sexta-feira, 8 de junho de 2018


Insensibilidade e negligência decretaram a crise

Cesar Vanucci

“Esqueceram-se do fundamental: dialogar.”
(Paulo Sérgio Ribeiro da Silva, empresário)

Sem abrir mão, hora nenhuma, da sebosa empáfia com a qual seus despreparados porta-vozes se comunicam com a aturdida opinião pública, no afã de explicar a “odisseia da volta dos 20 anos em 2”, o governo Michel Temer dá provas contínuas de desbordantes insensibilidade social e inapetência gerencial. Isso sem falar da atordoante ausência do sentimento nacional em decisões vitais para o futuro deste país de prodigiosas potencialidades clamorosamente desperdiçadas pela inoperância político-administrativa.

Essa história da crise deflagrada pelas sucessivas e extorsivas majorações nos preços dos combustíveis fez o termômetro que mede o desassossego coletivo atingir índices extremos, insuportáveis, gerando imprevisíveis efeitos em cascata. Mesmo sabendo que bom senso e disposição para o diálogo constituam atributos negligenciados no comportamento habitual dos atuais detentores do poder, não podemos fugir ao dever de bradar, alto e bom som, que as saídas para o problemaço posto exigem negociações mais que urgentes. A sociedade tem o direito de aguardar das lideranças que se posicionem, sem vacilações, tergiversações, à volta de uma mesa de debates para troca de opiniões e informações capazes de por cobro à indesejável situação enfrentada pela Nação inteira. O sagrado interesse público – é imprescindível que disso se aperceba a tecnoburocracia que fincou fundas raízes em áreas do serviço público, Petrobras incluída - sobrepõe-se a quaisquer outras conveniências. As regras mercadológicas têm que ser relegadas a plano subalterno quando sobrevenha o risco de colisão com o bem-estar social. A política econômica e social, os procedimentos dos organismos vinculados à administração governamental, têm que ficar sempre subordinados às necessidades comunitárias. Sem essa de confundir as marchas. Não é, inequivocamente, o país, de dimensão continental, que terá de se deixar subjugar, inapelavelmente, permanentemente, às diretrizes nocivas de políticas econômicas equivocadas. Aos peagadês da equipe econômica, que se ufanam da desastrada “política racional” executada nos preços dos combustíveis, faltou um mínimo de sensibilidade para entender o óbvio ululante: a elevação, em curtíssimo espaço de tempo, de 60 por cento no custo do combustível, arremessaria o país fatalmente a uma condição de quase caos. A economia popular foi alvejada de forma contundente e destrambelhada.

Nada a objetar quanto a busca de fórmulas adequadas para a desejada estabilização da economia interna da estatal do petróleo. O que não se faz admissível, entretanto, é que os custos resultantes das definições gerenciais tomadas recaiam sobre os ombros, já carregados em demasia, da população. É de boa retórica a repetição: o interesse coletivo sobrepaira sempre às conveniências de outra ordem. Lição ditada pela sabedoria humana carece ser absorvida por especialistas em altas finanças e negócios públicos: a economia é meio e não um fim em si mesma. Meio para se atingir um fim, sempre social. Esta a diretriz correta a ser escrupulosamente seguida num processo saudável de construção desenvolvimentista.

No caso que desembocou na assim chamada “greve dos caminhoneiros”, com a conivência do Governo e omissão do Parlamento, ocorreu flagrante desprezo, por parte dos executivos da Petrobras – outra vez mais, exclame-se –, às normas de bom senso que devem reger a administração dos negócios públicos. Ou seja, negócios que afetam uma população de mais de 200 milhões de brasileiros.

A bagunça implantada reclama reflexão, serenidade e discernimento nas tratativas, agilidade nas decisões. Um pouco de humildade nas falas oficiais afigura-se igualmente recomendável. Até mesmo porque, em razão da paralização do transporte de mercadorias, poderá ocorrer alguma dificuldade na reposição dos estoques de óleo de peroba, produto de uso tradicionalmente indicado para azeitar cara de pau.

Por derradeiro, anota-se um fato com sabor de novidade, merecedor da atenção dos analistas da conjuntura brasileira: a presença de força nova, com nada subestimável capacidade de mobilização, no cenário. Os caminhoneiros, em articulações bem sucedidas, obtiveram certamente maior eficácia do que alguns outros agrupamentos políticos e sociais no esforço de atrair olhares para suas bandeiras.


