A cobiça não
é
de hoje
Cesar Vanucci
“O governo de
Washington estudava a possibilidade de
transferir a
escravaria dos Estados Unidos para a Amazônia.”
(Revelação histórica feita por Élio
Gáspari)
Equivoca-se
redondamente aquele que imagina serem coisas só recentemente afloradas essas
manifestações ostensivas da cobiça estrangeira com relação a Amazônia. Já na
época do Brasil império faziam-se frequentes as demonstrações da gula de outros
países quanto a poderem abocanhar, algum dia, as imensuráveis riquezas do dadivoso
território.
Élio Gáspari, jornalista
com participação sempre arguta nos debates dos temas nacionais de relevância, andou
esmiuçando, algum tempo atrás, uma “encrenca” eclodida no século 19, ainda no
reinado de Pedro II, concernente ao momentoso tema amazônico.
Naqueles idos,
ao invés dos argumentos de agora, quando a arrogância dos pretensos “donos do
planeta” questiona o “protecionismo territorial” brasileiro para “justificar” a
insana tese da internacionalização, o foco das críticas desfechadas contra o
Brasil se centrava no direito universal à livre navegação. Os bons amigos
estadunidenses – sempre eles! – lideravam forte pressão internacional no
sentido de que fosse franqueada a livre navegação pelo mar interno amazônico
das embarcações estrangeiras, inclusive militares. O governo imperial resistiu
enquanto pôde às “ponderações” externas. Mas acabou, de algum modo, cedendo.
Por volta de
1850, os Estados Unidos pediram autorização ao Brasil para que um navio
comandado por oficial de sua Força Naval pudesse singrar as águas do Amazonas.
O objetivo alegado: coleta, por parte de grupos especialistas, de informações
de interesse científico, sobretudo no campo cartográfico. Após alguma relutância,
escorada em pareceres técnicos desfavoráveis da Secretaria de Negócios
Estrangeiros do Império, a permissão veio a ser concedida pelo próprio
Imperador.
Tempos depois,
viagem concluída, o comandante do navio com bandeira estadunidense, William Herndon,
foi recebido em audiência por Pedro II. Conversa vai, conversa vem, acabou
escancarando, para estupefação do governante brasileiro, o verdadeiro propósito
dos dirigentes de seu país com a tal “expedição científica”. Élio Gáspari com a
palavra: “O governo de Washington estudava a possibilidade de transferir a
escravaria do Sul dos Estados Unidos para a Amazônia. Ia além: admitia a
possibilidade de instalar no nosso Vale o próprio empreendimento escravocrata
americano. (...) Herndon falava em trabalho compulsório para povoar o
protetorado da Amazônia norte-americana.”
As elucidativas
informações do jornalista, baseadas no livro “A liberdade de navegação do
Amazonas”, de Fernando Saboia de Medeiros, publicado em 1938, são acrescidas de
outro dado bastante revelador da histórica ambição estrangeira concernente
àquela parte do território brasileiro. O que o governo dos Estados Unidos
pretendia, na época de Pedro II, era mesmo, na verdade, mutilar a soberania brasileira.
Ocupar a região. Em 1867, o Império abriu a navegação do Amazonas. Os Estados
Unidos já haviam rompido, dois anos antes, por força da guerra civil, com o
regime da escravatura.
Revelações como
estas e outras mais que ocupam espaço no noticiário trazem, mais que meros
indícios, perturbadoras provas de que, de há muito, nos sonhos delirantes de
arrogantes dirigentes estrangeiros, inimigos declarados do Brasil, a Amazônia,
pelas incomparáveis riquezas do solo e subsolo, haverá de se tornar, em algum
momento, protetorado de um país ou de um conjunto de países com vocação
colonialista.
Afigura-se, por
conseguinte, mais do que oportuno o enfático e incisivo recado que o governo
brasileiro, dando voz à própria consciência cívica nacional, mandou em 2004,
numa fala do então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aos
dirigentes de outros países, aos pretensos ambientalistas que defendem, com
suprema desfaçatez, a gestão compartilhada da maior floresta tropical do mundo.
