O radicalismo
não tem limites
Cesar Vanucci
“A salvação do homem não vem do leste nem do
oeste, vem do Alto.”
(Tristão de
Athayde)
Usei, em fala
recente, a expressão “radical fanático”. “Isso é pleonasmo!” - anotou, de
pronto, estimada amiga, presença realçante em atividades voltadas à defesa da
democracia e direitos fundamentais. O papo girava em torno dos destemperados
posicionamentos de indivíduos e grupos radicais, de diferenciados matizes, que
vêm dando o “ar da graça” no conturbado cenário brasileiro, botando pra fora,
em gestos e vociferações raivosos, suas propostas incendiárias.
A sinalização
dos “façanhudos atos” dos extremistas de carteirinha revela-se abundante. Nas
redes sociais, o pessoal deita e rola. Os radicais realimentam o febeapá de que
falava o irreverente Stanislaw Ponte Preta. Mas, mais do que isso, lançam no ar
mal estar e desassossego sociais. Propagam falsidades, constroem versões
insanas de histórias em evidência, falsificam dados, deturpam as coisas, fazem
de tudo para implantar a inquietação nos lares e nas ruas. Não enxergam limites
nos nefandos propósitos. Tentam intimidar autoridades envolvidas em investigações
criminais; agridem verbalmente e fisicamente pessoas de cujos pontos de vista discordem;
picham fachadas de prédios e obstruem acessos rodoviários em retaliação contra
decisões que lhes desagradem; disparam tiros contra veículos que conduzem
caravana de dirigente político em campanha eleitoral; até mesmo, no auge da
paranoia, eliminam vidas preciosas, como sucedeu no caso da destemida vereadora
carioca e assessor, um atentado que comoveu a Nação sem solução à vista, pelo
menos até o momento em que estes escritos são datilografados.
Entre vários
outros lances de natureza radical há um episódio recente, no mínimo intrigante,
não noticiado pela grande mídia com o alarde de que se faz merecedor, carecedor
ainda de esclarecimentos suficientes por parte das autoridades, compreendendo
declarações ameaçadoras confusas, de origem não identificada, interceptadas pelos
serviços de escuta do tráfego aéreo durante a operação do voo que transportava
o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva a Curitiba, no cumprimento da ordem de
prisão determinada pela Justiça.
Tudo quanto
dito acima, amostra representativa de condutas radicais produzidas - repita-se
- por extremistas de diferentes falanges, antagônicas, com toda certeza em não
poucos posicionamentos, configura febril atividade de um punhado de indivíduos
e núcleos empenhados em promover estragos de proporções. É certo que as
lateralidades ideológicas incendiárias, em suas distorcidas percepções das
coisas do mundo, pouco se lixam para os sentimentos das ruas. Sabem-se
insignificantemente minoritárias, mas persistem na ilusória concepção de
exercerem “redentora missão” como “salvadores da pátria”. Sentem ojeriza da
democracia. Renegam as liberdades fundamentais, as aspirações de paz que
palpitam nas mentes e corações. Não se preocupam nadica de nada com a
circunstância de que a sociedade abomina pra valer suas desconstrutivas
proezas. Para o extremista fanático (olha o pleonasmo aí, de novo) quanto pior,
melhor.
Muita gente supõe
equivocadamente que os radicalismos de inclinações rotuladamente opostas não
encontrem ponto de conciliação em suas trajetórias. O denominador comum do ódio,
carregado pelos adeptos nas vísceras, torna todos eles, todavia, mais próximos
do que imagina nossa vã filosofia. A história está recheada de exemplos.
Mussolini bandeou de lado ao virar ditador fascista. Hitler e Stalin, no começo
da segunda guerra mundial, firmaram um pacto de não agressão que levou à
partilha da Polônia, antes que ocorresse a invasão malsucedida das tropas
alemãs ao território russo, que resultou na reversão dos rumos do conflito.
Anos atrás,
fiquei conhecendo pessoas de nacionalidade húngara que encontraram abrigo no
Brasil quando da odiosa perseguição nazista aos judeus. Eles haviam retornado
de uma viagem à terra natal. Confessaram-se atônitos: radicais bastante
conhecidos no passado da repressão do nazismo continuavam firmes nas rédeas da
repressão em nome do comunismo.
