Insensibilidade
e negligência decretaram a crise
Cesar Vanucci
“Esqueceram-se
do fundamental: dialogar.”
(Paulo Sérgio Ribeiro da Silva,
empresário)
Sem abrir mão,
hora nenhuma, da sebosa empáfia com a qual seus despreparados porta-vozes se
comunicam com a aturdida opinião pública, no afã de explicar a “odisseia da
volta dos 20 anos em 2”, o governo Michel Temer dá provas contínuas de
desbordantes insensibilidade social e inapetência gerencial. Isso sem falar da
atordoante ausência do sentimento nacional em decisões vitais para o futuro
deste país de prodigiosas potencialidades clamorosamente desperdiçadas pela
inoperância político-administrativa.
Essa história
da crise deflagrada pelas sucessivas e extorsivas majorações nos preços dos
combustíveis fez o termômetro que mede o desassossego coletivo atingir índices
extremos, insuportáveis, gerando imprevisíveis efeitos em cascata. Mesmo
sabendo que bom senso e disposição para o diálogo constituam atributos
negligenciados no comportamento habitual dos atuais detentores do poder, não
podemos fugir ao dever de bradar, alto e bom som, que as saídas para o
problemaço posto exigem negociações mais que urgentes. A sociedade tem o
direito de aguardar das lideranças que se posicionem, sem vacilações,
tergiversações, à volta de uma mesa de debates para troca de opiniões e
informações capazes de por cobro à indesejável situação enfrentada pela Nação
inteira. O sagrado interesse público – é imprescindível que disso se aperceba a
tecnoburocracia que fincou fundas raízes em áreas do serviço público, Petrobras
incluída - sobrepõe-se a quaisquer outras conveniências. As regras
mercadológicas têm que ser relegadas a plano subalterno quando sobrevenha o
risco de colisão com o bem-estar social. A política econômica e social, os
procedimentos dos organismos vinculados à administração governamental, têm que
ficar sempre subordinados às necessidades comunitárias. Sem essa de confundir
as marchas. Não é, inequivocamente, o país, de dimensão continental, que terá
de se deixar subjugar, inapelavelmente, permanentemente, às diretrizes nocivas
de políticas econômicas equivocadas. Aos peagadês da equipe econômica, que se
ufanam da desastrada “política racional” executada nos preços dos combustíveis,
faltou um mínimo de sensibilidade para entender o óbvio ululante: a elevação,
em curtíssimo espaço de tempo, de 60 por cento no custo do combustível,
arremessaria o país fatalmente a uma condição de quase caos. A economia popular
foi alvejada de forma contundente e destrambelhada.
Nada a objetar
quanto a busca de fórmulas adequadas para a desejada estabilização da economia
interna da estatal do petróleo. O que não se faz admissível, entretanto, é que
os custos resultantes das definições gerenciais tomadas recaiam sobre os
ombros, já carregados em demasia, da população. É de boa retórica a repetição:
o interesse coletivo sobrepaira sempre às conveniências de outra ordem. Lição
ditada pela sabedoria humana carece ser absorvida por especialistas em altas
finanças e negócios públicos: a economia é meio e não um fim em si mesma. Meio
para se atingir um fim, sempre social. Esta a diretriz correta a ser
escrupulosamente seguida num processo saudável de construção
desenvolvimentista.
No caso que
desembocou na assim chamada “greve dos caminhoneiros”, com a conivência do
Governo e omissão do Parlamento, ocorreu flagrante desprezo, por parte dos
executivos da Petrobras – outra vez mais, exclame-se –, às normas de bom senso
que devem reger a administração dos negócios públicos. Ou seja, negócios que
afetam uma população de mais de 200 milhões de brasileiros.
A bagunça
implantada reclama reflexão, serenidade e discernimento nas tratativas,
agilidade nas decisões. Um pouco de humildade nas falas oficiais afigura-se
igualmente recomendável. Até mesmo porque, em razão da paralização do
transporte de mercadorias, poderá ocorrer alguma dificuldade na reposição dos
estoques de óleo de peroba, produto de uso tradicionalmente indicado para
azeitar cara de pau.
Por derradeiro,
anota-se um fato com sabor de novidade, merecedor da atenção dos analistas da
conjuntura brasileira: a presença de força nova, com nada subestimável
capacidade de mobilização, no cenário. Os caminhoneiros, em articulações bem
sucedidas, obtiveram certamente maior eficácia do que alguns outros
agrupamentos políticos e sociais no esforço de atrair olhares para suas
bandeiras.
JK e o
reencontro
com o Brasil
Cesar Vanucci
“Uma mensagem
de esperança!”
