Mano Augusto
Cesar Vanucci
“Augusto Cesar
Vanucci, um iluminado!”
(Artur da
Távola, jornalista)
Amigos diletos, ex-colegas de trabalho, companheiros
dedicados em bem sucedidas empreitadas culturais e de solidariedade humana
reverenciaram a memória de Augusto Cesar Vanucci, ao ensejo do transcurso do
25º aniversário de sua passagem para outro plano da existência. Uma série de
palestras, tendo como foco a vida e obra do vitorioso diretor de televisão,
acompanhada de representações teatrais, compôs a programação levada a efeito no
“Teatro Vanucci”, Shopping da Gávea, Rio de Janeiro, nas noites das
quartas-feiras de novembro passado. Coube-me, por deferência dos promotores do
evento, a honra de fechar o ciclo de exposições diante de plateia numerosa, de
expressão afetiva e intelectual.
Sintetizo, a partir de agora, as considerações feitas
na ocasião, naturalmente impregnadas de forte emoção. Mano Augusto foi uma
criatura iluminada. Um contemporâneo do futuro, pode-se dizer. Alguém
notoriamente provido de dons deveras singulares. Tanto na vida mundana, de modo
geral, como na profissão abraçada, de modo particular. Desde meninote deu
mostras de percepções invulgares. Passava sempre a sensação de saber das coisas.
Madrugou no conhecimento dos assuntos considerados essenciais ao processo de
construção humana.
Considerado “garoto prodígio”, pelos pendores
artísticos aflorados desde cedo, arrancava entusiásticos aplausos das plateias nas
apresentações que fazia, como cantor no rádio, teatros e outros locais abertos
a manifestações culturais. Com 12 anos de idade, levado de Uberaba pelos pais
ao Rio de Janeiro, concorreu à premiação para cantores no programa “Hora do
pato”, conduzido por Heber Boscoli, na Tupi carioca. Não deu outra: colocou o
auditório em delírio interpretando a canção “Canta Brasil”, de Alcir Pires
Vermelho e David Nasser. Passou a exibir o troféu conquistado na rádio em
espetáculos a que era convidado a participar em cidades do Triângulo Mineiro. O
pintor Cândido Portinari apreciava ouvi-lo nas visitas que fazia a amigos muito
chegados em Uberaba. Convidou-o, certa feita, para apresentação em sua terra
natal.
Deu-se na sede da União da Mocidade Espírita de
Uberaba o primeiro encontro de Augusto Cesar, ginasiano, com Chico Xavier, de
quem acabou se tornando, vida afora, fraternal amigo. O célebre sensitivo,
ainda residindo em Pedro Leopoldo (só muitos anos depois transferiu o
domicílio), visitava Uberaba pela vez primeira. Mano Augusto foi convidado para
um espetáculo em sua homenagem. Décadas mais tarde, já tendo se tornado nome
vitorioso na área do entretenimento artístico, primeiro brasileiro a ser
agraciado com um “Emmy” nos Estados Unidos e um “Ondas”
na Europa (pelo programa “Arca de Noé – Vinicius para criança”, levado ao ar
pela “Globo”), Augusto Cesar coordenou a campanha em favor da outorga do “Nobel
da Paz” a Chico Xavier. A documentação a respeito da história legendária do
mais famoso médium brasileiro continha assinaturas de dois milhões de cidadãos.
Com o documentário “Um homem chamado amor”, Augusto deu amplitude notável nos
meios de comunicação à obra de Chico. Ao mesmo tempo, adaptando para o teatro
textos extraídos de livros do mesmo, lançou a peça “Além da vida”. Esta peça
vem sendo encenada há um bocado de tempo, com público garantido, por grupos
diferentes, em palcos de todo o país.
Voltarei, adiante, a falar da ligação estreita de
amizade entre Augusto e Chico, detendo-me num episódio pra lá de inexplicável à
luz do mero conhecimento consolidado que temos das coisas deste mundo.
Retorno à cintilante carreira de Augusto no mundo das
artes, para dizer que ele, aos 18 anos, foi tentar a sorte no Rio de Janeiro.
Passou em primeiro lugar num teste no “Teatro do Estudante”, de Pascoal Carlos
Magno. Não concluiu o curso. “Olheiros” do setor teatral atraíram-no para a lida
profissional, importante para ele como meio de sobrevivência. Estreando numa
peça produzida pelas grandes vedetes Renata Fronzi e Mara Rubia, ele foi
chamado para o papel principal, logo depois, em “Feitiço na Vila”, musical com
repertório de Noel Rosa. Teve como parceiras no elenco Elizeth Cardoso e Mary Gonçalves.
Contracenou, adiante, com Bibi Ferreira no musical “Alô, Dolly”. Estrelou outra
peça originária da Broadway: “Como vencer na vida sem fazer força”. “Vamos
brincar de amor em Cabo Frio” foi uma outra comédia musical por ele
protagonizada. Enveredando pelo cinema, atuou em 18 filmes. “Eles não
voltaram”, primeiro celuloide sobre a participação da FEB na campanha militar
da Itália, foi um deles. Obteve numerosos prêmios como ator de cinema e teatro.