“Essa gente – foi dito naquela ocasião - precisa entender que a Amazônia
brasileira tem dono. O dono é o povo brasileiro. São os índios, os
seringueiros, os pescadores. E nós, que somos brasileiros e não nos assustamos
com campanhas orquestradas, temos consciência de que é preciso diminuir o
desmatamento, as queimadas, mas temos também consciência de que é preciso
desenvolver a Amazônia.”
Não há,
certamente, quem em sã consciência se recuse a assinar embaixo, mesmo entre
aqueles que militem em campo político oposto ao antigo chefe do governo.
Convocaram até o Capitão
Marvel
Cesar Vanucci
“Acham que nós exageramos,
que é um nacionalismo epidérmico. Mas para quem está, por dever de ofício,
ligado a isso, chegamos à conclusão de que não estamos vendo fantasmas” (General Luiz Gonzaga Lessa, ex-comandante Militar da Amazônia)
É importante atentar pra
isso. Colocaram na mira do Capitão Marvel outros inimigos. Nos gibis de
antigamente, ele usava dos punhos justiceiros para combater desalmados adeptos
da suástica e de outros símbolos sinistros, responsáveis por todas aquelas
truculências arrepiantes narradas nas crônicas da segunda grande guerra.
O Capitão fazia a cabeça da
criançada, que saboreava, à exaustão, suas incríveis façanhas como destemido
arauto do bem e desassombrado protetor dos fracos e oprimidos. Os tempos agora
são outros. Outras aventuras, outros vilões na carreira do super herói. Com
intuitos subliminares, que não passam batidos na percepção dos viventes mais
lúcidos, os produtores dos seriados dos gibis estão entregando agora ao consumo
da garotada nos Estados Unidos e noutros países uma nova horda de malfeitores.
Esses malfeitores “estão a fim” de acabar com a vida no planeta Terra.
“Devastam” tudo. “Destroem” com ferocidade os santuários ecológicos. São
mostrados como integrantes de “falanges demoníacas”. “Espalham” tanta maldade
que o jeito que tem é mandar chamar o Capitão Marvel pra colocar ordem na casa.
A “casa” é a Amazônia, palco de lutas titânicas entre as “forças do bem e do
mal”. É ali que “atuam” os atuais “inimigos do gênero humano.” Eles vêm
retratados nos desenhos como uma mistura de bandoleiros sanguinários,
terroristas desapiedados e empedernidos traficantes de drogas. Nas “inocentes”
historietas em quadrinhos que circulam no estrangeiro são conhecidos por brasileiros...
Essa insidiosa armação tem
sido acrescida de outros dados não menos preocupantes. Videogames espalhados
pelo exterior oferecem aos aficionados um enredo parecido. Os “heróis” podem
até ser outros. Mas os “vilões” são os mesmos. Isto é, nós.
Estão assim estampados,
mais uma vez, para quem tem olhos pra enxergar e ouvidos pra escutar, como no
aconselhamento evangélico, os perturbadores sinais da conspiração estrangeira
contra o Brasil. Essa conspiração alimenta o nefando objetivo de arrancar, no papo
diplomático ou, quem sabe, na marra, concessões sobre a Amazônia. Aliás, o
ex-primeiro ministro britânico John Major já propôs, despudoradamente, a
“intervenção militar” na região, com “fins humanitários”. A desabusada
manifestação não é fruto de piração isolada. Está em sintonia com críticas
impregnadas de hipocrisia de outros gringos insolentes, de nacionalidades
variadas.
As advertências constantes
sobre o que vem acontecendo, partidas de vozes qualificadas e respeitadas,
sobretudo de oficiais graduados das nossas forças militares, recomendam uma
mobilização vigorosa da opinião pública brasileira. O que está em jogo mexe
fundo com o brio cívico da nacionalidade. Os inimigos estão muito bem
articulados, a goela escancarada, navegando a pleno vapor na alucinatória
impressão de poder surpreender, num determinado tempo, a sociedade brasileira
desguarnecida, fragilizada e despreparada. O ex-comandante militar da Amazônia,
general Luiz Gonzaga Lessa, em reiterados e memoráveis pronunciamentos, já deixou
claro, que as ameaças vão se avolumando e que é preciso impedir uma aventura na
Amazônia, criando-se para isso uma estratégia de resistência. Ele falou dos
vazios demográficos, das fronteiras por proteger, da liberdade de movimentos
excessiva que se concede às mais de 700 ONGs, boa parte estrangeiras, que agem
desembaraçadamente na região, do excesso de terras reservadas aos povos
indígenas e da pirataria científica. Chegou a denunciar algo inimaginável:
“Temos dados que mostram que parte do sangue dos nossos homens amazônicos está
sendo levado para outros países”.
