Cesar Vanucci
“Nesta terra construí minha vida e meu destino.”
(Francelino Pereira, referindo-se às
Minas Gerais de seu eterno afeto)
Francelino Pereira, que
acaba de deixar nosso convívio, pode ser apontado como um dos “últimos
moicanos” de um período na vida pública em que predominava, nos quadros de
liderança, estilo de fazer política mais harmonizado com os valores
republicanos.
Reverenciando sua memória,
reproduzo comentário, de uma década atrás, em que, neste mesmo acolhedor
espaço, reportei-me à sua refulgente trajetória.
“Chão a perder de vista.
Chão áspero desbravado com indômita vontade por alguém predestinado a
desempenhar uma missão relevante na história de seu país. Chão que, a partir de
Angical, nas lonjuras piauienses, se encomprida pelas vastidões montanhosas do
país das Gerais. Avança, ao depois, pelos chapadões sem fim do Planalto
Central. Embica, adiante, por tudo quanto é canto do fascinante continente
brasileiro. Chão palmilhado por Francelino. Um homem que se encantou, desde
cedo, com a nobreza da ação política, abraçando-a com todas as forças como
ideal de vida inteira, cobrindo um percurso extenso, pontuado de cintilações.
O Kao Martins, com a
colaboração do Paulino Assunção e Sebastião Martins, soube compor, ancorado em
esplêndido trabalho de pesquisa, essa trajetória edificante do “menino, jovem e
adulto que teve a audácia de sonhar um sonho impossível, a determinação de
persegui-lo e – contra todas as previsões e evidências – realizá-lo integralmente”.
O livro “O chão de Minas” ocupa-se de uma saga inspiradora. Que saga! Descreve,
com riqueza de pormenores, muitas revelações inéditas, os caminhos trilhados
por esse cidadão do Piauí, mas mineiríssimo quanto os que mais o sejam, que por
meio século afora desempenhou papéis de importância no palco dos
acontecimentos. O pano de fundo da narrativa projeta pedaço de tempo de forte
impacto na história. Tempo sacudido por turbulências ideológicas, entrechoques
ferozes, emoções arrebatadas. Por clamorosas perdas de direitos essenciais, em
instantes trevosos. E, em momentos posteriores, tempo também marcado,
recompensadoramente, pela (re)conquista preciosa do regime democrático, com
seus valores e imperfeições, mas com suas insuplantáveis vantagens sobre quaisquer
outras formas de governo.
Vereador, deputado,
dirigente partidário, governador e senador, Francelino Pereira viveu de forma
intensa a ebulição desse processo histórico inovador e transformador. Cuidou de
escrever com lisura ética, espírito público, disposição progressista, o
capítulo correspondente à sua participação. Bem dotado intelectualmente, hábil
conciliador, construiu pontes de relacionamento com correligionários e
adversários, nas diferentes correntes políticas. Essas ligações se revelariam valiosas
em horas cruciais.
A sólida formação
humanística de Francelino desponta em numerosos trechos da vibrante narrativa.
São captados flagrantes sem conta de seu jeito de ser afável, simples e
descontraído. Nas culminâncias do poder, ele nunca se desapegou de hábitos que
lhe garantiram, vida pública adentro, o apreço e admiração das ruas.
Eu sei que, nos tempos de
governador, Francelino costumava tomar do telefone para mensagens pessoais que,
não poucas vezes, surpreendiam a pessoa contatada. Bate-me aqui, na memória,
ainda agora, uma historinha que ouvi contar a propósito dessas chamadas. A
esposa de um executivo atende, na manhã de um domingo, o telefone na sala e
diz, num tom de voz meio desconfiado, para o marido: - Tem um cara aí falando
que é o governador. Quer cumprimentá-lo pelo aniversário. Tou achando que é
brincadeira de seu irmão. Ele não perde chance pra bagunçar o coreto... Era
brincadeira, não.
Outra historinha singela
que a leitura do livro reaviva na lembrança passou-se em meu escritório. Livro
de minha autoria ganhara comentário no jornal. Estava acabando de lê-lo. Quem
mesmo me surge, de repente, na porta da sala, à cata de um exemplar da obra?
Francelino, o próprio. Com aquele seu estilo despachado de explicar a que vem,
garantiu-me, com a espontaneidade do inesperado e simpático gesto, duradoura
satisfação.
“O Chão de Minas”
reporta-se a episódios menos conhecidos na atuação do biografado que só fazem
enriquecer-lhe a lenda pessoal, enaltecendo sua vocação cívica. Um deles: frente
a frente com Costa e Silva, em encontro no palácio presidencial, Francelino
recusou-se a seguir a orientação dada pelo governo no caso da pretendida
cassação do mandato de Márcio Moreira Alves. Seu nome, por causa disso, chegou
a ser incluído numa lista de cassações elaborada pouco depois da edição do
dolorosamente célebre AI-5. Misteriosos desígnios impediram fosse a violência
consumada. Adiante, Francelino empenhou-se de corpo e alma na batalha pela
reclamada distensão política, à hora da transição do regime autoritário para o
estado de direito.
