Cesar Vanucci
“Sejamos ousados em nossas propostas.”
(Olavo Machado Junior, presidente da Fiemg)
Não existe, neste País tropical, de dimensões
continentais, abençoado por Deus e bonito por natureza, vivalma que não se
confesse aturdida com o rumo tomado pelos acontecimentos. E que, também, não se
quede a sonhar, nesta hora amarga, com urgentes e viscerais transformações nos
confusos e, até certo ponto nauseantes, domínios políticos e administrativos.
Pode ser, no tocante às metodologias a empregar, que
as vozes das ruas divirjam. Mas é fácil perceber convergência rigorosa,
denotando incomum unanimidade, no reconhecimento de que, do jeito que andam, as
coisas não podem mais continuar.
Tão ruidosa constatação remete inescapavelmente à
necessidade de se promover um novo pacto nacional. Existe expectativa
generalizada quanto ao fato de que das cabeças pensantes mais lúcidas, nas
esferas do labor, da inteligência e da criatividade, possam brotar o quanto
antes propostas factíveis objetivando a almejada recomposição de cenários. Nos
anseios populares concebe-se também que uma contribuição valiosa possa ser dada,
sobre o que fazer no sentido de se debelar a crise, por organizações como a
CNBB, a OAB e outras tantas, representativas do sentimento nacional. A
esperança reinante é de que uma poderosa conjugação de vontades se capacite a
influenciar decisões relevantes, rigorosamente harmonizadas – seja sublinhado –
com os postulados republicanos e democráticos.
Mas de que reforma está mesmo a se cogitar no alarido
popular? Fique claro não se tratar de alguma reforma qualquer demagogicamente forjada
com o inocultável e maroto objetivo de não se fazer reforma alguma. Um pacto
com a extensão e profundidade desejadas pela sociedade implica, iniludivelmente,
em alterações de natureza política e administrativa impossíveis de serem
implementadas simplesmente na base de PECs e de votações casuísticas e de falsa
premência sugeridas por boquirrotos políticos desacreditados e deslegitimados.
A recolocação do País nas trilhas do desenvolvimento econômico e social reclama
a presença, à frente de seus destinos, de lideranças confiáveis, de personagens
não emaranhados em chocantes suspeitas de conluio com esquemas de malversação
dos recursos públicos. As penosas circunstâncias políticas enfrentadas pela
Nação amparam teses arrojadas. A antecipação de eleições e a convocação de uma
Assembleia Constituinte são apontadas como soluções razoáveis para essa crise
sem fim.
A ideia de uma Constituinte, com agenda centrada
exclusivamente no debate das reformas de base propícias a geração de riquezas
e, ipso facto, a ampliação dos níveis de bem-estar social da população, vem
sendo defendida por lideranças qualificadas. É o caso, por exemplo, do
presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, Olavo Machado Junior, e,
também, noutro contexto, dos juristas Modesto Carvalhosa, José Carlos Dias e
Flávio Bierrenbach. Acentuando que sua proposta se inspira no compromisso com
valores éticos e com o Brasil, o dirigente classista mineiro defende que a
Constituinte exclusiva seja composta de pessoas impedidas de exercerem cargos
públicos ou eletivos por pelo menos 10 anos. Ressalva que essa exigência
constitui salvaguarda necessária contra o corporativismo, o fisiologismo e a
demagogia. Admite “que não podemos nos omitir, deixar de tentar”, pede “sejamos
ousados em nossas propostas” (...) e que “jamais abdiquemos de nossos sonhos e
de nossas utopias.”
A antecipação de eleições e a convocação de uma Constituinte
são teses merecedoras de atenção e apoio. O que se preconiza criará chances
para reformas de caráter estrutural. Garantirá, com certeza, indispensáveis reformulações
partidárias, tributárias, judiciárias, previdenciárias e outras tantas. Podemos
vislumbrar, a partir daí, o surgimento das condições ideais para a retomada do
crescimento econômico, com os desdobramentos sociais dele derivados. E, também,
uma reforma da Previdência a altura dos anseios comunitários. Reforma verdadeiramente
escorada em cálculos atuariais à prova de fajutas manipulações oficiais. Reforma
que não se concentre em açodada retirada de benefícios de assalariados de baixa
renda e que tenha a coragem de confrontar todos os sistemas previdenciários de
cunho corporativista existentes, de modo a que se possa conceber, a médio e
longo prazos, a estruturação de um regime previdenciário único pra todos os
brasileiros. Com a eliminação, obviamente, de abusos clamorosos, como os da
situação de milhares de agentes públicos beneficiados com remunerações infinitamente
acima do teto oficial solenemente
instituído pelos Poderes e por eles também oficial e solenemente desrespeitado.
