A erupção das falsas notícias
Cesar Vanucci
“Há
loucura, mas há método nela.”
(Shakespeare)
A erupção, pode-se dizer
vulcânica, das incandescentes falsidades que andam enxameando as redes sociais
é fruto, no mais das vezes, de ódio exacerbado, crassa ignorância,
intolerâncias e preconceitos dilacerantes. Mas o que mais intriga, chegando até
mesmo a amargurar as pessoas de juízo perfeito, providas de bom senso,
sentimento nacional e sensibilidade social, não são bem as propagadas sandices
propriamente ditas. E, sim, a estarrecedora constatação de serem numerosos, bem
mais numerosos do que o admissível, os setores aparentemente alfabetizados em
termos de práticas cidadãs e de conhecimento político a absorverem, sem grandes
questionamentos, o besteirol alardeado, urdido com inocultáveis intuitos
maquiavélicos e maniqueístas.
As chamadas “fake news” são
repassadas adiante sem qualquer avaliação crítica. Ressoam, absurdamente, em
muitos ambientes, como se fossem verdades incontestes. Na fanatice de uns e
outros, ganham conotação dogmática, cruz credo! Contaminam a atividade
comunitária, ao espalharem-se com velocidade de grama tiririca. As
características malsãs desse fenômeno, registrado na fascinante esfera da
comunicação célere, clamam por uma reflexão mais aprofundada das lideranças,
dos formadores de opinião. No salutar sentido de proteger o sagrado interesse
coletivo, projeta-se como extremamente necessário um estudo urgente, bem
articulado, por gente realmente capacitada a analisar as consequências por
inteiro da momentosa questão. Afigura-se indispensável a criação de
salvaguardas legais, harmonizadas com os preceitos democráticos, que anteponham
óbices eficazes à ação insidiosa em marcha. O que grupelhos minoritários e
rancorosos estampam rotineiramente nas redes sociais não espelha o genuíno
sentimento da sociedade brasileira. Em esforço diuturno condenável, esses
radicais empenham-se em disseminar informações destituídas de fundamento com o
indisfarçável objetivo de semear a confusão nos espíritos das criaturas
desavisadas. O que anda acontecendo, aqui (e lá fora, também), em matéria de
divulgação deturpada, impregnada de perversidade, remete a inglórios momentos
da história. Goebbels, um dos artífices do nazismo, dizia que a mentira
repetida acaba virando verdade. O sinistro Adolf Hitler, em “Minha Luta”,
referenda, lugubremente, o insano conceito de seu fiel “aspençada”: “As grandes
massas do povo (...) são mais facilmente vitimadas por uma mentira grande, do
que por uma mentira pequena.”
Tem muito nego por aí deitando
e rolando na internet, a emitir, com suas interpretações e versões mentirosas,
certificado pessoal de haver captado com exatidão as aberrações conceituais
hitleristas.
Um amigo meu, bem identificado
no que diz e escreve pelo posicionamento crítico com relação às lideranças
políticas e siglas partidárias, sem exceção alguma, conta-me uma historinha
surreal que serve como magistral amostra da enxurrada de insanidades despejadas
na internet. De um cidadão bem posto na vida pública, que já exerceu cargos
relevantes, seu conhecido de longa data, recebeu postagem contendo “incrível
denúncia”. A mensagem dava conta de que “a pensão de valor mais elevado paga
pela Previdência Social favorece, ninguém mais, ninguém menos, do que a viúva
de Che Guevara” tendo sido “concedida” pelo governo passado.
O destinatário da mensagem
colocou, naturalmente, em dúvida a alegação. Sustentou que coisa assim, tão
absurda, não passaria desapercebida às redes de televisão e imprensa de modo
geral. Ficou de queixo caído com a réplica do propagador da denúncia. A
observação que fez foi assim rebatida: “Deixe de ser ingênuo, companheiro. Só
você não está sabendo que as televisões,
as rádios e os jornais receberam dinheiro dos grandes empreiteiros, por ordem
do José Dirceu, para esconder os fatos graves que andam acontecendo.” Nada mais
foi dito e, obviamente, nem foi perguntado. O kafkiano diálogo parou aí.
Só mesmo Shakespeare pra
explicar, talvez, os desatinos cometidos nas redes: “É loucura, mas há método
nela.”
