O
Papa e a Amazônia
Cesar
Vanucci
“...As
propostas de internacionalização da Amazônia só servem
aos
interesses econômicos das corporações internacionais.” (Papa Francisco)
A
constância com que o carismático Papa Francisco é aqui evocado decorre da circunstância
de que, em seu refulgente pontificado, além de mentor espiritual acatado por
multidões, ele é aclamado como o mais qualificado estadista da história
contemporânea. Nenhum tema de alta relevância, alusivo às angustias humanas, é
desconsiderado em suas argutas percepções da vida.
Recente
manifestação desse líder religioso vindo dos confins do mundo, como faz questão
de dizer, abordando com firmeza e lucidez as sempre candentes questões da
Amazônia, deixa novamente explicitado o seu singular e propositivo estilo de
liderança. A palavra está com Francisco: “Mencionemos, por exemplo, os pulmões
do planeta repletos de biodiversidade, que são a Amazônia e a bacia fluvial do
Congo, ou os grandes lençóis freáticos e os glaciares. A importância desses lugares
para o conjunto do Planeta e para o futuro da humanidade não se pode ignorar.
Todavia, ao falar sobre estes lugares, impõe-se um delicado equilíbrio, porque
não é possível ignorar também os enormes interesses econômicos estrangeiros que
a pretexto de cuidar deles, podem atentar contra as soberanias nacionais. Com
efeito, as propostas de internacionalização da Amazônia só servem aos
interesses econômicos das corporações internacionais.”
Análise
soberba. Tem-se aí esplendidamente configurado o enorme tamanho do problema
suscitado pela gula insaciável dos “donos do mundo”. O estadista Francisco, do
alto de sua incontestável autoridade moral, registra sua preocupação diante das
copiosas evidências de que a Amazônia, afortunado pedaço de chão bem brasileiro,
vive sob a constante e despudorada mira da cobiça internacional.
Quem
se entrega ao trabalho de coletar informações acerca do tema sabe perfeitamente
bem que, tanto na Europa como nos Estados Unidos da América, pipocam volta e
meia frenéticas ações indicativas de trabalhos articulados voltados
flagrantemente para o insano objetivo de fragilizar, de modo a sensibilizar a
opinião pública internacional, o direito sagrado e soberano da Nação brasileira
sobre o vastíssimo e riquíssimo território, superior em extensão territorial à
Europa inteira, Rússia excluída. São ações desencadeadas por inimigos a cada
momento mais desenvoltos em suas solertes manobras.
Essa
inapelável denúncia do Papa Francisco foi feita por ocasião do lançamento de
uma luminosa carta encíclica, a “Laudato si”, a monumental aula de Direito e
Educação Ambiental, onde se fala dos cuidados que a sociedade humana carece
tomar com objetivo de preservar a “Casa Comum”. No documento, o Santo Padre faz
um apelo pela Natureza para que o mundo pare de dar as costas à Mãe Terra. Pede
pela preservação da Amazônia, reclama atenções para com o meio ambiente na
exploração dos recursos naturais. Critica o consumismo e o desenvolvimento
irresponsável, formulando um apelo a mudanças e à unificação global das ações
destinadas a combaterem a degradação ambiental e as alterações climáticas.
Convida as pessoas a ouvirem os gemidos dos “abandonados do mundo”, exortando
todos e cada um – indivíduos, famílias, coletividades locais, nações e
comunidade internacional – ao que denomina de “uma conversão ecológica”, isto
é, uma “alteração de rumo”, assumindo a beleza e a responsabilidade de um
compromisso para o “cuidado da casa comum”.
lá
fora, com o pérfido objetivo de se apoderarem das riquezas da nossa Amazônia.”
O General e a Amazônia
Cesar Vanucci
“A cobiça internacional é uma realidade.”
(General Luiz Gonzaga Schroeder Lessa)
Algum tempo
atrás, por mais de duas horas, plateia estimada em 2 mil pessoas, composta na
quase totalidade por associados do Lions Clube em Minas Gerais, acompanhou
eletrizada – este, o termo exato - magistral exposição sobre a Amazônia. O
general Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex-comandante militar da Amazônia, brindou
os qualificados ouvintes, numa convenção acontecida em Poços de Caldas, com
revelações de substancioso conteúdo geopolítico-econômico e cívico relacionadas
com a fascinante temática. A mensagem transmitida, com toque humanístico e
impregnada de sentimento nacional, chamou todo mundo a uma reflexão aprofundada
sobre aquilo que o expositor define como questão prioritária na realidade
brasileira. Algo que tem tudo a ver com o futuro de nossos filhos e netos. Com
a soberania nacional.