O brilhante jornalista
Carlos Chagas, recentemente falecido, fez-se ouvir, em vários momentos, com revelações
também inquietantes. Tempos atrás, reportando-se aos riscos de estupro à
soberania nacional, formulou a seguinte desconcertante pergunta: “Por que dois
aviões americanos foram recentemente autorizados a aerofotografar a Amazônia,
tendo sido retirado deles o banco ao lado do piloto, sob o pretexto de carregar
mais instrumentos, mas, na verdade, para impedir que um oficial da Força Aérea
Brasileira estivesse presente aos voos?” Este e muitos outros “por ques” estão
a nos corroer por dentro.
Por
falar em internacionalização...
Cesar Vanucci
“Internacionalizemos
os arsenais nucleares.”
(Cristovam Buarque, senador)
Nossos
comentários a propósito das insolentes propostas, expressas em diferentes
sotaques, alusivas à internacionalização da Amazônia têm merecido especial
atenção dos amigos leitores. Pessoas que, no mesmo tom de indignação deste
escriba, se sentem alvejadas em seu sentimento cívico pela arrogância de não
poucos próceres mundiais arvorados no papel de traçar regras de conduta para a
humanidade inteira com base em suas espúrias conveniências hegemônicas e
econômicas.
O Marcio
Vicente Silveira é uma delas. A contribuição que deixa para uma maior
conscientização a respeito da gravidade do assunto é valiosa. Reproduzo abaixo,
na íntegra, sua manifestação.
“Prezado
Jornalista Cesar Vanucci, Leitor assíduo de sua festejada coluna no
"Diário do Comércio", do qual já tive a honra de ser correspondente
em Sete Lagoas, acompanho seus artigos em defesa da Amazônia. Na oportunidade,
remeto-lhe notícia de um pronunciamento do senador Cristovam Buarque sobre
a questão. Certamente, já o conhece. Um grande abraço do admirador, Márcio
Vicente Silveira.”
Segue a notícia
mencionada: “Internacionalização da
Amazônia.
Durante debate numa
Universidade nos Estados Unidos, o senador Cristovam Buarque, ex-ministro e
ex-governador, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da
Amazônia (um tema que os norte-americanos gostam muito de abordar).
Esta foi a resposta de
Buarque: Como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização
da Amazônia. Por mais que os nossos governos não tenham o devido cuidado com
esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação
ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como
também de tudo o que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma
ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as
reservas de petróleo do mundo. O petróleo é tão importante ao bem-estar da
humanidade quanto a Amazônia. Da mesma forma, o capital financeiro dos países
ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os
seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um país. Queimar a
Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias
dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras
sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu
gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. Cada
um deles é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se
pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico,
seja utilizado ou manipulado pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Recentemente, quando as
Nações Unidas realizaram o Fórum do Milênio, alguns presidentes de países
tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos sofridos na fronteira
dos Estados Unidos. Por isso, acho que Nova York, como sede das Nações Unidas,
deve ser internacionalizada, assim como Paris, Roma, Londres, Rio de Janeiro,
Brasília... Certas cidades, com sua beleza específica ou sua história do mundo,
deveriam pertencer a todos os povos.
Se os Estados Unidos querem
internacionalizar a Amazônia pelo risco de deixá-la nas mãos dos brasileiros,
internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos Estados Unidos. Até porque
eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando destruição
milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do
Brasil.
Como humanista, aceito
debater a internacionalização da Amazônia e do mundo. Mas, enquanto o mundo me
tratar como brasileiro lutarei para que a Amazônia seja exclusivamente nossa.”
Isso aí!
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