de
antecipar o pleito ficaria mais razoável com a anuência do atual ocupante do
Planalto.
Seja enfatizado
que o depoimento de FHC vem a lume após a decisão do PSDB em permanecer no
governo. Deixando exposto um racha na legenda, Cardoso anota ainda: “Se tudo
continuar como está, com a desconstrução contínua da autoridade, pior ainda se
houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como
possa o PSDB continuar no governo.” (...) “Preferiria atravessar a pinguela,
mas se ela continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado e devolver
a legitimação da ordem à soberania popular.”
O ex-Chanceler
Celso Amorin, a seu turno, igualmente defendendo eleições diretas antecipadas, registra
que o governo Temer “tem os dias contados”. Isso já não constitui motivo de
dúvida para ninguém. Preocupado com as regras que balizariam uma campanha
eleitoral imediata, reclama urgente mudança no sistema eleitoral. Pontua: “Não
basta que haja eleições gerais (...) é preciso que sejam estabelecidas novas
regras que garantam essencialmente duas coisas: 1. O fortalecimento dos partidos
políticos com programas claramente definidos. 2. A diminuição do peso do poder
econômico no processo eleitoral. A proibição de financiamento por empresas foi
um passo salutar, que deveria ser completado pelo financiamento público
exclusivo.”
Enfatizando que
as eleições brasileiras estão entre as mais dispendiosas do mundo, sublinha a necessidade
de substituir o sistema atual, proporcional uninominal, “em que os candidatos
têm de vencer não só os opositores, mas também os correligionários em distritos
eleitorais imensos, por outro que enfatize a afiliação partidária do
candidato.” Segundo ele, isso poderá ser obtido por voto em lista fechada, ou
pelo sistema distrital misto.
Amorin
considera que o “x” da questão reside em se obter dos atuais parlamentares
anuência para a mudança das regras. Ao tocar nesse ponto, sugere, em proposta
inédita, que as duas principais lideranças do País, referindo-se aos
ex-Presidentes FHC e Lula, se unam com o objetivo de facilitar as transformações.
Destaca: “Seria uma aliança pontual com o objetivo exclusivo de sanear o
sistema político. Depois, cada um seguirá o seu caminho e o povo brasileiro
decidiria pelo que achasse melhor. Organizações da sociedade civil, como a
Comissão Justiça e Paz, poderiam atuar como facilitadoras desse processo, que
deveria resultar também em medidas que garantissem uma efetiva neutralidade da
grande mídia nas eleições.”
Relatos
impactantes
Cesar Vanucci
“Mesmo dando
desconto por algum provável
exagero, as
revelações são bastante contundentes.”
(Antônio Luiz
da Costa, educador)
Não há como
ignorar a pertinência de algumas objeções jurídicas a certos métodos empregados
na “Lava Jato” com vistas a estimular a assim chamada “delação premiada”. Mas, nada
obstante, é forçoso admitir que esse instrumento investigatório vem se
mostrando de razoável eficiência na coleta de dados sobre as nauseantes
praticas clandestinas que andaram lesando de forma clamorosa sagrados
interesses da Nação.
De outra parte,
cabe também, em sã consciência, alertar para o risco de que as informações
trazidas a lume contenham exageros e incorreções. Os denunciantes – não nos
esqueçamos disso - são ativos membros do consórcio mafioso responsável pelas
mutretagens denunciadas. Faz sentido imaginar que alguns tópicos dos
depoimentos reflitam vontade pessoal muito forte de alterar seu protagonismo no
enredo, na tentativa de atenuar o grau de responsabilidade quanto aos malfeitos.
O espantoso
volume de escabrosos detalhes sobre as maracutaia promovidas, mesmo na hipótese
de se fazer “descontos” nas revelações transmitidas em Juízo, causa-nos, todavia,
a todos, mal-estar e desconforto duradouros.
Tomemos, por
exemplo, as narrativas recentes de Joesley Batista, um dos empresários que
alimentou, com insaciável ambição, o sistema de corrupção que se quer
desbaratar. A descrição que faz do conluio estabelecido entre agentes públicos
inidôneos e elementos inescrupulosos infiltrados em atividades de produção
ligadas a obras governamentais, é de deixar estarrecido qualquer mortal.
Ainda que a
transcrição de parte de suas declarações nos cause, obviamente, enorme
desprazer, entendemos que registrá-las concorre para fortalecer a disposição
popular de criar, com novas ideias e ações, mecanismos que nos ajudem a sair da
encalacrada em que, a contragosto, fomos metidos pelo desatino administrativo e
insensibilidade social de lideranças incompetentes.
As palavras
seguintes pertencem ao mencionado Joesley Batista: “Há político que acredita
que o simples cargo, que ele está ocupando, já o habilita a você ficar devendo
favores a ele, e (ainda) pedir algo a você de maneira que seja quase uma
obrigação você fazer os favores.” (...)
Referindo-se a
grupos com os quais manteve espúrias negociações, o empresário salienta, entre
outras coisas, o seguinte: “Há dez, 15 anos houve uma proliferação de
organizações criminosas no país.” (...) “Nós participamos e tivemos de
financiar muitas delas.” (...) “O Lula e o PT institucionalizaram a corrupção.
Houve essa criação de núcleos, com divisão de tarefas entre os integrantes.”
(...) “O resultado é que hoje o Estado brasileiro está dominado por
organizações criminosas. O modelo do PT foi reproduzido por outros partidos.”
(...)
Apesar de haver
citado o ex-presidente, o empresário confessa que “nunca teve conversa não
republicana com Lula” (...) “Não estou protegendo ninguém, mas só posso falar
do que fiz e do que posso provar. Não estou entregando pessoas. Entreguei
provas aos procuradores. E o PT tinha o maior saldo de propina. O que posso
fazer se a interlocução era com o Guido Mantega?” (...)
“Conheci Temer,
e esse negócio de dinheiro para campanha aconteceu logo no iniciozinho. O Temer
não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso
com dinheiro.” (...) “É o grupo deles (do Eduardo Cunha e companhia). Quem não
está preso, está hoje no Planalto. Essa turma é muito perigosa. Não pode brigar
com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar
a guarda, eles não têm limites. Então, meu convívio com eles foi sempre os
mantendo a meia distância: nem deixando eles aproximarem demais, nem deixando
eles longe demais, para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que
esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida.” (...) “O
mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque
para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele
era o fortalecimento do grupo da Câmara (PMDB e aliados) e do próprio Michel.
Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.” (...) “A
pessoa a qual o Eduardo (Cunha) se referia como seu superior hierárquico sempre
foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver
sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer.” (...)
“Lúcio (Funaro) virava para mim e dizia: ‘Tem um requerimento numa CPI para te
convocar. Me dá R$ 1 milhão que eu barro’. Mas a gente ia ver e descobria que
era algum deputado a mando dele que estava fazendo. (...) Tinha que tomar
cuidado. Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país.
Liderada pelo presidente Temer.”
Toda essa
história, visto está, traz muito desassossego. O anseio da sociedade é de que
as investigações relativas ao descomunal problema sejam concluídas com
presteza. Tudo, naturalmente, em rigorosa sintonia com os preceitos
republicanos e democráticos. E de forma a remover os obstáculos que, neste
momento, tanto afetam o desenvolvimento econômico e social deste País de tão
ricas potencialidades.
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