sexta-feira, 20 de julho de 2018



Cesar Vanucci

“numa arquibancada, nos apertões de um estádio,
(...) vejo e escuto o povo em plena criação”.
(José Lins do Rego)

Futebol é mesmo uma festança incomparável. Um instrumento extraordinário para o exercício da confraternidade social. Uma forma vigorosa de projetar aquilo que se conhece por sentimento do mundo. A esplêndida Copa da Rússia, desencadeando torrentes de emoções e alegrias genuínos, comprovou isso outra vez mais.

As disputas nos gramados deixaram gravadas na memória coletiva lembranças de duradoura fulgurância. Centenas de milhões de espectadores compactados nas arquibancadas dos monumentais estádios, ou alojados descontraidamente nas arquibancadas virtuais criadas pela esfuziante cobertura televisiva em tudo quanto é canto, espicharão por bom tempo ainda os comentários a respeito das sensações vivenciadas. Considero extremamente sugestivo o que escritor José Lins do Rego contou, de certa feita, ao surpreender-se “numa arquibancada, nos apertões de um estádio”, vendo e escutando “muita coisa viva”, vendo e escutando “o povo em plena criação”. Numa Copa como a da Rússia toda essa efervescência ganha reverberações universais.

O que não dizer da coreografia arrebatante executada por um punhado de craques fazendo a bola rolar em direção do gol, ou se esforçando por fazê-la distanciada desse alvo consagrador? O que desfilou diante de nossos olhares extasiados foram momentos de irretocável beleza plástica, em detalhes incríveis captados por equipamentos de suprema sofisticação.

Fique claro, porém, uma coisa, futebol momentaneamente deixado ao largo: toda essa parafernália eletrônica ao dispor dos jogos, nascida de uma fabulosa engenhosidade tecnológica, vale muito bem para fortalecer nas mentes e corações dos que professam crenças e confiança humanísticas uma ardente esperança. A esperança de que, algum dia, possa brotar nos domínios dos “donos do mundo” uma vontade sincera de canalizar por inteiro o instrumental das conquistas técnicas em favor da construção de um mundo diferente. Um mundo melhor, mais fraterno, liberto da fealdade dos desequilíbrios sociais que tanto sofrimento espalha por aí.

Mas, retomando o jogo futebolístico propriamente dito, há que se louvar, com alusão ainda à Copa, o inovador processo da arbitragem complementar eletrônica. A experiência de agora, comportando algum provável reacerto nos métodos de aferição, abre a perspectiva de que as decisões dos juízes e bandeirinhas ganhem em eficiência. Todavia, pode-se apostar, não haverá como eliminar, jeito maneira, as costumeiras avaliações passionais de um bocado de torcedores. A controvérsia está, afinal de contas, na medula do esporte das multidões.

Avaliada pelos prismas sociológico e psicológico, essa Copa da Rússia foi bastante rica em revelações. Numa hora de agudas tensões provocadas por intolerância racial, xenofobias aviltantes, manifestações hostis a imigrantes sem eira nem beira, fanatices fundamentalistas, práticas racistas repugnantes, a saudável composição étnica da seleção merecidamente agraciada com o título representa eloquente afirmação de que existem saídas, sim, para os conflitos fora de propósito que enxameiam a vida contemporânea e que tanto retardam a marcha ascensional civilizatória. A celebração da talentosa equipe campeã mostra aos preconceituosos de diferentes matizes a estupidez de suas reações.

De outra parte, o ardor combativo da simpática e bem entrosada seleção da Croácia, com performances que espantaram os entendidos em futebol, evidenciou que em todo tipo de empreitada humana é de extrema valia juntar-se um pouco de humildade ao talento e à capacidade. A lição ajusta-se como luva ao escrete canarinho, que anda trocando as chuteiras por sapato alto de grife. Como sabido, os deslumbrados condutores do futebol penta campeão optaram, de tempos a esta parte, pela convocação exclusiva de atletas enquadrados naquilo que a crônica esportiva batizou como “legião estrangeira”. Às vésperas dos torneios importantes, jogadores um tanto quanto desfamiliarizados com os hábitos culturais de sua terra natal, desfrutando as seduções de uma realidade socioeconômica diferenciada, são recrutados às pressas para a missão de representar o Brasil. O esquema não tem funcionado a contento. Montar um time com valores que atuem nos campeonatos nacionais, que possam ser reunidos com alguma frequência e treinados dentro de uma metodologia comum acompanhada mais de perto pela direção técnica, afigura-se iniciativa em condições de ser contraposta vantajosamente ao que vem sendo ultimamente realizado. As chances de dar certo são bem maiores, no modo de ver de experimentados analistas do fascinante jogo de bola, que tanto mexe com a alma das ruas.

