sexta-feira, 27 de julho de 2018


  
Incidente ufológico em Brasília

Cesar Vanucci

“Tudo nessa história de disco voador resvala o fantástico.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)

Leitor que se confessa “fissurado” no chamado fenômeno ÓVNI cobra-me relato sobre um extraordinário episódio narrado em palestra que fiz no Congresso Brasileiro de Ufologia, ano passado, em Belo Horizonte. O “incidente” envolveu, logo nos começos de Brasília, dois homens públicos de projeção nacional. Ambos parlamentares. Ambos escritores. Ambos já falecidos.

Inicio a narrativa citando-lhes os nomes: Paulo Pinheiro Chagas e Plínio Salgado. Este último, presidente do PRP (Partido de Representação Popular), desfrutava de notoriedade como chefe da ação integralista, uma versão tupiniquim do movimento fascista italiano de Benito Mussolini. Sua obra mais apreciada como escritor focaliza a vida de Jesus Cristo. Pinheiro Chagas foi, provavelmente, o mais culto e talentoso tribuno parlamentar de sua época. De sua vasta produção literária faz parte o livro “Teófilo Otoni, o Ministro do Povo”, por muitos apontado como a melhor biografia já produzida de um personagem de nossa história. Estive ligado a Paulo, até os derradeiros momentos de sua peregrinação pela pátria terrena, por poderosos laços de amizade. Ele e senhora, a também saudosa Zembla, tia de minha esposa Addi, foram meus padrinhos de casamento. Foi dele, Paulo Pinheiro Chagas, que ouvi, por mais de uma vez, com requintados detalhes, o relato de uma incrível experiência ufológica.

Brasília vivia, em 1960, a efervescência de seus primeiros encantadores instantes de vida como centro das decisões políticas nacionais. O presidente da República era o inolvidável Juscelino Kubitschek de Oliveira. Paulo Pinheiro Chagas desempenhava as funções de líder do governo na Câmara dos Deputados. Num final de tarde, acompanhado do amigo deputado Crispim Jacques Bias Fortes, Pinheiro Chagas deixou a sede do Legislativo com o destino do Palácio do Planalto. O carro conduzia os parlamentares e o motorista. Eis que, de repente, a uma distância que possibilitou aos ocupantes do veículo em movimento visão bastante nítida da cena, surgiu um objeto aéreo fazendo desnorteantes evoluções. O artefato possuía o formato celebrizado na maioria dos avistamentos notificados nos anos 50: um pires com uma redoma. A imagem captada, como sempre ocorre em circunstâncias do gênero, deixou forte impacto nas testemunhas. Ali mesmo no carro, Paulo e companheiros tomaram uma deliberação: manter a ocorrência sob reserva, de modo a evitar repercussões de cunho político. A ferrenha oposição a JK não perdia chance para alvejar as decisões, atos e projetos governamentais. Provavelmente, partiria para uma tentativa de ridicularizar políticos tão próximos ao grande presidente, caso a história do contato de terceiro grau vazasse. As cautelas adotadas no sentido de se evitar a divulgação não impediram, todavia, que o fato merecesse pequeno registro, sem maiores detalhes, numa coluna de jornal brasiliense.

As coisas estavam colocadas nesse pé, quando Paulo Pinheiro Chagas recebeu uma ligação telefônica de Plínio Salgado. O líder da bancada integralista, vinculada a oposição, pediu-lhe uma conversa em caráter confidencial. Como o momento político se revelasse um tanto quanto conturbado, Paulo deu ciência a Juscelino do encontro proposto, na expectativa de que a conversa sigilosa com Plínio pudesse girar em torno de alguma questão política momentosa. Mas o papo, para espanto do líder do governo, tomou rumo totalmente diferente.

Plínio Salgado tivera ciência, pelo jornal, do caso do óvni. E não podia deixar de passar para seu companheiro de parlamento, como ele escritor, uma revelação espantosa. Contou, então, com visível emoção, os surpreendentes desdobramentos do incidente ufológico em causa. Naquela tarde, um “disco-voador” com configuração idêntica ao do avistamento de Pinheiro Chagas e Bias Fortes apareceu, inesperadamente, a curta distância do local onde Plínio Salgado se encontrava, no jardim da residência. O deputado sentiu-se imobilizado, depois de atingido por um feixe de luz desfechado do aparelho. Só algum tempo passado, com o objeto já fora do alcance visual, é que conseguiu recuperar os movimentos. O relato, como os investigadores do fenômeno óvni podem atestar, guarda semelhança com outras ocorrências ufológicas e favorece a dedução de que Plínio Salgado, naquele momento, talvez houvesse sido alvo de uma abdução.

