Crime de lesa-humanidade
Cesar Vanucci
“Tô com saudade de você mamãe!”
(Garoto
salvadorenho de 9 anos, no primeiro contato com a mãe depois de um mês da separação de ambos promovida pelo
serviço de imigração estadunidense)
Para muita gente no juízo perfeito a dúvida que
persiste, quanto a sanidade mental de Donald Trump, fica cifrada apenas numa
averiguação meticulosa sobre se ele costuma arremessar pedra em avião com a mão
solta, ou se vale de uma atiradeira mode quê fazê-lo. São a perder de vista as
evidências de que a cachola do supracitado cidadão comporta insuficiência de
parafusos.
Entre renomados especialistas nos ramos psiquiátrico e
psicológico há quem não hesite, instante sequer, a propósito das reações do
cara, em sustentar o diagnóstico de doido varrido. Já outros estudiosos do
comportamento humano mostram-se menos contundentes na avaliação. Mas, mesmo
evitando declinar expressamente o grau extremado da desordem psíquica do dito
cujo, ainda assim recorrem, nas análises, a expressões e metáforas que acabam
soando em ouvidos mais atentos como sinônimas da palavra maluquice.
Em decisões, declarações, rompantes públicos,
registros nas redes sociais, o dirigente do mais poderoso país do planeta,
detentor do “direito” de poder acionar dispositivos com capacidade para
produzir o armagedom dos pavores universais, documenta exuberantemente, ao
vivo, um inequívoco caso clínico que espalha desassossego à pamparra. Os traços
de paranoia, narcisismo e arrogância, notórios em sua personalidade, o
destempero verbal municiado por inocultável obtusidade intelectual geram
perplexidade e inquietação crescentes. Levantam expectativas sombrias quanto ao
que possa vir a acontecer, de inesperado e impactante, como resultado de suas
delirantes elucubrações.
É, pois, correta a associação do nome do homem a uma
ameaça à segurança da humanidade. Naquela cabeça, adornada por penacho dourado
apreciado pelos chargistas, reside claramente um baita perigo. A sinalização
abundante de sua egolátrica perturbação compreende agravos, indistintamente, a
adversários e companheiros. Indoutrodia, vimos como ele contribuiu
eficientemente para o fiasco da reunião do G-7. Depois de haver aposto o
chamegão no documento, retirou sem mais essa ou aquela a assinatura do
comunicado consensualmente elaborado pelos participantes do certame. Diante de
seus aturdidos pares, acusou o Primeiro Ministro do Canadá, Justin Trudau, de
“fraco, desonesto e indigno dos tempos de Trump”. Algo simplesmente inusitado
na crônica do relacionamento diplomático de aliados tradicionais.
Sair, sem maiores explicações, de acordos importantes
para a causa da paz, inventar sanções econômicas em negócios com parceiros
viraram moda em suas oscilantes interpretações do jogo político internacional.
Ameaçar os outros com o arsenal destrutivo avassalador dos Estados Unidos é
parte do repertório apresentado à plateia mundial, em sua ânsia de protagonismo
como líder imperial supremo. As tensões trazidas com suas atitudes deixam
terríveis sequelas. E nem é o caso de estender muito a lista dos infindáveis
eventos de consequências nocivas irrompidos por culpa dos destemperos de Trump.
Concentremo-nos, portanto, apenas, por agora, em seu
gesto apavorante mais recente. Exatamente, aquele caso da crueldade praticada
contra criaturas indefesas com a alardeada política de imigração na base da
“tolerância zero”. Mesmo entre os mais embrutecidos em termos de sensibilidade,
não houve quem não recordasse o holocausto promovido pelo nazismo ao contemplar
as cenas, mostradas na tevê, dos milhares de pais e filhos virulentamente
separados e encaminhados a centros de detenção diferenciados. E o horror não
parou aí! O destino de uns e outros ainda permanece incerto e não sabido.
Recolhidos a verdadeiras jaulas, pais e filhos não conseguem se comunicar. Às
vezes, por meses inteiros.
As pessoas providas de lucidez de espírito,
sensibilidade social, solidariedade humana encontram dificuldade em compreender
como algo tão hediondo possa ser perpetrado, conscientemente, em flagrante
escárnio aos direitos humanos fundamentais, num país que tanto se ufana de seu
estágio civilizatório! O crime de lesa-humanidade está mais que configurado
nessa ação do governo Trump.
Doidice sim, mas existe, por trás de tudo, um método
perverso de teor racista. Há adeptos do hitlerismo soltos na praça.