 Ao mestre Serafim,
com carinho


Cesar Vanucci

Humilde e probo, simples no falar”.
(Elizabeth Rennó, referindo-se ao Dom Serafim Fernandes de Araújo)


A Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (Amulmig) vem dedicando espaço, em sua efervescente atuação, para homenagear personagens ilustres do mundo cultural. É uma forma de atestar a contribuição valiosa de cada um deles em prol da criação intelectual e da construção humana. A iniciativa serve para refazer a memória na medida em que faz história, conforme explicado pela acadêmica Elizabeth Rennó que, além de presidente emérita da instituição, comanda os destinos da conceituada Academia Mineira de Letras.

Dom Serafim Fernandes de Araújo, por sinal presidente de honra da Amulmig, foi alvo de carinhosa manifestação de apreço dentro da série programada. Aconteceu durante concorrida assembleia, dias atrás, na sede da entidade, que funciona em prédio no passado pertencente ao inesquecível JK, onde podem ser vistos traços arquitetônicos brotados da prancheta de Niemeyer.

A história do Cardeal, rica em humanismo e espiritualidade, foi magistralmente retratada pela própria Elizabeth. A vocação de Serafim para a vida religiosa desabrochou cedo. Depois de passar pelo seminário de Diamantina, ele seguiu para Roma. Fez ali mestrado em Teologia e Direito Canônico na Pontifícia Universidade Gregoriana. A ordenação sacerdotal ocorreu em 1949 na Basílica de São João de Latrão. Sagrou-se Bispo em 1959. No ano mencionado, numa celebração na Catedral da Boa Viagem, Dom Serafim prometeu que seria como uma “vela que ilumina e se desgasta, chora de alegria e de tristeza a se consumir pelo cumprimento de sua missão”. Em 1960 assumiu a reitoria da Universidade Católica, hoje Pontifícia Universidade Católica, deixando marcas inapagáveis de seu descortino administrativo e capacidade empreendedora. Em 1986, então Arcebispo Coadjutor, foi alçado ao cargo de Arcebispo Metropolitano, sucedendo a Dom João de Rezende Costa, de quem se confessa grande amigo e a quem considera um verdadeiro “dom de Deus”. O pontificado de Dom Serafim estendeu-se até 2004, quando a gestão da Província Eclesiástica de Belo Horizonte foi entregue a Dom Walmor Oliveira de Azevedo.

Em 1998 o Papa João Paulo II conferiu-lhe o barrete cardinalístico. Sua cintilante trajetória como religioso, de titular de paróquia no interior de Minas ao Colégio de Cardeais, é assinalado, entre outros múnus, por encargos sempre magnificamente desempenhados como membro de Conselhos de Educação, da CNBB, da Comissão de Justiça e Paz, da Conferência Geral do Episcopado da América Latina, Presidente da Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas, Grão Chanceler da PUC-MG, Professor de Ensino Canônico e de Ensino Religioso em numerosas organizações educacionais. Como ressaltado na fala de Elizabeth Rennó, Dom Serafim conviveu com cinco pontífices: “Pio XII, que foi homenageado por ele e outros seminaristas, em Roma, com o Ramalhete Espiritual; João XXIII, que convocou o Concílio Vaticano II, momento marcante em sua vida e o nomeou Bispo Auxiliar em Belo Horizonte; Paulo VI, continuador do Concílio Vaticano II, com quem teve convivência fraternal; Santo João Paulo II, desde 1979 em Puebla, cujos laços de empatia se consolidaram em Belo Horizonte, quando de sua visita  em 1980, cuja participação marcante considerada como seu doutorado pastoral; Bento XVI, pessoa clarividente de visão abrangente de questões e problemas que pareciam insolúveis. Agora recebe as luzes de Francisco, o Papa Misericordioso, que se torna referência mundial, líder amado e valorizado, empreendedor e reformador. Carismático, não pelo que ostenta, mas ao que diz e faz. Por sua linguagem profunda, toca os sentimentos do povo, na representação de um evangelho vivo”.

Na louvação à portentosa obra pastoral do homenageado, recordou-se ainda que “a Torcida de Deus, ideia e realização de Dom Serafim, foi um dos mais belos espetáculos de fé, que durante 12 anos, congregou no Mineirão milhares de pessoas neste jogo olímpico de fé e esperança”.