E, por
derradeiro, como sugestão a uma reflexão, um conceito lapidar, de permanente
atualidade, transmitido por ninguém mais, ninguém menos, que Tristão de
Athayde: A salvação do homem não vem do leste, nem vem do oeste. Não vem dos
lados. Vem do Alto. Outra frase magistral: “O radical é alguém com os pés
firmemente plantados no ar.” É de Franklin Delano Roosevelt.
As forças da
desordem carioca
Cesar Vanucci
“Desde
fevereiro, quando foi decretada a
intervenção federal na segurança do Rio,
coisas estranhas aconteceram.”
(Jornalista
Élio Gáspari)
As poderosas
forças da desordem, que dominam estratégicos redutos e esquemas na vida carioca,
estão emitindo claros sinais de desafio à intervenção federal na segurança do
Estado. Desnorteantes indicações a respeito desse audacioso procedimento foram trazidas
ao conhecimento público pelo sempre bem informado jornalista Élio Gáspari.
Incorrigíveis
em sua aberta disposição de confrontamento com as leis que regem a convivência
social, das quais deveriam ser por dever de oficio zelosos guardiães,
integrantes da chamada “banda podre” dos organismos policiais do Rio de Janeiro
vêm procurando criar todo tipo de óbice imaginável às ações das autoridades
incumbidas de executar as operações de combate ao crime.
A fieira das
“coisas estranhas” que andam pintando no pedaço teve começo, pouco depois do
decreto de intervenção, com a execução da vereadora Marielle Franco e seu
motorista Anderson Gomes. Silêncio de tumba etrusca se abateu, até aqui, sobre
o trabalho investigatório, causando compreensível espécie. Como uma coisa puxa
a outra, a história do atentado que comoveu o país levou, dias após, à notícia,
divulgada sem o costumeiro alarde midiático, da suspeitosa execução do
colaborador de parlamentar carioca. O edil havia sido chamado a prestar
depoimento no inquérito que apura o assassinato de Marielle.
Outro episódio
estranho, contado pelo jornalista, ocorreu quando do anúncio do
desencadeamento, por tropas do Exército, do processo de pacificação na Vila
Kennedy. O gabinete do interventor foi surpreendido por uma operação que
destruiu barracas e quiosques comerciais em logradouros da comunidade. Os
autores da ação criminosa não foram identificados. Mais adiante, houve outro
registro esquisitíssimo. No correr de inspeção do general que chefia o gabinete
da intervenção a um batalhão da PM, parte da tropa formada recusou-se a
prestar-lhe a continência devida.
Os vazamentos
sucessivos em torno das ações planejadas com o fito de desmantelar os núcleos
do banditismo organizado vêm tornando o trabalho, em várias ocasiões, ineficaz.
Isso ficou comprovado, por exemplo, em surtidas do Exército a unidades
prisionais e aglomerados comunitários. No Complexo de Lins, operação que
aglutinou 3.400 militares, nada praticamente de relevante, devido ao alerta
prévio aos delinquentes, foi detectado. Outro lance “singular”: o gabinete da
intervenção ordenou o retorno, aos batalhões de origem, de 3.100 policiais
militares e bombeiros colocados à disposição de outros órgãos do governo do
Rio. Mês e meio depois da determinação, mais da metade dos 150 PMs lotados na
Assembleia Legislativa ainda não haviam se apresentado à corporação.
Toda essa
sequência de episódios desconcertantes, narrados por Gáspari, induz a conclusão
de que, para alcançar resultados, a intervenção no setor da segurança no Rio de
Janeiro vai ser obrigada a lançar mão, com foco em elementos das forças
auxiliares de segurança, de medidas drásticas capazes de desfazer o nó górdio
das espúrias engrenagens emaranhadas no aparelho policial.
Passa a fazer
sentido, quando se tem ciência de fatos assim, a polêmica e impactante
afirmação recente do Ministro de Estado que, ainda recentemente, denunciou a
existência de um conluio de comandantes de unidades da PM carioca com
organizações de traficantes e milicianos.
Tá danado!
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