Conspiração internacional
Cesar Vanucci
“A Amazônia, localizada na América do
Sul (...) é cercada por países irresponsáveis.”
(De um
livro didático estadunidense)
Napoleão Bonaparte estava coberto de razão. Nada como a repetição para
se compor uma excelente retórica. A insistência em torno de um tema não deixa
de ser, em determinadas circunstâncias, um processo de razoável eficácia para
deixar gravada na memória alguma situação que não mereça ser relegada ao limbo
do esquecimento.
Quem acompanha estas maldatilografadas é sabedor de que, com certa
frequência, o espaço é ocupado para considerações, com o sentido de denúncia e
alerta, a respeito das ambições impertinentes e desmesuradas que a confraria
dos “donos do mundo” mantém permanentemente acesas com relação à Amazônia
brasileira. O “olho gordo” fixado nas incomparáveis riquezas alojadas no solo e
subsolo do prodigioso território, parte inalienável deste nosso país
continental, traz à tona, volta e meia, manifestações de altos próceres mundiais
e produz ações práticas, por parte dos mesmos, as mais descabidas e chocantes.
Voltamos a falar, aqui e agora, de uma dessas atordoantes reações.
Publicações didáticas adotadas em escolas estadunidenses, empenhadas em lavagem
cerebral dos alunos, sabe-se lá com que perversos intuitos, sustentam que a
nossa floresta amazônica é uma “reserva patrimonial de propriedade
internacional”.
Há livros
mostrando o mapa do Brasil amputado, com comentários desairosos ao nosso país.
Um deles tendo por título “Introdução à geografia”, e distribuído na rede
conhecida por “Junior high school”, equivalente ao nosso sistema de ensino
elementar. O autor é um tal de David Norman. Vejam só o tamanho da insolente
agressão cometida por esse gringo mafioso, à página 76 do livro, em meio a
ilustrações inspiradas na flora e fauna amazonenses.
Título do
texto: “Uma introdução à geografia.” Subtítulo: “Em uma nação ao norte da
América do Sul, uma extensão de terra com mais de 3.000 milhas
quadradas.”
Na sequência:
“3.5.5. – A primeira reserva internacional da floresta amazônica”. A seguir o
texto: “Desde meados dos anos 80
a mais importante floresta do mundo passou a ser
responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas. É chamada Prinfa (A Primeira Reserva Internacional
Da Floresta Amazônica), e sua fundação se deu pelo fato de a Amazônia
estar localizada na América do Sul, uma das regiões mais pobres do mundo e
cercada por países irresponsáveis, cruéis e autoritários. Fazia parte de oito
países diferentes e estranhos, os quais, em sua maioria, são reinos da
violência, do tráfico de drogas, da ignorância, e de um povo sem inteligência e
primitivo. A criação da Prinfa
foi apoiada por todas as nações do G-23 e foi realmente uma missão especial
para nosso país e um presente para o mundo todo, visto que a posse destas
terras tão valiosas nas mãos de povos e países tão primitivos condenariam os
pulmões do mundo ao desaparecimento e à total destruição em poucos anos.”
Abaixo,
ao lado da foto de uma borboleta, vem a seguinte legenda: “Podemos considerar
que esta área tem a maior biodiversidade do planeta, com uma grande quantidade
de espécimes de todos os tipos de animais e vegetais. O valor desta área é
incalculável, mas o planeta pode estar certo de que os Estados Unidos não permitirão
que estes países Latino Americanos explorem e destruam esta verdadeira
propriedade de toda a humanidade. Prinfa
é como um parque internacional, com severas regras para exploração.”
A adoção
do livro em escolas estadunidenses representa, isoladamente, um fato
extremamente grave. Mas a questão da ameaça à sagrada soberania brasileira na
Amazônia não está circunscrita apenas a essa anotação didática imbecil. A
conspiração contra os interesses brasileiros assume proporções descomunais. São
numerosas as vozes, de diferentes sotaques, com influência na condução dos
destinos internacionais, que fazem coro, ostensiva ou dissimuladamente, em
foros mundiais, com a tresloucada ideia de que o Brasil não se mostra apto a
administrar as riquezas que possui. A cobiça alienígena tem sido objeto de
contínuos alertas por parte de líderes militares e cientistas.
Na
interpretação de analistas internacionais respeitáveis, existe uma preparação
psicológica remota da opinião pública internacional, à qual não seriam
indiferentes algumas organizações de caráter pretensamente ecológico, com
vistas a “garantir” proteção à dadivosa área, parte indissociável do território
brasileiro. A fixação, mediante estranhos acordos, de bases militares
estadunidenses em países sul-americanos limítrofes, faria parte desse jogo
espúrio, que outra coisa não traduz senão a certeza de que muita gente anda –
repita-se - de olho grande nas riquezas incomensuráveis do solo e subsolo
brasileiros.