Mais um bocado de
indagações intrigantes
“É impossível saber o porquê de tudo. Mas pra muita
coisa existem respostas que não podem deixar de ser dadas.”
coisa existem respostas que não podem deixar de ser dadas.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)
Como dito anteriormente, neste mundo do bom Deus em que o tinhoso
costuma plantar barraco, semeando confusão e discórdia pra valer, as inexplicabilidades
abundam. Perguntas brotadas da aflição e aturdimento das ruas sobrepairam
suspensas no ar, na ausência de respostas convincentes. Mal comparando, as perguntas,
em circunstâncias que tais, soam com o fragor de tempestade, a um só passo que
as respostas têm o embalo de mero chuvisco causador de constipação. Recorrendo
a mais uma metáfora: o volume das perguntas sugere rio caudaloso. O das
respostas dadas, pequeno riacho.
A tremenda insuficiência de informações, de esclarecimentos ardentemente
almejados decorre, em grande parte – é o óbvio ululante – da proverbial
ignorância humana com relação ao colosso de coisas que permeia a conturbada
aventura da vida na pátria terrena. Mas decorre, também, em menor escala
naturalmente, de outros variados e significativos fatores. Há respostas
sonegadas por conveniências políticas, econômicas, culturais, sociais.
Conveniências, assinale-se de passagem, não poucas vezes espúrias. Há (e como
há!) o sibilino comportamento de pessoas, grupos, corporações, de diferentes
matizes, morbidamente empenhados em falsear a realidade dos fatos. E, a partir daí, compor versões deturpadas
para fins de divulgação. Há um mundão de gente, posando de “sabichões”, de “proprietários
da verdade”, navegando nas mesmas fétidas águas da adulteração dos registros
cotidianos ou históricos, que finge entender dos assuntos, arvorando-se, sem
pudor algum, a emitir explicações na base do “lero-lero”. Desprovidas de
fundamento, logicamente.
Estas considerações nos estimulam a alinhar, outra vez mais, novos
“porquês” sobre situações que intrigam e amofinam o cidadão do povo.
A Embraer é uma empresa brasileira internacionalmente aclamada como polo
de tecnologia avançadíssima, na área da aeronavegação. De tempos a esta parte,
personagens ligados ao governo central vêm sustentando, de forma obsessiva e,
igualmente, suspeitosa, a necessidade de desnacionalizá-la. Revela-se muito
forte, também, a disposição dos mesmíssimos personagens em proceder, de
idêntica forma, no tocante à Eletrobras, outra referência importantíssima na
estrutura desenvolvimentista nacional. Indaga-se: por quê todo esse incontrolável
afã em torno de empreitadas sabidamente rechaçadas pela consciência cívica das
ruas e pelo sentimento nacional?
A Justiça tem proferido, com frequência, decisões contrárias ao
ganancioso sistema de saúde privada, no que diz respeito à indecente duplicação
do valor das mensalidades dos usuários, quando estes se abeiram dos sessenta
anos de idade. As decisões deixam claramente documentado que, assim agindo, os
planos de saúde agridem acintosamente os direitos humanos e o estatuto dos idosos.
Derrotadas nas Instâncias inferiores, as empresas vêm interpondo recurso atrás
de recurso procrastinatórios, arremessando a análise decisiva para outra
esfera. Indagação que se recusa a calar: Será que já não chegou a hora de os poderes
mais elevados da Justiça definirem, vez por todas, com um saneador veredito,
tão tormentosa questão? Por quê não o fazem?
O influente complexo midiático, televisivo e impresso, que tanto se
ufana em proclamar sua reta intenção e isenção nas abordagens da avalancha de
maracutaias que assola o país, costuma manter-se reticente, quando não
inteiramente mudo e quedo que nem penedo, numa situação muito bem
caracterizada. É quando irrompem denúncias, que se vão fazendo constantes,
tanto quanto já aconteceu com outras siglas partidárias comprometidas nos desvios
e propinas, implicando eminentes próceres tucanos da Paulicéia. Por quê isso
acontece?
O Presidente da República e a Presidente do Supremo Tribunal Federal
omitiram, nas respectivas agendas de compromissos oficiais, o registro de
encontro reservado que mantiveram, com ligação, presume-se, aos palpitantes
acontecimentos políticos da atualidade. O episódio, como não poderia deixar de
ser, foi recebido como muita estranheza, se não com perplexidade. O regramento
institucional republicano e democrático desaconselha procedimento com essa conotação
singular. Por quê isso aconteceu?
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