Debaixo de aplausos do público presente à manifestação, Elizabeth Rennó assim arrematou o pronunciamento: “humilde e probo, simples no falar, severo e doce no ensinar”, Dom Serafim Fernandes de Araújo faz “chegar ao coração humano” o “dom de ternura que lhe é afeito”.





(Pronunciamento feito em assembleia da Amulmig, 
realizada no dia 10 de julho de 2018)


Homenagem a Dom Serafim Fernandes de Araújo
Elizabeth Rennó*


                                   

A Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais homenageando seus componentes ilustres atesta sua imortalidade. Refaz a memória na medida em que faz história.
Relembrando as atividades, as publicações acadêmicas, consegue fazê-los imortais, através de seus feitos.
Dom Serafim Fernandes de Araújo, Presidente de Honra da AMULMIG, é um dos nossos Acadêmicos mais queridos e dignos desta homenagem que louva seu perfil, tão rico e pleno de sabedoria.
Aos treze dias do mês de agosto de mil novecentos e vinte e quatro, chegou ao mundo, Serafim, o menino primogênito de José Fernandes de Araújo, dentista prático e de Gabriela Leite de Araújo, jovem mãe de 19 anos, em Minas Novas, cidade do vale do Jequitinhonha.
Esse menino marcou o início dos 16 filhos da prole do casal.
A autobiografia Na palma da mão de Deus, escrita por Dom Serafim Fernandes de Araújo, já na posição honrosa de Cardeal de Belo Horizonte, cujo Barrete Cardinalício foi-lhe entregue em Roma pelo Papa São João Paulo II, a 22 de janeiro de 1998.
Ao escrever suas memórias, O Cardeal voltou ao tempo e passou a rever a infância como se fosse um filme representando a sua vida.
A sua vocação nasceu muito cedo, criado em ambiente religioso da pequena Itamarandiba, para onde a família se mudou.
Do Seminário de Diamantina, seguiu para Roma, onde fez mestrado em Teologia  e Direito Canônico, na Pontifícia Universidade Gregoriana. Foi ordenado em1949 na Basílica de São João de Latrão.
Antes de transferir-se para Belo Horizonte, como auxiliar de Dom João de Resende Costa, assumiu os cargos de Vigário Geral, Administrador e Diretor do Ensino Religioso da Arquidiocese e professor de Cultura Religiosa da Universidade, já então sagrado Bispo em 1959. Exerceu sua missão religiosa em Itamarandiba, Gouveia, Diamantina e Curvelo.
Regressando a Belo Horizonte, em celebração na catedral da Boa Viagem, em 1959, Dom Serafim prometeu que seria como uma vela que ilumina e se desgasta, chora de alegria e de tristeza a se consumir pelo cumprimento de sua missão.
A partir de 1960, tomou posse como Reitor da Universidade Católica, hoje, Pontifícia Universidade Católica. Esta instituição foi criada em 1958, pelo Presidente Juscelino Kubistchek, congregando várias escolas e faculdades existentes. Dom Serafim diz, com orgulho:
Quando assumi a Reitoria eram apenas 635 alunos, hoje, a PUC é uma das mais conceituadas universidades do País. Participou de várias sessões do Concílio Vaticano II. Viajou a vários países, visitando universidades, participando de congressos de Educação. O Concílio Vaticano II foi considerado como verdadeiro doutorado pastoral para o novo Bispo, ocasião em que vivenciou a diversidade que envolve a experiência de ser Igreja. 
Arcebispo Coadjutor em 1983, sucedendo a Dom João de Resende Costa, em 1986, assumiu o cargo de Arcebispo Metropolitano. Seu Pontificado foi até março de 2004, quando passou o governo da Arquidiocese para Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Estas notas representativas de sua atuação pastoral não são reveladoras e nem presentificam as inúmeras contribuições que assumiu, quer como Pároco ou como membro de Conselhos de Educação, Sagrada Congregação para os Bispos, Comissão de Justiça e Paz, Pontifícia Comissão para a América Latina, IV Conferência Geral do Episcopado da América Latina em Santo Domingo, Presidente da Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas, Vice- Presidente da CNBB, Grão Chanceler  da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Professor de Direito Canônico e de Ensino Religioso em vários Colégios mineiros.
Tantos encargos cumpridos e exercidos de maneira magnífica, em que disseminou a evangelização e a palavra de Cristo, atestam a dedicação do Cardeal Serafim Fernandes de Araújo a seu rebanho.