Sinistra orquestração
Cesar Vanucci
“... Imenso território, patrimônio da humanidade,
não patrimônio dos países que dizem lhes pertencer.”
(Trecho de proclamação do
Conselho Mundial das Igrejas Cristãs,
conforme denúncia do jornalista
Carlos Chagas, recentemente falecido)
Como anotei no comentário passado, o emprego da
repetição em matéria de informações e revelações ajuda a compor uma retórica
mais convincente. Compenetrado disso, impelido por sentimentos afinados com minha
crença cívica, sinto-me inteiramente à vontade para retomar, neste acolhedor
espaço, o tema da conspiração internacional focada na abominável ideia da internacionalização
da Amazônia. As evidências clamorosas de que existe uma orquestração sinistra
armada lá fora, à volta da candente questão, não ficam adstritas ao fato, aqui registrado,
de que livros didáticos adotados em escolas estadunidenses apontam a Amazônia
como um protetorado internacional, e não como um dadivoso e riquíssimo pedaço
de chão pertencente a este país soberano, de dimensão continental, chamado
Brasil.
Tempos atrás, o jornalista Carlos Chagas, de saudosa
lembrança (falecido no último dia 26 de abril), denunciou, com compreensível
indignação, o posicionamento assumido pelo poderoso Conselho Mundial das Igrejas
Cristãs, recomendando, com descabida insolência, “uma ação evangélica” para
“delimitar as nações indígenas, sempre pedindo três ou quatro vezes mais”. O
mesmo organismo, no alerta do jornalista, ousou ir mais longe ainda, em seu
“sagrado dever missionário”, quando “aconselhou” sejam esgotados “todos os
recursos que, devida ou indevidamente, possam redundar na preservação desse
imenso território, patrimônio da humanidade, não patrimônio dos países que
pretensamente dizem lhes pertencer”. Manjaram só o tamanho da impertinência? Dá
pra imaginar o estrondo de pororoca amazonense que uma declaração desse teor não
desencadearia, caso a pia recomendação estivesse sendo direcionada às reservas
florestais dos Estados Unidos, do Canadá, da Rússia ou de algum país europeu?
Agreguemos, agora, aos fatos narrados um relato, feito
anos atrás, por um ex-ministro da Marinha brasileira, Maximiano da Fonseca, um
dos numerosos oficiais de alta patente engajados em campanhas de esclarecimento
da opinião pública sobre a cobiça estrangeira com relação a Amazônia. Segundo
ele, em escolas norte-americanas e de outros países, vem sendo encucada na
cabeça dos alunos a ideia de que, para preservar o “pulmão do mundo”, uma
intervenção armada se faz imperiosa. De outra parte, respeitáveis figuras,
militares e civis, responsáveis por providenciais alertas à nação sobre o que
rola em plagas estrangeiras a propósito do assunto, também denunciaram que
super-heróis das historietas em quadrinhos, distribuídas aí fora, são volta e
meia “concitados” a aplicarem exemplar punição em “cruéis vilões responsáveis
pela destruição da Amazônia”. Os vilões, visto está, pela ótica destrambelhada,
conscientemente perversa, dos autores desses gibis, somos nós outros, os
primitivos e despreparados brasileiros descritos nas cartilhas escolares de
encomenda consultadas por alunos estrangeiros.
O distinto leitor, após tomar conhecimento da
indecorosa manifestação atribuída ao Conselho Mundial de Igrejas Cristãs e dos
outros disparates acima revelados, poderá incorrer na equivocada suposição de
serem esses registros únicos, isolados, da ameaça alienígena contundente, tão
bem concatenada, aos nossos valores cívicos e nossa soberania. Ledo engano! As
figuras e organizações de realce no palco mundial que fazem coro com o ponto de
vista do pessoal já citado são bem numerosas. Tanto quanto “eles”, muitos e
muitos outros gringos arrogantes, ocupando posições influentes, consideram a
posse da Amazônia pelo Brasil “meramente circunstancial”.
Olho gordo estrangeiro
Cesar Vanucci
“Ao contrário do que os brasileiros pensam,
a Amazônia não é deles, mas de todos nós.”
