Lions celebra
100 anos
em Ouro Preto
Cesar Vanucci
“Nossa
instituição está presente hoje em 220 países.”
(Maria das
Graças Campos Amaral, governadora do Lions Clube)
A encantadora
“Casa da Ópera” de Ouro Preto, mais antigo teatro em funcionamento das Américas,
foi o palco escolhido pelo Lions Clube para magnífica celebração de seu
Centenário, envolvendo simbolicamente as laboriosas comunidades em que atuam as
dezenas de clubes de Lions pertencentes à jurisdição do distrito LC-4, sediado
em Belo Horizonte. Com o apoio inestimável da municipalidade da capital cívica
do Brasil, cidade monumento mundial, que assegurou todo o arcabouço logístico
para o êxito da empreitada cívico-cultural levada a efeito, o movimento
leonístico conseguiu atrair ao evento prefeitos e outras autoridades, ou
representantes, dos municípios de Belo Horizonte, Betim, Bom Despacho,
Conceição do Mato Dentro, Confins, Conselheiro Lafaiete, Corinto, Curvelo,
Diamantina, Divinópolis, Esmeraldas, Itabirito, Janaúba, Lagoa Santa, Mariana,
Montes Claros, Nova Lima, Nova Serrana, Papagaios, Pedro Leopoldo, Pirapora,
Pompéu, Santa Luzia, Sete Lagoas, Três Marias e Vespasiano, além, naturalmente,
de Ouro Preto.
As comunidades
mencionadas receberam das mãos da governadora do LC-4, Maria das Graças Campos
Amaral, o troféu “Lions-Gratidão”, de bela concepção da lavra da artista
plástica Lete Beleza, instituído para a ocasião. Os representantes das
comunidades foram acompanhados, à hora da outorga das láureas, por
representantes dos clubes de Lions engajados na promoção. Companheiros e companheiras
leões das localidades prestigiaram em número elevado o acontecimento, que
contou ainda com a participação de representantes de diferentes segmentos
sociais dos municípios.
O prefeito de
Ouro Preto, Júlio Pimenta, na condição de anfitrião, saudou homenageados,
convidados e visitantes, enfatizando as produtivas parcerias existentes entre
sua administração e o Lions. Maria das Graças, na mensagem de reconhecimento às
comunidades em que o movimento leonístico promove ações assistenciais,
culturais e educacionais, ressaltou o papel relevante que a instituição ocupa,
por meio de serviços voluntários desenvolvidos em 220 países por quase dois
milhões de associados, em favor da construção humana e do bem-estar social.
A tradicional “Invocação
a Deus”, da ritualística do leonismo, foi proferida por Marise Santana de Rezende,
do Lions Lafaiete Centro. Eficientes na condução dos trabalhos, Paulo Marcos Xavier da
Silva de Cachoeira
do Campo e Marcília Chaves dos Santos, de Ouro Preto, ambos da Academia Mineira
de Leonismo, atuaram como mestres de cerimônia. O ex-governador do Lions,
Luciano Guimarães Pereira, de Mariana, fez uso da palavra, pontuando
expressivas realizações da gestão do prefeito Júlio Pimenta em Ouro Preto.
Solicitado a pronunciar-se,
este escriba de antiga militância leonistica, salientou que a história
contemporânea está a reclamar, dos homens e mulheres de boa vontade que
canalizem energia e criatividade no sentido de ajudar o mundo a reconectar-se
com sua humanidade, com os valores essenciais que conferem dignidade à aventura
da vida. Como sempre ocorre em sessões solenes patrocinadas pelo Lions, a
programação contemplou o público presente com espetáculo musical requintado, a
cargo de artistas regionais, entre eles os “Violeiros de Queluz”.
Um outro
momento de alto significado cívico e cultural da festa de sábado, 25 de
novembro, parte da manhã, na “Casa da Ópera”, Ouro Preto, ocorreu quando a
Academia Mineira de Leonismo, representada pelo vice-presidente Vespasiano de
Almeida Martins Neto, entregou ao Secretário de Estado da Cultura de Minas Gerais,
Angelo Oswaldo de Araújo Santos, a comenda “JK-Cultura, Desenvolvimento e
Civismo”, anualmente conferida a personagem de realce na vida nacional. O
agraciado, expressando-se também em nome dos homenageados com o troféu
“Lions-Gratidão”, fez aplaudido discurso. Frisou que, no Brasil dos dias de
hoje, a vida e obra de JK, como líder progressista, devotado à causa do
desenvolvimento social, como cidadão que soube cultivar a tolerância no trato
político, devem servir de inspiração a quantos se achem empenhados na retomada
do crescimento econômico e no propósito de ver o país consolidar sua vocação de
grandeza.