Em todas as funções
exercidas, primando-se sempre pela austeridade, deixou evidenciada singular
capacidade empreendedora. Atos marcantes de sua trepidante movimentação
política anotam que ele sempre fez uso correto e harmonioso, nas intervenções e
articulações, de uma dose de energia e outra dose de jeito. Tomando posse na
Academia Mineira de Letras, falou de sua enternecida paixão por Minas: “Nesta
terra construí minha vida e meu destino. Desta Minas de tantos heróis, de tão
belas e sóbrias tradições, recebi uma acolhida que nunca julgaria possível
(...) A esse espírito e a essa alma mineira dediquei toda a minha vida e o
melhor da minha capacidade.”
Pura verdade. “O chão de
Minas” documenta isso.”
Cada coisa!
Cesar Vanucci
“É preciso convir que a comédia faz parte do viver em
sociedade.”
(Chamfort, pensador francês do século XVIII)
u O “Troféu”.
O governo tucano do Estado de São Paulo qualifica-se, pelo visto, como
candidato fortíssimo na renhida disputa pelo ambicionado troféu “Cara de Pau”
2017. Com comovente pudicícia, a ponto de despertar inveja até em escolados
estrategistas em manjadas manobras casuísticas e fisiológicas, tão a gosto da
grei política, anunciou em tom solene a inabalável decisão de processar as
empreiteiras corruptas que, em conluio com agentes públicos e políticos,
estruturaram na gestão administrativa bandeirante esquemas de supervalorização
dos custos de obras públicas. E, via de consequência, instituíram propinoduto
de avolumado tamanho, contemplando elementos da patota governista. O esquema
montado pelo cartel de empresas “ameaçadas” de serem levadas às barras dos tribunais
pelas patifarias cometidas é, sem tirar nem por, cópia escarrada dos modelos
que resultaram em operações de investigação do tipo “Lava Jato”. Isso não vai
ficar assim, não, assegura, “destemidamente”, o governo bandeirante. É o que
todo mundo, aturdido e inconformado com tanta bandalheira, sinceramente almeja.
v “Penduricalhos”.
Relatório divulgado em janeiro passado pelo Conselho Nacional de Justiça estima
que, em 2015, os “penduricalhos” nas folhas de pagamento dos servidores do
Judiciário alcançaram a cifra himalaiana de 7 bilhões e 200 milhões de
reais. Por “penduricalhos” compreenda-se
conjunto de vantagens adicionais às remunerações salariais, gênero “auxílio
moradia” etecetera, etecetera... O jornalista Élio Gáspari lança, a propósito
da revelação, sugestivo e atordoante dado comparativo. As toneladas de ouro
extraídas de Serra Pelada, maior jazida do mundo a céu aberto do nobre metal,
renderam em grana sonante, valores de hoje - vejam só! -, 4 bilhões e 600
milhões de reais. Dá procês?
w “Desvios”.
A direção da Eletrobrás houve por bem contratar os serviços de renomada
organização especializada, a “Hogan Lowes”, para apurar supostos desvios de
recursos domésticos. A prestação de serviços do escritório custou aos cofres da
empresa a bagatela de 400 milhões de reais. Os desvios criteriosamente
levantados somaram valor um tiquinho menor: 300 milhões. A desconcertante
informação é fornecida pelo jornalista Maurício Lima, na “Veja”.
“Certeza”.
“Tenho 101% (cento e um por cento) de certeza de que ele é um cidadão honesto”.
O categórico pronunciamento foi feito pelo deputado Paulo Maluf, ex-governador,
ex-candidato à Presidência, atual ocupante de uma cela em presídio federal,
referindo-se ao Presidente Michel Temer, à saída do Palácio do Governo, depois
de cordial visita de solidariedade ao amigo de décadas.
“Discriminação”.
Integrante das fileiras do “Podemos”, o deputado Rodrigo Delmasso, da chamada
“bancada evangélica”, manifestou recentemente o propósito de instituir a
“Semana de valorização da heterossexualidade”. Garantiu, em declaração tornada
pública, ser alvo de discriminação, volta e meia, por confessar-se hetero.
6 “Vapores afrodisíacos”. A pequena vila de Ringaskiddy, na Irlanda, sedia fábrica
da Pfizer onde é fabricado o medicamento de maior saída nas farmácias de todo o
mundo, o “Viagra”. Em decorrência, ao que se presume, de marquetagem
ardilosamente orquestrada, o povoado tem atraído, de tempos a esta parte,
crescente volume de turistas. Tudo por conta de intrigante “revelação” que os
moradores botaram pra circular. Segundo eles, ninguém no lugarejo carece recorrer
a receitas pra desfrutar os efeitos do remédio. O “pessoal” jura que a
apelidada “fumaça do amor”, expelida pelas chaminés da fábrica, contém poder
afrodisíaco mais do que suficiente para combater com eficácia a disfunção
erétil. Os cientistas negam. Dizem que tudo não passa de conversa fiada. Mas,
pelo sim, pelo não, relatos chegados da vila garantem que as aglomerações
masculinas (e até femininas) ao redor da unidade fabril vão se fazendo mais
frequentes, a cada dia.
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