A Amazônia
legal – conforme explicou – estende-se por nove Estados. Representa 56% do
território brasileiro. Sua população é estimada em mais de 20 milhões, para uma
população nacional superior a 200 milhões. O território é de riquezas sem par.
Por isso tornou-se alvo permanente da gula estrangeira. Exemplos abundantes de
como essas ameaças se expressam foram alinhadas. Uma delas: declaração do então
diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. O referido
cidadão, de nacionalidade francesa, andou defendendo, arrogantemente, que a
Amazônia fosse transformada “em bem público mundial, com gestão coletiva”. Seu
desatino verbal fez coro com manifestações de teor parecido, produzidas por
outras figuras de presença realçante na cena internacional.
O general asseverou
que a cobiça é uma realidade palpável. Sob pretextos de estarem trabalhando em
favor da necessária preservação ambiental da área e, ainda, em prol das
populações indígenas, compromisso histórico impostergável da sociedade
brasileira para com os descendentes dos primitivos habitantes do país, agentes
estrangeiros julgam-se autorizados a promover desabridas interferências nas
políticas brasileiras da Amazônia. Elementos perniciosos infiltram-se em muitas
das milhares de ongs que operam naquela parte do mapa brasileiro. Essa ação
danosa coloca sob mira as incomensuráveis riquezas do solo e do subsolo.
Riquezas como ouro, nióbio, petróleo, gás, outros minerais estratégicos, que
nenhum outro pedaço de chão do planeta tem pra oferecer com tamanha prodigalidade.
Ali, igualmente, se concentra o maior reservatório de água doce (20%) do globo.
E o que não dizer da biodiversidade da fauna e flora incomparáveis?
O esplêndido
pronunciamento deixou claro que a integração social e econômica da região
carece ser lastreada numa política inteligente de ocupação de terras, que leve
em conta, sim, os aspectos ecológicos e a salvaguarda dos direitos das etnias
indígenas. Mas, nas concessões de terras aos índios, releva registrar alguns
pontos essenciais: as extensões exageradas das áreas cedidas; a preservação,
para que sejam explorados em proveito da nação, dos locais que abriguem as
colossais reservas minerais; demarcações que guardem natural distanciamento das
zonas fronteiriças, por razões mais que óbvias.
Uma revelação
do ilustre militar que deixou muitos tomados de surpresa foi a de que, ao
contrário do que se supõe comumente, nenhum metro sequer da parte da floresta
correspondente ao Amazonas, maior Estado da região norte, tinha sido alvo, até
aquele momento, de qualquer ato devastatório. Outra informação significativa
teve como foco a ação construtiva das Forças Armadas naquele espaço dadivoso
pertencente ao Brasil. O Exército implantou nas regiões de fronteira dezenas de
unidades providas de pistas de pouso e serviços básicos essenciais. Os
militares e familiares que as habitam representam a linha mais avançada da
presença brasileira em nossos limites geográficos mais longínquos.
Deploravelmente, porém, dependências reservadas nas referidas unidades a
acolher outros serviços governamentais, jamais, em tempo algum, foram ocupadas.
A palavra do
general Lessa, repito, deixou sinal vigoroso no espírito dos que o ouviram.
Ficou claramente positivado que a Amazônia não é apenas uma questão de governo,
de política pública. Mais do que isso, é questão que clama por uma
conscientização plena de toda a sociedade. Brota aí, inevitavelmente, uma
interrogação: qual o motivo desse silêncio de tumba etrusca que, na grande
mídia brasileira, recobre as palpitantes questões levantadas em torno daquela
área, tão fundamentais aos projetos de construção de nosso futuro?
José
Alencar
e as duas Amazônias
Cesar
Vanucci
“Na
Amazônia, tudo é espetacular: a floresta,
a biodiversidade e as riquezas do
subsolo.”
(Heráclides Leite Ferreira, educador)
A Amazônia que nos incumbe proteger, com
toda força de nosso ardor cívico, são duas. Quem afirmou isso, sob aplausos, em
pronunciamento anos atrás no Sindicato dos Jornalistas MG, foi José Alencar,
aquele vice-presidente de inteligência aguda, arrojo empreendedor e irretocável
comportamento ético em sintonia com o genuíno sentimento nacional, dons tão
valiosos nesta hora desoladora em matéria de lideranças e ideias.
Repetindo: A Amazônia então são duas. A
primeira delas de um verde esmeraldino ofuscante. A outra de um azul
sempiterno. A verde corresponde a mais da metade de nosso território. A azul,
avançando oceano adentro, estende-se por duzentas milhas marítimas além das
costas litorâneas. Costas essas, fale-se de passagem, onde se alojam, pra
embevecimento dos turistas, as mais belas paisagens praieiras do mundo.