O dever de alertar
Cesar Vanucci
“Uma pessoa
mentalmente instável, como o senhor Trump,
não deve exercer competências
presidenciais com poder de vida ou morte”.
(Judith
Lewis Herman, de Harvard, e Bandy Lee, de Yale)
Confessando-se
leitora assídua dos artigos deste desajeitado escriba, Maria Magdalena Fagundes
Amaral, professora, manifesta plena concordância quanto aos conceitos
expendidos no comentário passado, referente à cruel decisão do presidente
Donald Trump segregando pais e filhos a pretexto de combater a imigração
ilegal. Coloca-nos, ao mesmo tempo, a par do lançamento, ainda recentemente,
nas livrarias dos Estados Unidos, do livro “O Perigoso Caso de Donald Trump”
(“The Dangerous Case of Donald Trump”, título original). Adiciona a explicação
de que a publicação já entrou no circuito das redes sociais.
Os autores,
médicos psiquiatras, psicólogos, advogados, pensadores, terapeutas, analisam
sob diversas facetas o perfil do atual mandatário de seu país. Chegam à conclusão,
sem discrepância, de que o personagem em foco tem mesmo o “miolo mole”, como é
de costume dizer-se na saborosa linguagem das ruas. “Coletivamente com nossos
coautores, afirmamos peremptoriamente que uma pessoa mentalmente instável, como
o senhor Trump, não deve exercer competências presidenciais com poder de vida
ou morte”, pontuam no prefácio os especialistas em comportamento humano Judith
Lewis Herman, da Universidade de Harvard, e Bandy Lee, da Universidade Yale.
Lance Dods, também de Harvard, expressa que Trump revela traços sociopáticos,
com perda persistente da realidade. Sua saúde mental constitui ameaça para os
Estados Unidos e para o mundo. Esta, por sinal, a dedução a extrair dos ensaios
e análises dos 27 autores da obra. Eles convergem no diagnóstico de que o
cidadão mencionado ostenta sinais iniludíveis de doença mental.
Philip Zimbardo, psicólogo, sustenta com convicção, no trabalho que
assina, ser Trump “a pessoa mais perigosa do mundo” (...), “líder poderoso de
um país poderoso, que pode ordenar o lançamento de mísseis contra outro país
por causa da aflição individual, ou aflição de membros de sua própria família”.
O famoso escritor Noam Chomsky, a jornalista Gail Sheehy e o psiquiatra James Gilligan, da
Universidade de Nova York, figuram entre os autores da obra. Compartilham com
os demais a tese de que Trump projeta comportamento antissocial, narcisismo e
tendência chauvinista mais que suficientes como recomendação a que seja
removido do cargo ocupado. O citado Gilligan sustenta, em seu depoimento, que
muitos colegas na área da psiquiatria revelam-se “tímidos” ao emitir impressões
sobre a atuação do presidente norte-americano, por conta de uma regra
profissional que considera falta de ética opinar sobre a saúde mental de
figuras públicas. Acha, no entanto, que no caso reportado, os especialistas em
comportamento humano que se dispuseram a vir a público estão se valendo daquilo
que pode ser apropriadamente classificado como “o dever de avisar”. Ou seja, a
responsabilidade afeta a uma pessoa, um médico, por exemplo, de precisar
alertar, em determinadas circunstâncias, possíveis vítimas se alguém próximo
representar perigo para todas elas.
Paralelamente ao lançamento do livro, grupo de 25 psiquiatras, vários
deles autores dos ensaios e artigos da coletânea, promoveu na Universidade de
Yale uma discussão aberta sobre a saúde mental de Donald Trump. Apontando uma
combinação de diagnósticos, que deixam configurados os riscos que ele
representa para o país e para o mundo, elaboraram documento indicando a
conveniência de sua remoção da cadeira presidencial. Milhares de assinaturas já
foram agregadas à petição em causa.
Tudo isto posto, tenho outra observação a fazer concernente ao tema. À
hora em que compunha estes dizeres, na já sexagenária “remington” portátil da
tenda de trabalho, intrigante interrogação perpassou-me pela cuca. Entrego-a
aos leitores para reflexão. Que tipo mesmo de ação o governo dos Estados Unidos
estaria desenvolvendo, nesta hora, na terra, ares e mares, na hipótese de que
pais, mães e filhos de nacionalidade estadunidense se vissem, de repente,
afastados uns dos outros em condições aviltantes, em plagas pertencentes aos
chamados “países periféricos” (assim considerados nas estratégias geopolíticas
da Casa Branca e do Pentágono), por determinação abrupta de um (outro)
tresloucado governante qualquer, movido por chauvinismo, racismo ou algum
impulso identicamente repulsivo?
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