Pra encerrar a conversa: em Belo Horizonte, no bairro da Serra, anos mais tarde, Paulo Pinheiro Chagas testemunhou um outro avistamento de óvni.


Desfazendo um equívoco

Cesar Vanucci

“Uma voz inconfundível em defesa (...) da liberdade fundamental da pessoa.”
(José Alencar, saudoso Vice-Presidente, a respeito do 
também inesquecível Arcebispo Alexandre Gonçalves Amaral)

Cumpro hoje promessa feita a diletos amigos espiritistas engajados em edificante trabalho assistencial e espiritual. Aconteceu o seguinte: recentemente, alguém do grupo, num bate-papo descontraído, classificou de extrema e agressiva intolerância a atuação da Igreja Católica com relação às demais crenças religiosas, ao tempo em que o saudoso Alexandre Gonçalves Amaral esteve à frente da Arquidiocese de Uberaba. Esclarecendo que a observação incidia em equívoco, anunciei o propósito de relatar um episódio capaz de desfazer essa errônea impressão, ao que parece gravada na memória de algumas pessoas. Como sabido, sou autor do livro “Um Certo Dom”. Na obra focalizo aspectos frisantes da vivência encharcada de apostolicidade do mencionado religioso. Um ser humano dotado de sabedoria incomum e cultura fulgurante. Bispo mais moço do mundo à época da sagração, Bispo com maior tempo de presença eclesial no mundo na fase outonal da existência. Falecido em 2002.

Que o Bispo punha ardor e veemência nas palavras ao expor suas convicções é fato de ululante obviedade. E nem seria de se esperar nada diverso. Coisa já bem diferente é imaginá-lo, lança em riste, dedo no gatilho, a investir, de forma desabrida, inclemente, descaridosamente, contra os sentimentos religiosos alheios. Se ainda vivo e na posse plena dos dons de inteligência com que foi agraciado pela vida, Alexandre – não nutro dúvidas a respeito – estaria atuando como arauto da palavra ecumênica. Engajado, certamente, no esforço das lideranças religiosas mais conscientes, do Dalai Lama ao Papa Francisco, que procuram mostrar ao mundo a chave em condições de abrir, de par em par, as portas do entendimento fraterno aos homens de boa vontade, de todos os credos, etnias e idiomas. Seja acrescentado que Alexandre era reconhecido como o Bispo da “Ação Católica”, movimento que estabeleceu condições para uma participação mais incrementada dos leigos nos trabalhos da Igreja.

A história contada a seguir ajuda a desmanchar a pecha da "intolerância religiosa". Nos anos 50, "O Cruzeiro" mandou a Uberaba um repórter e um fotógrafo. O editor do texto se confessava espiritista. A atenção da revista voltava-se para uma experiência invulgar que estaria sendo vivida nos redutos do famoso sensitivo Chico Xavier, figura humana de notáveis predicados morais e espirituais. Sustentava-se que esses redutos vinham sendo palco de um fenômeno de efeitos físicos conhecido no vocabulário espírita sob a denominação de “materialização”. O caso ficou conhecido como "a materialização da Irmã Josefa" e ganhou ressonância nacional. Os repórteres obtiveram autorização para documentar, com o emprego de câmeras fotográficas, o que sucedia nas sessões. O que viram não lhes pareceu convincente. Registraram, de modo enfático, que os indícios apontavam no sentido da possibilidade de grosseira mistificação, produzida por falsos sensitivos, gente que estaria abusando da boa fé de Chico Xavier. Claro que o assunto rendeu polêmica. O "Correio Católico", combativo diário da Arquidiocese, tinha o "dever sagrado" de entrar, batendo forte, nas discussões acesas e, muitas vezes, azedas, segundo o entendimento de alguns membros do laicato católico e de um ou dois sacerdotes, não mais do que isso. Revejo-os, irritados, na sala do diretor Padre Antônio Thomaz Fialho, a profligarem o que tachavam de imperdoável desinteresse do jornal pela momentosa questão. Em sua concepção, graças a "O Cruzeiro", a hora era mais do que propícia "para se desmascarar a farsa espírita"...