Relatos impactantes
Cesar Vanucci
“Mesmo dando desconto por algum provável
exagero, as revelações são bastante contundentes.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)
Não há como ignorar a pertinência de algumas objeções
jurídicas a certos métodos empregados na “Lava Jato” com vistas a estimular a
assim chamada “delação premiada”. Mas, nada obstante, é forçoso admitir que
esse instrumento investigatório vem se mostrando de razoável eficiência na
coleta de dados sobre as nauseantes praticas clandestinas que andaram lesando
de forma clamorosa sagrados interesses da Nação.
De outra parte, cabe também, em sã consciência,
alertar para o risco de que as informações trazidas a lume contenham exageros e
incorreções. Os denunciantes – não nos esqueçamos disso - são ativos membros do
consórcio mafioso responsável pelas mutretagens denunciadas. Faz sentido
imaginar que alguns tópicos dos depoimentos reflitam vontade pessoal muito
forte de alterar seu protagonismo no enredo, na tentativa de atenuar o grau de
responsabilidade quanto aos malfeitos.
O espantoso volume de escabrosos detalhes sobre as maracutaia
promovidas, mesmo na hipótese de se fazer “descontos” nas revelações transmitidas
em Juízo, causa-nos, todavia, a todos, mal-estar e desconforto duradouros.
Tomemos, por exemplo, as narrativas recentes de
Joesley Batista, um dos empresários que alimentou, com insaciável ambição, o
sistema de corrupção que se quer desbaratar. A descrição que faz do conluio estabelecido
entre agentes públicos inidôneos e elementos inescrupulosos infiltrados em
atividades de produção ligadas a obras governamentais, é de deixar estarrecido
qualquer mortal.
Ainda que a transcrição de parte de suas declarações
nos cause, obviamente, enorme desprazer, entendemos que registrá-las concorre
para fortalecer a disposição popular de criar, com novas ideias e ações,
mecanismos que nos ajudem a sair da encalacrada em que, a contragosto, fomos
metidos pelo desatino administrativo e insensibilidade social de lideranças
incompetentes.
As palavras seguintes pertencem ao mencionado Joesley
Batista: “Há político que acredita que o simples cargo, que ele está ocupando,
já o habilita a você ficar devendo favores a ele, e (ainda) pedir algo a você
de maneira que seja quase uma obrigação você fazer os favores.” (...)
Referindo-se a grupos com os quais manteve espúrias
negociações, o empresário salienta, entre outras coisas, o seguinte: “Há dez,
15 anos houve uma proliferação de organizações criminosas no país.” (...) “Nós
participamos e tivemos de financiar muitas delas.” (...) “O Lula e o PT
institucionalizaram a corrupção. Houve essa criação de núcleos, com divisão de
tarefas entre os integrantes.” (...) “O resultado é que hoje o Estado
brasileiro está dominado por organizações criminosas. O modelo do PT foi
reproduzido por outros partidos.” (...)
Apesar de haver citado o ex-presidente, o empresário confessa
que “nunca teve conversa não republicana com Lula” (...) “Não estou protegendo
ninguém, mas só posso falar do que fiz e do que posso provar. Não estou
entregando pessoas. Entreguei provas aos procuradores. E o PT tinha o maior
saldo de propina. O que posso fazer se a interlocução era com o Guido Mantega?”
(...)
“Conheci Temer, e esse negócio de dinheiro para
campanha aconteceu logo no iniciozinho. O Temer não tem muita cerimônia para
tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro.” (...) “É o grupo
deles (do Eduardo Cunha e companhia). Quem não está preso, está hoje no
Planalto. Essa turma é muito perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive
coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não
têm limites. Então, meu convívio com eles foi sempre os mantendo a meia
distância: nem deixando eles aproximarem demais, nem deixando eles longe
demais, para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é
o de mais difícil convívio que já tive na minha vida.” (...) “O mais relevante
foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha
de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o
fortalecimento do grupo da Câmara (PMDB e aliados) e do próprio Michel. Aquele
grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.” (...) “A pessoa a
qual o Eduardo (Cunha) se referia como seu superior hierárquico sempre foi o
Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver
sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer.” (...)
“Lúcio (Funaro) virava para mim e dizia: ‘Tem um requerimento numa CPI para te
convocar. Me dá R$ 1 milhão que eu barro’. Mas a gente ia ver e descobria que
era algum deputado a mando dele que estava fazendo. (...) Tinha que tomar
cuidado. Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país.
Liderada pelo presidente Temer.”
Toda essa história, visto está, traz muito
desassossego. O anseio da sociedade é de que as investigações relativas ao
descomunal problema sejam concluídas com presteza. Tudo, naturalmente, em
rigorosa sintonia com os preceitos republicanos e democráticos. E de forma a
remover os obstáculos que, neste momento, tanto afetam o desenvolvimento
econômico e social deste País de tão ricas potencialidades.
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