Dom Serafim teve o privilégio de conviver com 5 Pontífices: Pio XII, que foi homenageado por ele e outros seminaristas, em Roma, com o Ramalhete Espiritual; João XXIII, que convocou o Concílio Vaticano II, momento marcante em sua vida e o nomeou Bispo Auxiliar em Belo Horizonte; Paulo VI, continuador do Concílio Vaticano II, com quem teve convivência fraternal; Santo João Paulo II, desde 1979 em Puebla, cujos laços de empatia se consolidaram em Belo Horizonte, quando de sua visita  em 1980, cuja participação marcante considerada como seu doutorado pastoral; Bento XVI, pessoa clarividente de visão abrangente de questões e problemas que pareciam insolúveis.
Agora recebe as luzes de Francisco, o Papa Misericordioso, que se torna referência mundial, líder amado e valorizado, empreendedor e reformador. Carismático, não pelo que ostenta, mas ao que diz e faz. Por sua linguagem profunda, toca os sentimentos do povo, na representação de um evangelho vivo.
Dom Serafim sempre se refere à grande amizade com Dom João de Resende Costa, considerando-o um “dom de Deus”, com quem participou e viveu no Palácio Cristo Rei, durante 45 anos.
A Torcida de Deus, ideia e realização de Dom Serafim, foi um dos mais belos espetáculos de fé, que durante 12 anos, congregou no Mineirão, milhares de pessoas neste jogo olímpico de fé e esperança.
Como sinal de vitalidade da Igreja, a Missa da Unidade, celebração da Eucaristia, acontecida na Quinta-Feira Santa, é a continuidade desta iniciativa de nosso Arcebispo.
Em 2003, na II Assembleia do Povo de Deus, evento que teve a participação da presença da comunidade católica, após muitas reflexões e pareceres, três horizontes foram divisados para a formação das características necessárias para o comportamento da congregação e às quais a Igreja deveria se dedicar:
A espiritualidade, envolvendo o modo de viver em santidade, o reconhecimento da vida em comunidade, a exemplo da Trindade que é a totalidade do amor e a inserção social, no exercício de uma Igreja Samaritana.
Devotando-se a estes quesitos, Dom Serafim instituiu o Projeto Construir a Esperança, pastoral urbana, voltada para o acolhimento, projeto inspirador para outras cidades com grande repercussão internacional.
Dom João de Resende Costa e Dom Serafim compraram a Radio City, para divulgar a programação e os trabalhos da Arquidiocese. Esta pequena difusora transformou-se na Rádio América, emissora presente em vários lares divulgando e apresentando programas educativos, sociais, evangelizadores e cerimônias litúrgicas.
A mais grata de suas realizações a seu coração é a Fundação José Fernandes de Araújo, criada em 1980 como homenagem a seu pai. O objetivo desta instituição é conceder bolsas de estudos a pessoas de baixa renda, possibilitando o acesso ao ensino superior.
Em seus 38 anos de trabalho, a FJFA já beneficiou cerca de três mil alunos que não poderiam manter os custos de sua formação universitária e que se tornaram profissionais formados em faculdades de qualidade reconhecidas no Brasil. Os jovens beneficiados com estas bolsas de estudo comprometem-se, além de seu desenvolvimento profissional, a multiplicarem ações de generosidade, a exemplo do que receberam da Fundação. A princípio, a manutenção deste Projeto contou com a remuneração de Reitor e a venda de todos os bens de Dom Serafim para concretizar sua realização. Acrescentada com a cooperação de pessoas que se sensibilizam com a causa, beneficiando número incalculável de estudantes desde então.
Na continuação deste trabalho precioso, o Professor Emerson de Almeida foi convidado a assumir a Presidência da FJFA, pois já se dedicava ao Conselho Curador, há muitos anos.
A Fundação José Fernandes de Araújo aliou-se à Fundação Dom Cabral, escola de negócios fundada há 42 anos por Dom Serafim e que, graças à liderança do Professor Emerson de Almeida é considerada, há treze anos, uma das melhores do mundo, segundo o jornal britânico Financial Times.
Dom Serafim sempre se colocou na palma da mão de Deus, como ele mesmo nomeou a sua autobiografia.
A par de sua capacidade administrativa, didática, empreendedora, o que mais eleva o seu caráter é o espírito humanitário e a grande capacidade, que, pela ternura do seu agir, conquista e faz amigos e admiradores em qualquer área em que atua.
Depoimentos, declarações e observações sobre sua pessoa vêm de irmãos, paroquianos, auxiliares e tantos outros que o acompanham na trajetória que cumpre eficientemente.