(Al Gore)
Volto a dizer: nutro uma baita desconfiança com relação aos propósitos
alardeados pelo ex-vice presidente dos Estados Unidos Al Gore em sua pregação
de cunho ecológico, contendo críticas à conduta dos governos - com ênfase para
o de seu próprio país -, no tocante ao enfrentamento do crucial problema do
aquecimento global. Admito que ele soube traçar um diagnóstico real, conquanto
sombrio, da situação ambiental. Acenou com propostas inteligentes e sensatas,
no aplaudido documentário “Verdades que incomodam”. Criou perspectivas de
esperança numa tentativa de busca de saídas para o problema das contundentes
agressões ao meio ambiente.
Mas, não consigo ocultar minha condição de cidadão brasileiro injuriado
diante de inaceitáveis posicionamentos por ele ostensivamente assumidos, nesse
trabalho de conscientização mundial em que se empenha, ao sustentar a tese da
transformação da Amazônia num protetorado internacional. Esse candidato
vitorioso naquelas eleições fraudadas pelos irmãos Bush, que levaram um deles,
o xerife George, ao poder, é o autor de uma frase imbecil e assustadora: “Ao
contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos
nós.”
Ele não é o único personagem de projeção internacional a propalar
sandices a respeito do tema. Margaret Thatcher, ex-primeira ministra da
Grã-Bretanha, é outra figura hostil. Reportando-se ao território amazônico, ela
deixou cair, entre outros despautérios, o seguinte: “Se os países
subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas externas, que vendam seu
território, suas riquezas, suas fábricas.” Desencadeando uma pororoca amazônica
em matéria de espantos, deixando à mostra imperial e deslavada arrogância,
outros partícipes de setores com influência nos rumos mundiais integram também o
sinistro coro de vozes dos que ambicionam apoderar-se na marra da Amazônia. Essa
fala insolente aqui é do ex-primeiro ministro inglês John Major, tempos atrás:
“As nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum de
todos do mundo. As campanhas ecológicas internacionais sobre a região amazônica
estão deixando a fase propagandística para dar início a uma fase operativa que
pode definitivamente ensejar intervenções militares diretas na região.”
O notório belicista Henry Kissinger, não faz por menos: “Os países
industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje, se não
tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis do planeta. Terão
que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da concepção
de seus intentos.” Outra ex-secretária de estado do país mais poderoso do
planeta, Madeleine Albright, contribui com sua quota de desatino para a arenga
conspiratória. Levanta a bola, pode-se dizer, para chutes a gol de aguerridos
comparsas: “Atualmente, avançamos em uma ampla gama de políticas, negociações e
tratados de colaboração das Nações Unidas, diplomacia bilateral e regional de
distribuição de ajuda humanitária aos países necessitados e, também, crescente
participação da CIA em atividades de inteligência ambiental.” A encorajante
sugestão animou o general Patrick Hugles, chefe do órgão central de informações
das forças armadas estadunidenses, a anunciar, certa feita, o propósito de
acelerar a execução dos projetos de expansionismo colonialista alimentados por
alguns figurões. Rosnou: “Caso o Brasil resolva fazer um uso da Amazônia que
ponha em risco o meio ambiente dos Estados Unidos, temos de estar prontos para
interromper este processo imediatamente.” Tipo de papo que ajuda a explicar o
interesse da diplomacia americana em implantar bases militares próximas às
fronteiras brasileiras, através de acordos firmados com países vizinhos.
Mais gente importante na pérfida jogada. Dois ex-presidentes, um deles
(já falecido), francês, outro russo, deixaram registrada, de modo igualmente
despudorado, sua participação na conspirata. "O Brasil precisa aceitar uma
soberania relativa sobre a Amazônia,” vociferou François Mitterrand. “O Brasil
deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos
internacionais competentes”, repicou Mikhail Gorbachev. Como comissário da
União Europeia na ONU, posteriormente no comando na Organização Mundial do
Comércio (OMC), Pascal Lamy igualmente entendeu “seu dever” meter o bedelho no
candente assunto, desovando a estapafúrdia declaração de que: “A Amazônia
deveria ser considerada bem público mundial e submetida a uma gestão coletiva,
ou seja, uma gestão de comunidades internacionais.”
“Motivados” por pareceres, tão
“respeitáveis”, inimigos do Brasil, olho gordo nas riquezas da Amazônia, deitam
e rolam na propagação insistente, mundo afora, de intrigas que procuram
desqualificar o nosso país e desclassificar a nossa gente perante a opinião
pública internacional, menosprezando a legítima condição da Nação brasileira de
detentora do intransferível direito de traçar, ela tão somente e mais ninguém,
os rumos das políticas aplicáveis ao brasileiríssimo território amazônico.
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