Tanto uma quanto outra – como lembrado
naquela ocasião - se fazem depositárias, em dadivosos
projetos da Natureza, de riquezas fabulosas. Dá mesmo pra garantir, sem receio
de resvalar em exagero: de riquezas incomparáveis. A verde é a Amazônia da
floresta infinita. A maior deste conturbado planeta. A Amazônia do rio de maior
extensão e maior volume d'água. Da biodiversidade que assombra. Das riquezas
minerais inexauríveis. Azul é a Amazônia oceânica, de imensuráveis riquezas.
Riquezas brotadas do “mar de medusas que ninguém semeia, criadas com mistério e
com areia, perfeitas de beleza e de sentido, sobre um casto jardim adormecido”,
dos líricos versos de Miguel Torga. Nesta porção de mar específica as reservas
petrolíferas são colossais. Vem daí a condição privilegiada que o país ostenta
no rol das potências energéticas.
Como resistir à tentação de encaixar, aqui,
à guisa de parêntese, um registro histórico puxado das ladeiras da memória?
Décadas atrás, o Brasil não somente não explorava petróleo, na terra ou no mar,
como também não “possuía” petróleo, nem na terra, nem no mar. Pelo menos era o
que, confiados na suprema ingenuidade das ruas, ousavam alardear por aí, em tom
irretorquível, certos dirigentes políticos de proa. Um pessoal que se aprestava,
docilmente, a render vassalagem a poderosos grupos estrangeiros. Encastelado em
postos relevantes, fazia uso, costumeiramente, dos aparelhos de repressão
policial para conter e desestimular vozes contestatórias. Técnicos estrangeiros
de currículo reluzente, vinculados a manjadíssimos cartéis, punham-se de
plantão para fornecer, a esses cidadãos “acima de qualquer suspeita”, solícita assessoria.
Aviavam “pareceres” para uma opinião pública desinformada, atestando a certeza “científica”
da inexistência, por aqui, do mais leve indício, de uma nesgazinha promissora
que fosse, do chamado “ouro negro”. O nunca assaz reverenciado Monteiro Lobato
apelidava esse “ouro negro” de “sangue da terra”, “alma da indústria”. “Tê-lo –
assegurava o notável escritor – é ter o sésamo abridor de todas as portas. Não
tê-lo é ser escravo.” Por emitir conceitos que tais, contrariando doutos
figurões, o autor de “Urupês” foi convidado, um sem número de vezes, a ver o
sol nascer quadrado, como era de costume dizer-se em tempos de antanho. Homem
prevenido, deixava arrumada, toda noite, uma trouxa com pertences, incluindo
pijama, chinelo, escova de dentes e demais utensílios de higiene pessoal.
Punha-se no desagradável aguardo de convocação para desfrutar, por algum tempo,
da hospitalidade do cárcere.
Parêntese desfeito, retornemos às Amazônias
verde e azul. Ambas nossas, brasileiras. Que nem o samba, o carnaval, o
futebol, as estátuas de Mestre Aleijadinho. Pertencem-nos e a mais ninguém. Lá
fora, há quem, paranoicamente, não pense assim. Livros escolares mostram a
Amazônia verde como protetorado internacional. O Capitão Marvel é chamado a
empregar seus formidáveis poderes, nos sugestivos traços dos quadrinhos, mode
que combater “pilantras brasileiros” que só querem saber da Amazônia pra
devastar floresta e traficar droga... Tribunas e jornais trombeteiam pronunciamentos
bombásticos reveladores da frenética cobiça assestada sobre a região.
A Amazônia azul é também alvo de ameaças. As
descobertas de imensas reservas de óleo no fundo submarino suscitam grande
alvoroço, despertam apetites insaciáveis. As 200 milhas marítimas do
prolongamento territorial brasileiro continuam sendo questionadas. Nos Estados Unidos, quando as
potencialidades do pre-sal vieram à tona, chegou-se a aventar a possibilidade
da criação de uma frota naval bem equipada para operar em águas próximas aos
países sul-americanos, com o “louvável propósito” de colocá-los a salvo de
eventuais perigos externos. Me engana,
que eu gosto...
Isso aí: os indícios de olho gordo” são
abundantes. Fácil deduzir que crescem no momento em que o Brasil começa a
extrair mais petróleo do mar do que dos poços terrestres. Salta aos olhos a
necessidade de uma política de defesa dos interesses nacionais mais vigorosa,
atenta a tudo quanto rola nesses mares encapelados das ambições humanas
desenfreadas.
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