(Gláucia Nasser, a propósito do
espetáculo musical dedicado a JK)
O espetáculo
teatral “JK: Um reencontro com o Brasil” projetou, em música, prosa e verso de
nível artístico requintado, um pedaço precioso da envolvente história do mais
fascinante personagem da cena política brasileira dos tempos modernos. Deu pra
perceber nitidamente, na reação entusiástica da plateia presente ao teatro do
Sesiminas em Belo Horizonte, o imenso respeito, admiração, gratidão e saudade
que a vida e a obra do Nonô de Diamantina suscitam na alma popular.
Ninguém ignora,
por certo, em toda a vastidão do território nacional, que essa veneração
persiste há décadas. E, nesta precisa hora, quando a Nação, a contragosto,
vê-se sacudida por tensões agudas, por acontecimentos frustrantes geradores de
compreensível indignação, por decisões políticas fundamentais impregnadas de
nauseante negação do sentimento nacional, essa manifestação de reverência se
faz mais agigantada ainda.
As
altissonantes lembranças da progressista “Era JK”, de contaminante euforia nos
lares e nas ruas, são postas, constantemente nalgum lugar, em confronto com o
acabrunhante momento administrativo vivido por nosso fabuloso país. As
relembranças da vitalidade produtiva assombrosa dos chamados “anos dourados”
escancaram o tremendo despreparo, a atordoante negligência e falta de
sensibilidade social das lideranças políticas em evidência na atualidade,
carentes de ideias e arrojo capazes de conduzirem o Brasil no rumo de sua
indesviável vocação de grandeza.
Gláucia Nasser,
mineira de Patos de Minas, dirigente da Fundação “Brasil Meu Amor”, é a
principal figura da equipe responsável pela montagem da peça “JK: Um reencontro
com o Brasil”. Excepcional cantora, com desenvoltura no palco indicativa de
arrebatante talento, explica que o intuito do espetáculo é proporcionar aos
espectadores uma viagem pelos caminhos de superação percorridos por Juscelino e
tantos outros cidadãos comprometidos com a tarefa de fazer do Brasil uma
referência maiúscula no Atlas universal. “Transmitimos uma mensagem de
esperança que conecte cada pessoa com a autêntica alma do Brasil, relembrando a
fé, a alegria de ser brasileiro e a confiança de que nosso país pode ser o
melhor lugar do mundo”, sublinha a estrela do musical.
Entrelaçando
boa música (obras consagradas de nossa incomparável mpb) e artes cênicas de
aprimorado padrão, numa experiência visual e sonora empolgante, a encenação
trazida a Minas, na excursão que faz por todos os Estados, arrancou aplausos
frenéticos. “Emoção demais da conta!” – comentou em voz alta alguém numa
poltrona próxima à minha, resumindo numa frase o estado de espírito dominante
na plateia. Os espectadores compreenderam muito bem que o tributo prestado, no
belo espetáculo (patrocinado pelo Sesi) à memória do inesquecível estadista
encerra o claro sentido de resgate de um instante épico na vida brasileira. Um
período de realizações fecundas em nosso processo evolutivo. A epopeia da
implantação de Brasília (em tempo inferior a 4 anos, feito sem paralelo nos
registros mundiais), a interiorização acelerada do desenvolvimento, a criação
de infraestruturas logísticas que mudaram a face do país-continente, tudo isso
e um mundão de outras coisas importantíssimas abriram nossos olhos para as
potencialidades e virtualidades que nos credenciam a ambicionar no enredo
civilizatório um protagonismo
vanguardeiro.
O que foi
teatralizado da história de JK mostrou, em cenas de rico colorido humano e
artístico, um caleidoscópio do labor da gente brasileira, de seu talento, de
sua poesia, da dadivosa paisagem natural deste país abençoado por Deus e bonito
por natureza. Sob a direção musical de Paulinho Dáfilin, a estrela Gláucia foi
acompanhada em suas interpretações por excelentes instrumentistas: Guiza
(violões e guitarra), Fernando Nunes (baixo), Thiago Gomes (bateria), Leandrinho
Vieira e Chrys Galante (percussão), Jonas Moncaio (violoncelo), Pedro Cunha
(teclados e acordeão) e Paulo Dáfilin (violões). Apresentação impecável.
O reencontro
com JK e com o Brasil genuinamente brasileiro fez todo mundo sentir que, nalgum
momento, vão acabar brotando no pedaço, sim senhor, as condições ideais para
que a brava gente brasileira consiga superar as adversidades e os desafios do
presente e cuidar logo, como se andou fazendo no tempo de JK, da invasão do
futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário