Programação
cultural fecunda
Cesar Vanucci
“A cultura é
ampliação da mente e do espírito.”
(Nehru,
pensador indiano)
A boa aquisição cultural consiste na tomada de
conhecimento daquilo que de melhor o espírito humano consegue projetar.
Estribados em tal premissa os participantes das assembleias da Academia
Municipalista de Letras de Minas Gerais (Amulmig) têm vivenciado instantes de
enriquecedora fruição literária e artística em seus rotineiros encontros
intelectuais. Acontece que a programação das tardes de terça-feira na
respeitada instituição é sempre sublinhada por requintado teor humanístico.
O aprazível recanto localizado no Alto das
Mangabeiras, em logradouro que traz o nome de escritor afamado (Agripa de
Vasconcelos) – prédio que pertenceu ao inolvidável estadista JK, integrante da
primeira ilustre leva de acadêmicos, e que conserva nas paredes traços
arquitetônicos saídos da prancheta criativa de Niemeyer -, acolhe sempre
público vibrante, apto a exercitar, nas duas horas de duração das reuniões,
proveitoso intercâmbio de ideias.
Breve recapitulação das acontecências culturais da
Amulmig no ano de 2017 comprova esplendidamente o que acaba de ser dito. O “Dia
da Mulher” e o “Dia da Poesia” foram foco de movimentada tertúlia literária
coordenada magistralmente pela escritora Maria Inês Marreco. Noutra ocasião,
dominada por atmosfera bem descontraída, a escritora Marilene Guzella M. Lemos
relembrou “os velhos carnavais” em aplaudida exposição. A importância do livro
infantil na formação cultural mereceu destaque em evento que congregou
talentosas intervenções de numerosos acadêmicos, vários deles com obras nessa
área da criação artística. Maria Armanda Capelão encarregou-se esplendidamente
da exposição central. Lucília Cândida Sobrinho comentou a obra de La Fontaine.
Altair Andrade de Pinho reportou-se aos trabalhos de Charles Perrault. Ângela
Ferreira Togeiro focalizou os livros dos Irmãos Grimm. De uma análise das
criações de Hans Christian Andersen encarregou-se Ismaília de Moura Nunes,
enquanto João Quintino Silva discorreu sobre Lewis Carroll e Tânia Mara Costa
Leite sobre Monteiro Lobato.
O “Mártir da Inconfidência” foi o título de excelente
palestra proferida por João Bosco de Castro, na celebração da “Semana da
Inconfidência”. O Desembargador Federal do Tribunal Regional do Trabalho,
Antônio Álvares da Silva, fez substancioso pronunciamento sobre “A Legislação
Trabalhista no Brasil” em assembleia destinada a comemorar o “Dia do Trabalho”.
Cesar Vanucci, noutra reunião, abordou o tema “O idioma como expressão da
cultura brasileira”. Em palestra rica de conceitos e informações
antropológicas, a professora Regina Bessa discorreu sobre a “Oralidade e
Escrita no Brasil”. O acadêmico Rogério de Faria Tavares retratou, com
elogiável fluência verbal, flagrantes altamente sugestivos da vida e obra de
Antônio Avelino Fóscolo.
No magnífico encontro destinado a celebrar o “Dia das
Mães”, a “Mãe do Ano Amulmig 2017”, Marilene Guzella Martins Lemos, falou, com
a costumeira eloquência, sobre “Os arquétipos das deusas mães de povos
primitivos”. A teóloga Marlene Vieira Chaves de Andrade, na sequência,
discorreu brilhantemente sobre “A totalidade que anima a sociedade humana, a
transcendência de Deus, a esperança e a desesperança diante do quadro em que
vivemos”.
Os tradicionais festejos juninos inspiraram outro
evento expressivo do ponto de vista cultural na programação da Amulmig. Lucília
Cândida Sobrinho encarregou-se da apresentação de atraente trabalho sobre o
sentido cultural dessas manifestações. Grupo folclórico da cidade de Luz,
coordenado pela acadêmica Cândida Correa Costa, emoldurou a reunião com lindos
números artísticos típicos.
Cabe enfatizar, a bem da verdade, que todos esses
acontecimentos alusivos à programação cumprida pela Amulmig no primeiro
semestre acusaram concorrida participação de acadêmicos e convidados. As
exposições motivaram interessantes debates, incorporando revelações, dados,
informações preciosas aos trabalhos focalizados.
A fecundidade das ações empreendidas pela Amulmig,
entidade que desempenha exemplarmente sua missão como guardiã serena de saberes
acumulados, é de molde a inspirar um
registro complementar, concernente aos eventos ocorridos no segundo semestre.
Fica para a próxima crônica.
Cultura, fonte
de
alegria e beleza
Cesar Vanucci
“Quando ouço
alguém falar em cultura, puxo do meu revólver!”
(Hermann
Goring, dirigente nazista)
Historiadores atribuem a Hermann Goring a frase que se
segue: “Quando ouço alguém falar em cultura, puxo do meu revólver!” Louis
Pauwells, um pensador que soube interpretar com exatidão, em poéticos voos
condoreiros pelos infindáveis domínios da imaginação, a fascinante - posto que
conturbada - aventura humana, tomou
conhecimento da boçal vociferação do chefe nazista, redarguindo com esta lapidar
exclamação: “Quando me falam em revólver, puxo a minha cultura!”
Estes conflitantes conceitos retratam entrechoque que
vara os tempos. De um lado, colocam-se os que proclamam, alto e bom som, a
primazia dos atributos culturais no comportamento cotidiano. No lado oposto
ficam os que, egoisticamente, reféns de empedernido utilitarismo, consideram as
manifestações culturais “coisa tal qual, que sem ela a gente vive tal qual.” Estes
últimos, enfurnados em mesquinho individualismo, enxergam a cultura como artigo
supérfluo. Pouco se importando com o atestado de supina ignorância que, por
conta disso, se lhes é agregado ao currículo, desconhecem ser a cultura instrumento
prioritário. Melhor dizendo, um impulso vital no processo de conscientização
das coisas do mundo. E, ainda, fonte de alegria e beleza.
Trago, com claro intuito, estas reflexões à apreciação
do culto leitorado no momento em que dou continuidade ao relato acerca das
efervescentes atividades culturais desenvolvidas pela Academia Municipalista de
Letras de Minas Gerais. Faço questão de enfatizar que, a exemplo de outras
valorosas e, mercê de Deus, numerosas instituições consagradas à difusão da
cultura, a Amulmig cumpre esplendidamente a missão de explicar que a cultura é
uma necessidade imprescindível de toda a vida. É uma dimensão constitutiva da
existência humana, como magistralmente assinala Ortega y Gasset, pensador
universal que viveu entre 1883 e 1955.
Recapitulando os eventos significativos de 2017
anotemos, primeiramente, que sete intelectuais de realçante presença na cena
mineira passaram a integrar os quadros acadêmicos: Tânia Mara Costa Leite,
Maria Inês Chaves de Andrade, Rogério Faria Tavares, João Bosco de Castro,
Martha Tavares Pezzini, Ignez Montepulciano e José Alberto Barreto. As
assembleias de recepção revestiram-se de grande brilhantismo. Como é da
tradição, a Academia homenageou o “Pai do Ano”. A carinhosa manifestação de
apreço recaiu na pessoa do decano da casa, Jair Barbosa da Costa. Este mesmo
acadêmico proferiu, noutro momento, uma bela palestra focalizando a opulenta
literatura portuguesa, com realce para a vida e obra de Luís Vaz de Camões. “Na
comemoração da “Semana da Pátria” a acadêmica Tania Mara Costa Leite reportou-se,
em aplaudida palestra, a descrever traços comportamentais e culturais
característicos da gente brasileira.
“A vida e obra do escritor Júlio Diniz” foi tema de
palestra, noutro encontro rodeado de entusiasmo, por parte da acadêmica
Ismaília de Moura Nunes. Leslie Ceoto Deslandes abordou, em sugestiva exposição,
o tema “Saúde: promoção e prevenção”. Outros trabalhos que despertaram grande
interesse do público, em diferentes reuniões, tiveram como autores Lucília Cândida
Sobrinho, que falou sobre “Poesia e Folclore”; Rogério Faria Tavares, que expendeu
comentário sobre “A vida e obra de Alfredo Caramatti”; e Almira Guaracy Rebêlo,
que analisou a trajetória literária da poeta portuguesa Virgínia Victorino.
Como existem outros expressivos registros a serem
feitos a respeito da pujante ação cultural empreendida pela Academia
Municipalista de Letras de Minas Gerais, deixo para artigo vindouro a
complementação deste sintético e singelo relato que me dispus a registrar neste
acolhedor espaço. Estou consciente do significado relevante que a divulgação de fatos positivos representa nesta fase da caminhada cotidiana sacudida por tanto desatino
e ignorância.