JK e o 
reencontro com o Brasil

Cesar Vanucci

“Uma mensagem de esperança!”
(Gláucia Nasser, a propósito do espetáculo musical dedicado a JK)

O espetáculo teatral “JK: Um reencontro com o Brasil” projetou, em música, prosa e verso de nível artístico requintado, um pedaço precioso da envolvente história do mais fascinante personagem da cena política brasileira dos tempos modernos. Deu pra perceber nitidamente, na reação entusiástica da plateia presente ao teatro do Sesiminas em Belo Horizonte, o imenso respeito, admiração, gratidão e saudade que a vida e a obra do Nonô de Diamantina suscitam na alma popular.  

Ninguém ignora, por certo, em toda a vastidão do território nacional, que essa veneração persiste há décadas. E, nesta precisa hora, quando a Nação, a contragosto, vê-se sacudida por tensões agudas, por acontecimentos frustrantes geradores de compreensível indignação, por decisões políticas fundamentais impregnadas de nauseante negação do sentimento nacional, essa manifestação de reverência se faz mais agigantada ainda.

As altissonantes lembranças da progressista “Era JK”, de contaminante euforia nos lares e nas ruas, são postas, constantemente nalgum lugar, em confronto com o acabrunhante momento administrativo vivido por nosso fabuloso país. As relembranças da vitalidade produtiva assombrosa dos chamados “anos dourados” escancaram o tremendo despreparo, a atordoante negligência e falta de sensibilidade social das lideranças políticas em evidência na atualidade, carentes de ideias e arrojo capazes de conduzirem o Brasil no rumo de sua indesviável vocação de grandeza.

Gláucia Nasser, mineira de Patos de Minas, dirigente da Fundação “Brasil Meu Amor”, é a principal figura da equipe responsável pela montagem da peça “JK: Um reencontro com o Brasil”. Excepcional cantora, com desenvoltura no palco indicativa de arrebatante talento, explica que o intuito do espetáculo é proporcionar aos espectadores uma viagem pelos caminhos de superação percorridos por Juscelino e tantos outros cidadãos comprometidos com a tarefa de fazer do Brasil uma referência maiúscula no Atlas universal. “Transmitimos uma mensagem de esperança que conecte cada pessoa com a autêntica alma do Brasil, relembrando a fé, a alegria de ser brasileiro e a confiança de que nosso país pode ser o melhor lugar do mundo”, sublinha a estrela do musical.

Entrelaçando boa música (obras consagradas de nossa incomparável mpb) e artes cênicas de aprimorado padrão, numa experiência visual e sonora empolgante, a encenação trazida a Minas, na excursão que faz por todos os Estados, arrancou aplausos frenéticos. “Emoção demais da conta!” – comentou em voz alta alguém numa poltrona próxima à minha, resumindo numa frase o estado de espírito dominante na plateia. Os espectadores compreenderam muito bem que o tributo prestado, no belo espetáculo (patrocinado pelo Sesi) à memória do inesquecível estadista encerra o claro sentido de resgate de um instante épico na vida brasileira. Um período de realizações fecundas em nosso processo evolutivo. A epopeia da implantação de Brasília (em tempo inferior a 4 anos, feito sem paralelo nos registros mundiais), a interiorização acelerada do desenvolvimento, a criação de infraestruturas logísticas que mudaram a face do país-continente, tudo isso e um mundão de outras coisas importantíssimas abriram nossos olhos para as potencialidades e virtualidades que nos credenciam a ambicionar no enredo civilizatório um protagonismo  vanguardeiro.

O que foi teatralizado da história de JK mostrou, em cenas de rico colorido humano e artístico, um caleidoscópio do labor da gente brasileira, de seu talento, de sua poesia, da dadivosa paisagem natural deste país abençoado por Deus e bonito por natureza. Sob a direção musical de Paulinho Dáfilin, a estrela Gláucia foi acompanhada em suas interpretações por excelentes instrumentistas: Guiza (violões e guitarra), Fernando Nunes (baixo), Thiago Gomes (bateria), Leandrinho Vieira e Chrys Galante (percussão), Jonas Moncaio (violoncelo), Pedro Cunha (teclados e acordeão) e Paulo Dáfilin (violões). Apresentação impecável.

O reencontro com JK e com o Brasil genuinamente brasileiro fez todo mundo sentir que, nalgum momento, vão acabar brotando no pedaço, sim senhor, as condições ideais para que a brava gente brasileira consiga superar as adversidades e os desafios do presente e cuidar logo, como se andou fazendo no tempo de JK, da invasão do futuro.


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