Assumindo na nascente Rede Globo de Televisão a função de diretor da linha de
shows e programas humorísticos, alcançou notoriedade nacional e arrebatou, como
já dito, prêmios internacionais. Foi um craque de seleção na atividade a que se
consagrou. Outras coisas que merecem ser ditas a respeito de sua marcante peregrinação
pela pátria terrena, inclusive, o episódio instigante acima aludido, ficam para
a sequência, já que esgotado o espaço de hoje destas maldatilografadas.
Chico Xavier e
Augusto Cesar
Cesar Vanucci
“Estou
perplexo! O querido Chico anteviu este nosso encontro.”
(Augusto Cesar
Vanucci)
Vejam só como são armadas nas latitudes
transcendentes, imperceptíveis ao olhar humano, as sincronicidades capazes de influenciar
atos decisivos na conduta cotidiana. Encontro casual, na sala de espera de uma
companhia aérea, no aeroporto de Congonhas, São Paulo, numa manhã de setembro de
1980, criou as condições propícias para que uma recomendação especial, de características
pode-se dizer mágicas, desembocasse numa campanha humanitária de efeitos
altamente positivos na história de benemérita instituição.
Os apoucados, posto que assíduos e atentos, leitores
destes mal alinhados escritos recordam-se, por certo, do registro feito no
comentário passado a respeito de um episódio instigante que me propus a
novamente relatar. Eu estava falando da palestra que proferi no Rio de Janeiro,
no Teatro Vanucci, Shopping da Gávea, na última quarta-feira de novembro, ao
ensejo da celebração dos 25 anos de passamento do mano Augusto Cesar Vanucci,
promovida por seus amigos e colegas de trabalho. Referindo-me às estreitas relações de amizade
de Augusto com o célebre sensitivo Chico Xavier – relações de amizade essas que,
ambos, fiéis às suas crenças, costumavam dizer remontar a tempos bastante
recuados –, comprometi-me a contar, neste acolhedor espaço, a historieta que se
segue. Nada demais repeti-la. O toque edificante e, ao mesmo tempo, comovente
que a envolve legitima o repeteco.
A convite do Lions, Augusto Cesar, à época diretor do
núcleo de musicais e humorísticos da Rede Globo, fez uma exposição, no mês e
ano acima citados, para público numeroso, no auditório da “Casa da Indústria”. Abordou
as infinitas perspectivas que se estavam abrindo, na área da comunicação, em
decorrência dos velozes e inimagináveis avanços tecnológicos da era eletrônica.
Palestra já em andamento, os dirigentes do Lions foram procurados por Adalberto
e Beatriz Ferraz, casal de saudosa memória, que se fazia portador de uma
postulação para apreciação de Augusto. No pleito era descrita a situação
aflitiva vivida, naquela fase, pelo Hospital Mário Penna. Pedia-se ao
destinatário do apelo que se engajasse na busca de uma solução para a
tormentosa questão, já que a organização citada via-se ameaçada em sua
sobrevivência. Encerrada a exposição, grupo reduzido rodeou Augusto para rápida
troca de ideias sobre o angustiante problema enfrentado pelo Mário Penna, um
centro assistencial, como ele pode comprovar em visita feita na manhã seguinte,
mantido na base do idealismo e abnegação por um punhado de pessoas abrasadas
pelo sentimento da solidariedade. Augusto Cesar ficou tomado de contaminante
emoção com o relato ouvido na “Casa da Indústria”. Saiu com uma revelação que
deixou todos à sua volta boquiabertos.
Começou por dizer que desconhecia, até aquele momento,
a existência do Mário Penna. Informou, ao depois, que cruzando com Chico Xavier
no aeroporto em São Paulo, este lhe pedira, com empenho, naquele tom suave de voz
todo seu, que não deixasse de atender pedido angustiado que lhe iria ser
formulado em favor de uma organização consagrada a assistir enfermos
oncológicos carentes. “Estou perplexo!”, asseverou. “O querido Chico anteviu este nosso
encontro”.
Estes os desdobramentos do incrível caso. Augusto atirou-se
com ardor e entusiasmo a serviço da causa. Tornou-se um de seus benfeitores. O
“Fantástico”, programa que criou e dirigia, focalizou em edições sucessivas as
coisas do Mário Penna, enfatizando suas dificuldades para sustentar-se
financeiramente. A instituição foi inserida entre as beneficiárias do “Criança
Esperança.” No Palácio das Artes e no Mineirinho foram levados a efeito, um
atrás do outro, espetáculos de artistas famosos, inclusive do exterior, com
renda destinada à obra. A série de palpitantes reportagens na televisão
estimulou o aporte de recursos do governo federal. O hospital Luxemburgo surgiu
dentro desse favorável contexto.
Desnecessário, a esta altura, sublinhar que, em
momento algum, Chico Xavier veio a ser procurado, por quem quer que seja, para
atuar como intermediário no auxílio prestado à organização. Sua misteriosa
intercessão nasceu de desígnios superiores. Desígnios que constituem charada de
difícil decifração para quem resista a admitir a infinitude dos territórios do
conhecimento extra-sensorial a serem ainda desbravados pela inteligência,
percepção e curiosidade humanas.
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