Quem se der, algum dia, ao trabalho de percorrer as edições do jornal, correspondentes a essa época, vai constatar que o mesmo não publicou uma única linha sobre o assunto. Calou-se serena e respeitosamente. Surge aqui, agora, a explicação: a ordem para o procedimento assumido partiu do próprio Alexandre. A decisão relembra-me a cara de contrariedade de alguns radicais que se consideravam “mais católicos do que o Bispo”. Eles crivaram de críticas ásperas os redatores do jornal, pela “incompreensível” posição assumida, "diametralmente oposta à fé cristã", ousavam proclamar.




Luis Giffoni *
Os bichos pensam?


Quem já viu um boi entrar no corredor de abate sabe como ele percebe a morte. Tenta escapar, urra, resiste, exala a dor, chora, desespera, implora. Há uma identidade mamífera entre nós e eles que nos permite captar seu sofrimento, porém não nos importamos. Dizem que tudo é imaginação. Os animais possuiriam apenas instinto. Pensamento, só os humanos, para quem o mundo teria sido criado, com licença para explorar e matar qualquer bicho, de acordo com nossa vontade. Levamos ao pé da letra a recomendação.

Em muitos momentos, mesmo agora no século 21 e nas mais tradicionais democracias, bicho é o outro, o estrangeiro, o habitante do país contra o qual se iniciou uma guerra. Merece toda a crueldade. Que o digam as potências ocidentais que matam civis inocentes na Síria e em mais de uma dezena de lugares neste exato momento.
Dizem que os golfinhos pensam. Já se identificaram alguns de seus sons. Supõe-se até que cantem para os parceiros durante o acasalamento. Idem para as baleias. Quem já ouviu as gravações fica com a pulga atrás da orelha: baleias parecem autoras de partituras musicais, com grande variação de melodias e ritmos, mais uma grande vocação para a nostalgia. De novo muita gente descarta a possibilidade de inteligência. Haveria apenas instinto. Pássaros cantam, baleias idem.

Chimpanzés se organizam para a caça de outros animais, com estratégias de generais em campo de batalha. Dividem o butim de acordo com a hierarquia. Sua linguagem transmite uma enorme variedade de avisos e sentimentos. Riem, consolam-se, usam ferramentas, passam o conhecimento para os filhos. Alguns deles, criados em cativeiro, teriam o QI de uma criança aos 2 anos. Uma vez mais, acredita-se que, embora tenhamos uma semelhança genética de 98%, nada mais nos aproxima. Continuamos os únicos a pensar. Para eles, sobra apenas o instinto.

Bonobos, um chimpanzé pequeno, descoberto no Congo oito décadas atrás, são ainda mais impressionantes. Além de 99% iguais a nós nos cromossomos, demonstram empatia e altruísmo no relacionamento. Têm vida social intensa, matriarcal. Reconhecem-se no espelho. Desenvolveram gosto pelo sexo só encontrado entre os humanos. Aliás, vão além. Transam para resolver conflitos. Aos olhos mais conservadores, seriam promíscuos. No entanto, se dão muito bem. Compreendem nossa linguagem, inferem o sentido de novas palavras, utilizam os computadores para se comunicar com os cientistas.

Um dos bonobos, chamado Kanzi, acendia fogueira com fósforo, dourava marshmallows e depois os comia. Através de uma linguagem desenvolvida em laboratório, expressava seus sentimentos, inclusive os complexos, como a questão da morte. No entanto, muita gente continua desacreditando. Quando Kanzi, num filme da BBC, comeu os marshmallows, os mais céticos alegaram que era um ator fantasiado de bonobo.


Há uma revolução em curso. Que chega com séculos de atraso. Estamos começando a entender outras espécies, a olhá-las com respeito, com os mesmos direitos à vida. Uma vez mais, a revolução nos afasta do centro do mundo, essa mania de grandeza que nos outorgamos como reis da criação, primeiros e únicos. Isso dói aos velhos mitos. O reino animal é mais complexo do que até agora admitimos. Em vários sentidos, é mais humano do que o nosso. 

* Escritor, Membro da Academia Mineira de Letras

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