Almoço de
confraternização, transcorrido no mesmo clima de alegria e companheirismo,
concluiu a memorável celebração do Centenário do Lions em Ouro Preto.
Haja percevejo
pra fincar
no mapa
Cesar Vanucci
"Vendo o trânsito das grandes cidades dá para entender
porque tantos pilotos brasileiros brilham nas
pistas de corrida".
(De um turista norueguês,
citado por jornal carioca)
Não são muitos, mesmo entre
os mais chegados, que sabem, mas eu já fiz parte, com muito orgulho
profissional, em idas primaveras, do Serviço de Trânsito. Conto aqui como isso
se deu. No comecinho da década de 50, JK Governador, fui trazido de Uberaba mode
tentar a vida na Capital, pelas mãos de uma prima querida, Anita Rosa de
Magalhães Goes. Figura humana extraordinária, mulher de dinamismo incomum e
bravura cívica. Era casada com um homem culto, de maneiras refinadas, com
brilhante passagem pela Polícia Militar, coronel Américo de Magalhães Goes.
Juscelino nutria pelo casal o maior apreço e acolheu pedido de Anita para que
eu fosse nomeado. Deram-me o cargo de escrevente datilógrafo no nascente
serviço de estatística de acidentes de trânsito, instalado na avenida João
Pinheiro, no prédio onde ainda hoje funciona o Detran. O chefe de Polícia na
época era Davidson Pimenta da Rocha, dono de forte personalidade. Era visto,
amiúde, naqueles tempos remansosos da segurança urbana, a transitar pelos
corredores, inteirando-se das atividades dos subordinados. A equipe da
Estatística, composta de três funcionários, tinha como chefe o engenheiro
Heráclito, cidadão idealista e talentoso. Vim a revê-lo, anos mais tarde, em
funções de relevo na atividade política. Essa grata passagem de minha vida
profissional recorda-me também que o ato de minha designação foi publicado no
"Minas" no mesmo dia da nomeação, para cargo idêntico, de uma pessoa
de grande valor intelectual cujo nome acha-se inscrito com letras reluzentes na
história da Polícia, Jesus Trindade Barreto, saudoso presidente da Academia
Municipalista de Letras de Minas Gerais, instituição que com muita honra hoje
presido.
Tocava-nos na seção
organizar os dados estatísticos, com base nos boletins de ocorrências. Num mapa
da cidade fincávamos percevejos coloridos. As cores serviam para diferenciar a
natureza dos acidentes. Os registros, naqueles tempos anteriores aos da
implantação da indústria automobilística, deixavam forte impressão. Nenhum de
nós, nem de leve, conseguiria adivinhar o que o incremento automobilístico
iminente desencadearia na geografia da cidade e que acabaria, comparativamente,
tornando inexpressivas e, até mesmo, amenas as nossas
"impressionantes" estatísticas. A incidência maior de ocorrências era
na Bahia e na Jacuí. Na primeira das ruas por conta dos postes centrais que,
dia sim outro também, faziam vítimas entre passageiros de bondes. Na segunda
rua, as colisões eram diárias num cruzamento com outros logradouros. Nada,
porém, ligeiramente parecido com as tragédias automobilísticas da atualidade.
Fiquei pouco mais de um ano
no Trânsito, sendo deslocado, ao depois, para servir na Delegacia Geral de
Polícia do Triângulo Mineiro, em Uberaba. Mas isso já são outros quinhentos.
Dos tempos do Trânsito,
conservei aceso um interesse especial pela problemática da circulação de
veículos e transeuntes nas ruas , cada dia mais congestionadas da cidade em que
vivo e que, por generosidade do vereador José Domingos, me fez seu cidadão
honorário. Adicionei, à vista disso, recentemente, às preocupações rotineiras
que carrego como homem do povo, com relação ao trânsito, o temor de que estejam
para ser produzidas mortandade e mutilações sem conta entre os motociclistas. O
que vivo presenciando por aí, a toda hora, em matéria de manobras ousadas,
executadas pelos intrépidos ocupantes dessas ziguezagueantes viaturas, é
enlouquecedor. As motos pintam na frente dos carros, subitamente, lembrando
cena de filme de suspense, sempre em velocidade imoderada, surgidas dos trechos
de percurso mais inesperados. Não tenho acesso às estatísticas de acidentes com
motos. Suponho, entretanto, que já estejam a confirmar o meu indesejável
prognóstico. Haja percevejo pra fincar no mapa.
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