As agruras de um
“orador
oficial”
Cesar Vanucci
“Quem fala muito dá bom dia
a cavalo.”
(Adágio popular)
Chegou na Associação de Pais e Mestres no finzinho da reunião e foi logo
recebendo da Presidente inesperada incumbência: saudar visitantes ilustres do
exterior. Professores e estudantes da Pensilvânia, campeões de “wakeboarding”.
“Enfatize o feito esportivo. Vamos entregar-lhes um troféu. Temos interesse em
fortalecer o intercâmbio com eles.” Foi o que disse a presidente, sem lhe
conceder tempo para argumentar, antes de deixar, às carreiras, a sala. Toda
festiva, os braços abertos em sinal de fraterna acolhida, caprichando no timbre
de voz para os “rauduidus” de praxe, ela conduziu a comitiva até o auditório.
“Eles apreciam pontualidade e eu também”, asseverou.
- E essa agora? Questionou-se com os seus botões, pensamento
embaralhado, o nosso indigitado orador. Lamentou haver comparecido à reunião.
“Não estaria agora a pagar esse baita mico. E que diacho de coisa é esse tal de
“wake sei lá o quê?!” Sentiu-se perdido em meio a solitárias e silenciosas
indagações. Lançou um olhar súplice ao redor. Percebeu logo que ninguém ali
estava a fim de compartilhar suas aflições. A mesa da sessão começava a ser
composta. O público numeroso cuidava, em ruidosa movimentação, de se apoderar
dos assentos não ocupados no auditório. Suas ruminações mentais não calavam.
Tentava, embalde, consolar-se com a ideia de que, diante da inevitabilidade da
incômoda situação, o melhor a fazer era relaxar. Classificava, tardiamente, de
supina besteira a concordância dada, dias antes, para a inclusão de seu nome,
como “primeiro orador oficial”, na chapa da Associação. O hino de abertura da
sessão acabara de ser entoado. A hora do pronunciamento se acercava e ele ainda
sem saber como se arranjar na fala para os gringos. Pior, consciente da
condição de analfabeto de pai e mãe com relação ao tal esporte de nome
complicado. Que tal se invocasse ajuda da Medalha Milagrosa? Descartou a opção
por lhe parecer oportunista, consideradas as circunstâncias de nunca lhe haver
passado pela cachola a intenção de integrar o grupo de devotos fervorosos da
santa. Na busca de auxílio providencial, agarrou-se à ideia de invocar São
Judas Tadeu. Adepto do santo não podia, em boa e leal verdade, dizer que era.
Mas, de qualquer maneira, pesava a favor o fato de haver acompanhado a patroa
em celebrações no santuário erigido em louvor de São Judas pela veneração
popular. Mesmo após a invocação sentiu a estrutura óssea balançar, no momento
crucial da chamada à tribuna. O coração saltitante, esmerou-se em pronunciar
pausadamente as palavras. Rodeou toco o quanto pôde, com filigranas retóricas.
Não se atreveu, estrategicamente, uma vez sequer, a citar a modalidade
esportiva em foco. Com algum domínio da situação, deixou-se arrastar pela
empolgação. Proclamou então que os homenageados, educadores de escol e coisa e
loisa, cumpriam exemplarmente histórica missão, aplicando os recursos de um
esporte tão apaixonante e valoroso no burilamento da têmpera e caráter dos
jovens. Lastimou que tão enriquecedora prática não recebesse entre nós o
incentivo devido. Arrancou, para surpresa, uma ovação. Os desportistas campeões
abraçaram-no efusivamente, impressionados com tão incisivo apoio à sua causa
esportiva.
Um grupo de estudantes, seu filho entre eles, trouxe-lhe, na hora dos
cumprimentos, inusitada proposta. Já que se confessara simpático à prática do
“wakeboargding”, a moçada resolvera elegê-lo, ali mesmo, patrono do nascente
time do educandário. Tocava-lhe, à vista disso, a suprema honra de abrir, com
substanciosa doação, o livro de ouro instituído para a aquisição do material de
treinamento. Meteu o chamegão no livro, sem tugir nem mugir, o sorriso amarelo,
com a cara de quem estivesse conquistando o troféu de “cavalgadura do ano”.