Cultura gera
vida
Cesar Vanucci
“A vida se vive
e se escreve.”
(Pirandello)
A cultura concorre para que se mantenha sempre ativado
o compromisso das pessoas com a verdade. Deduz-se daí, então, que ao fomentar
alegria e beleza a cultura gera vida em abundância. Na concepção acadêmica, um
mimoso conceito de Pirandello merece ser acatado como proposta ideal para boa
performance intelectual: “A vida se vive e se escreve”.
As instituições seriamente engajadas na divulgação da
cultura, constituindo estuário pujante do pensamento humanístico, conferem à
palavra, bem como a outras modalidades de expressão da inteligência, valor
essencial em suas iniciativas. Entendem muito bem que a palavra é “pura magia e
dona do coração” e, por esse motivo, “rege e conduz a alma”, como assegura
magistralmente Ronsard em suas “Elegias”.
As considerações alinhavadas servem para realçar, uma
vez mais, o relevante papel desempenhado por um instituto cultural no panorama
comunitário. Caso, sem tirar nem por, da nossa Academia Municipalista de Letras
de Minas Gerais, que desenvolve, como já dito pratrazmente, labor fecundo
permanente, com um sem número de promoções, na esfera de atuação que lhe toca,
em favor da cultura brasileira e da cultura universal.
Complementando agora as informações sobre o trabalho
levado a cabo pelos integrantes da Amulmig, anotamos mais um conjunto de
eventos e empreitadas expressivas no período assinalado. No curso de uma
assembleia dedicada à celebração da data de “São Francisco de Assis”, padroeiro
da organização, aconteceu também a sessão solene de proclamação dos resultados
dos concursos literários patrocinados em 2017. Essas promoções atraíram
centenas de concorrentes, de todas as partes do país e até mesmo do exterior.
As criações literárias avaliadas pelas comissões julgadoras, compostas de
acadêmicos, foram consideradas de nível excelente.
Focalizando o centenário da Associação Internacional
de Lions Clubes, a comunidade acadêmica recepcionou condignamente integrantes
do movimento leonístico mineiro. Foi ressaltado na manifestação que o Lions
Clube, presente em 220 países, reunindo milhões de associados, tendo assento
permanente na Unesco e operacionalizando estupenda obra social no Brasil e em
Minas, é o maior clube de serviços do mundo em participação de voluntários.
Um outro encontro serviu para que fosse prestado
emocionante preito de saudade à memória de duas ilustres acadêmicas que
“partiram primeiro” em 2017: Jacy Gomes Romeiro e Cely Vilhena Falabella. A
tradicional comemoração natalina, rodeada de invulgar brilhantismo, enfeixando
manifestações de rico conteúdo espiritual e artístico, foi mais um
acontecimento realçante na programação da Amulmig. Durante o ato reservou-se
espaço especial para uma homenagem à memória do saudoso acadêmico Theresino
Caldeira Brant, que estaria completando 100 anos de existência, se ainda entre
nós.
As assembleias levadas a efeito na Amulmig propiciaram
oportunidade para a apresentação de estudos e textos de apreciável teor
literário. Inspiraram movimentados debates em torno de momentosos temas da vida
contemporânea. Entre outras questões suscitadas, envoltas sempre em frutífero
intercâmbio de ideias, ganharam destaque os seguintes itens: a ameaça à
soberania nacional representada pelas contínuas propostas, nos altos escalões
do poder mundial, de internacionalização da Amazônia; a defesa dos postulados
democráticos e dos procedimentos éticos na condução dos negócios da Nação; o
respeito aos direitos humanos e aos direitos sociais; o reconhecimento de que a
paz mundial e o bem-estar humano se alicerçam na prosperidade econômica e na
superação dos angustiantes problemas provocados pelas desigualdades sociais.
As reuniões das terças-feiras da Amulmig foram também
marcadas, em 2017, pela presença esfusiante de colaboradores entusiastas,
ligados a atividades artísticas. Cabe aí menção para grupo folclórico do
município de Luz e para o tenor Marzo Sette Torres. Suas intervenções na
programação cumprida foram constantes, arrancando sempre calorosos aplausos.
Este singelo relato da atuação da Amulmig comporta
ainda outras anotações significativas. Liderando vibrantes ações da grei
acadêmica, Elizabeth Rennó e Luiz Carlos Abritta, presidentes eméritos,
contribuíram decisivamente para os bons resultados atingidos. Os livros
lançados, ano passado, por integrantes do quadro de associados da instituição,
dão para compor razoável biblioteca.
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