Palavras de sacerdotes, autoridades, amigos, teólogos, professores, em sua totalidade, enaltecem o caráter ético, empreendedor, humano, caridoso e cristão de Dom Serafim.
Destacamos alguns tópicos que atestam este admirável construir humano que se intitula Dom Serafim Fernandes de Araújo.
Eis um apanhado de conceitos concernentes à sua pessoa:
A capacidade de entender e orientar é muito própria dele. Sua intuição e discernimento levam às melhores soluções, valorizando o que é bom para cada um.
Dom Serafim é meu suporte e um presente de Deus.
Para mim, uma qualidade muito bonita de Dom Serafim é que ele não invade a vida de ninguém. É uma pessoa muito especial.
Dom Serafim é uma bênção de Deus para nossa família. É um ponto de equilíbrio para todos nós.
Deus deu-me a graça de ser irmã de Dom Serafim. Ele está sempre presente em meu coração com suas palavras, atitudes, generosidade e amor incondicional.
Presente em todos os momentos difíceis. Sereno, conciliador, equilibrado, iluminado em todas as suas atitudes.
Neste momento em que celebramos datas tão grandiosas, seus 60 anos de sacerdócio e 50 anos de episcopado, fico a contemplar como Dom Serafim, na pujança de seus 84 anos, mantém viva em si a revelação da luz da sabedoria, e como essa beleza, reforçada pelo amor, confere a ele aspecto tão sublime. Exemplo de seriedade, de dedicação. Uma pessoa por quem agradeço a Deus, por existir em nossas vidas, com quem podemos contar nos bons e nos maus momentos, que tem sempre uma palavra de força, de esperança para todos nós.
Falar sobre meu irmão Dom Serafim é falar de alguém muito especial, que traz consigo o dom maior de Deus, que é o amor, refletido em todos os momentos de sua vida, levando a todos não só palavras, mas, principalmente, atos e ações de um verdadeiro pastor.
Um dia ele me disse: Deus nos colocou na terra para sermos felizes e nós temos a obrigação de buscar a felicidade.
Como poeta maior, disse: O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis e pessoas incomparáveis.   
Dom Serafim, louvado e amado, reconhecido pela sua inteireza e capacidade de ser é também uma pessoa incomparável, misto de compreensão e ternura.
Agindo com ternura, dizia humildemente ao contar a sua história: Acho que nunca houve um rapaz tão pobre indo para Roma, levando tão pouca coisa.
A palavra sincera, plena, dom de vida e do acontecer sereno sempre foi proferida por este pastor de almas e de templos. A sua escrita era dever impositivo para os ouvintes da Palavra de Deus que repercutiu durante muitos anos pelas ondas do rádio e da televisão.
A Palavra, o Verbo transmudado, orienta, ensina, admoesta.
Como o Pai Misericordioso ou o Bom Pastor que acolhe a ovelha desgarrada, Dom Serafim sempre exerceu sua missão imbuído do espírito da Caridade e da Fé, proclamando a sua palavra de Sabedoria.
Já dizia são Paulo, na Carta aos Coríntios, a Primeira delas:
A manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil. Porque a um, pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria e a outro a fé ou o dom de curar. Se um recebe dons de profecia ou do discernimento dos espíritos, outros recebem o da verdade ou da interpretação.
O Espírito reparte todos esses dons para que possamos trilhar a excelência dos caminhos, à procura do desempenho de nossa lida justaposta à palavra plena, que é dom de vida.
 Para Salomão, o valor da Sabedoria é um tesouro inexaurível e aquele que a sabe usar, como um dom que lhe é dado, estreita sua amizade com Deus, que é seu Guia e Orientador.
Eis as palavras de Salomão:
Ele, de fato me deu o conhecimento exato dos seres, a estrutura do universo e a atividade dos elementos; o começo, o fim e o meado dos tempos; a alternância dos solstícios e as mudanças das estações, os ciclos dos anos e as posições dos astros, a natureza dos animais e os instintos das feras,as energias dos espíritos e os raciocínios dos homens, as variedades das plantas e as virtudes das raízes.
Tudo que há de oculto e de manifesto, eu o conheci; pois instruiu-me a artesã de todas as coisas, a Sabedoria.

Humilde e probo, simples no falar, severo e doce no ensinar, possuidor desse tom de sabedoria, vive Serafim, o menino que Deus escolheu, cujo dom de ternura lhe é afeito e o faz chegar ao coração humano. 

* Presidente da Academia Mineira de Letras

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