Ainda por se refazer das imprevisíveis emoções do dia, sentiu a língua
coçar de tanta vontade de perguntar ao filho, na volta pra casa, o que vinha a
ser mesmo esse tal de “wake... sei lá bem o quê...”. Faltou coragem...
Flagrantes
deste
instante político
Cesar Vanucci
“A vida
política é carregada de imponderáveis.”
(Antônio Luiz
da Costa, professor)
O imponderável não pode deixar de ser levado em conta
nas avaliações políticas.
- Lula.
A avalancha de acusações, rendendo ininterruptas manchetes, parece não haver
afetado pra valer pelo menos até aqui a popularidade de Lula. O ex-presidente
vem mantendo com folga, já por considerável espaço de tempo, em todas as
consultas de preferência de voto, a dianteira entre os outros presumíveis
candidatos, não importa quais sejam os cenários objeto de avaliação. Os
fervorosos prosélitos do dirigente petista mostram-se exultantes com as
pesquisas. Consideram “favas contadas” sua vitória nas urnas, na hipótese de
que venha realmente a concorrer. Concebem, na pior hipótese de previsão
eleitoral, que a força política lulista seja capaz de conduzir à rampa do
Planalto pretendente por ele apoiado, caso se torne inviável sua participação
na pugna. A quem se espante com os
resultados dessas sucessivas pesquisas, convém lembrar que, dono de
indiscutível carisma, Lula recebeu positiva avaliação pela razoavelmente bem
sucedida política de inclusão social levada a efeito em suas gestões.
A visão otimista da legião petista encontra também
alento noutra revelação vinda das pesquisas de opinião. Embora os eleitores deixem
consignada forte rejeição às legendas de um modo geral, o PT consegue alcançar,
ainda assim, índice de apoio de 17 por cento, enquanto os oponentes próximos
não atingem sequer 2 por cento. De qualquer forma, fica difícil pacas arriscar
palpite com relação ao que poderá vir acontecer na campanha sucessória de 2018.
Mesmo que se reconheça plausível alguma alegação dos petistas de carteirinha,
no que tange à inconsistência de um que outro item nas volumosas acusações
levantadas contra Lula, impõe-se reconhecer que a carga das delações e indícios
sobre sua participação, diretamente ou por criticável omissão, nos eventos
delituosos trazidos a furo é consideravelmente pesada. Muitas as situações
comprometedoras descortinadas a deporem contra a tese, sustentada por alguns,
de que ele esteja totalmente isento de culpa no cartório. Mas, por outro lado,
com esse “acordão de cavalheiros” escancaradamente à mostra, graças a
incrementadas movimentações nos círculos do poder, movimentações essas já não
circunscritas apenas aos bastidores, pode acontecer que sobre também para o
ex-presidente alguma “cota de benefício” no processo em gestação. Esperar pra
ver!
- Geddel.
Intrigante, sem dúvida, a súbita “promoção” a “chefe de organização criminosa”
do ex-ministro e ex-deputado Geddel Vieira Lima. Na presunção geral – e não
apenas na de um senador tido e havido como comparsa do ousado baiano em
rendosas mutretices –, o dito cujo se notabiliza pela competência demonstrada
no desempenho dos postos de realce assumidos no esquema mafioso, mas é
inocultável a evidência de que, na verdade, seus atos respondam a vozes de
comando de graduação superior. A mais recente de suas proezas, transformando
luxuoso apartamento em “caverna de Ali Babá” para guarda de um tesouro em notas
de 100, a serem repartidas entre 40 (ou, quem sabe lá, mais) cupinchas, não lhe
assegura, por si só, jeito maneira, direito a galgar a posição que lhe foi de
“mão beijada” atribuída. Ferinas avaliações sugerem que a “designação” de
Geddel como “chefe de quadrilha” seria de molde a amparar, sutilmente, mais na
frente, interpretação jurídica que o impeça de aderir à “delação premiada”. Em condição
que tal, ele certeiramente se tornaria, pela familiaridade com as entranhas das
maracutaias, um novo “homem-bomba”. Que nem, pra dar exemplo, o ex-ministro
Antônio Palocci. Aguardar os desdobramentos pra conferir!
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