sábado, 4 de agosto de 2018


A ameaça da Macrobolha

Cesar Vanucci

“A Bomba de tudo (...) está pronta para estourar.”
(Carlos Drumond, jornalista)

“A Bomba de tudo” é o sugestivo título de candente análise jornalística que, esmiuçando a conjuntura política, econômica e social desse nosso mundo velho de guerra, acena pra todos nós com as perspectivas de sombrio futuro. O autor do trabalho, estampado na “CartaCapital”, jornalista Carlos Drumond, ancora-se em pareceres de conceituados especialistas mundiais na área das ciências econômicas e sociais para vaticinar que uma macrobolha de conotações financeiras, sociais, ecológicas e militares, ronda ameaçadoramente a sociedade humana.

O dispositivo desestabilizador está pronto para estourar na esteira das políticas monetárias radicais irresponsavelmente praticadas por países do chamado G-7. No entendimento de qualificados estudiosos da problemática humana destes tempos conturbados, os “donos do mundo” mostram-se morbidamente insensíveis à copiosa sinalização emitida por acontecimentos graves que vêm pipocando em tudo quanto é pedaço de chão do planeta. São indicadores ruidosos da exaustão de um “modelo de desenvolvimento” comprovadamente equivocado. Modelo que insiste em apontar como ideal na conquista do bem-estar comunitário a adoção de regras rígidas, efeitos perversos, de estabilização macroeconômica.

O enredo traçado prevê abertura comercial e financeira descomedida, desregulamentada, expansão descontrolada das assim denominadas forças de mercado, privatizações desordenadas e, quase sempre, nocivas aos interesses das coletividades. Neste ponto preciso das medidas aventadas, objeto de compreensíveis questionamentos, deparamo-nos – é importante aqui ressaltar - com o nosso país retratado de corpo inteiro dentro do figurino mostrado por conta das escolhas preferenciais procedidas pelo atual governo. Indiferente às encorpadas manifestações contrárias, refletidas em índices de descrédito e impopularidade jamais vivenciados por administradores da coisa pública na história republicana brasileira, os detentores do poder resolveram, numa guinada de 180 graus, alinhar as políticas econômicas e sociais do país com os ditames neoliberalistas mais rígidos e extremados.

A proverbial apatia parlamentar diante da emergência das reformas essenciais reclamadas pela Nação está sendo, nesta hora, como sabido, sacudida pela marcha galopante do processo de privatização da Eletrobras. A disposição oficial é promover tudo a toque de caixa. Nada de diálogo, debates, coisas tão “desimportantes”, em torno da efervescente questão. Fica visível o intento de, com a desestatização em foco, escancarar-se um portal para iniciativas assemelhadas, envolvendo outros ativos estratégicos agregados ao patrimônio da riqueza coletiva nacional, talvez a própria Petrobras, o próprio Banco do Brasil, a própria Caixa Econômica Federal, valha-nos Deus, Nossa Senhora! Corre-se avantajado risco de vermos a estatal de eletricidade oferecida a ávidos compradores, de hora para outra, naqueles mesmos moldes prejudiciais ao interesse nacional em que se deu a transferência da Vale para grupos privados, a preço de banana refugada em final de feira de subúrbio.

Voltando à macrobolha anunciada no trabalho jornalístico citado. Os alertas provêm de diferentes e insuspeitas procedências. Em abril passado, o próprio Fundo Monetário Internacional falou de seu ceticismo quanto à eventualidade de uma retomada consistente da economia mundial, tendo em vista o colossal endividamento público e privado.  “A dívida global atingiu recorde histórico e os governos devem começar a reduzi-la já”. O órgão contabilizou débitos acumulados de 164 trilhões de dólares, explicando que a situação do endividamento das economias avançadas em comparação ao PIB é pior do que as dos demais países. Índice sem precedentes: 225 por cento do PIB mundial. Acréscimo de 12 pontos percentuais com referência ao índice anterior mais elevado, em 2009, quando da eclosão da crise financeira que abalou o cenário mundial.

Nessa linha de advertências sobre o que está prestes a ocorrer, conforme narrado no trabalho jornalístico mencionado, as revelações mais contundentes partem de dois especialistas renomados, até recentemente gestores do “Bank for International Settlements”, “Banco de Compensações Internacionais”, reconhecido como uma espécie de banco central dos bancos centrais, Hervé Hannoun e Peter Dittus. Autores do livro “Uma revolução é necessária. A bomba-relógio do modelo G-7”, eles argumentam que “as políticas monetária, fiscal, macroeconômica, de defesa e contra o superaquecimento global têm uma característica em comum: são negligentes, imprudentes e irresponsáveis. Aprendizes de feiticeiros construíram um esquema de crescimento impulsionado pela dívida que está levando para o próximo crash financeiro”. Dizem ainda: “Essas políticas são apresentadas como sendo de interesse público. Não surpreende que a confiança nos formuladores de políticas e instituições públicas esteja se desgastando. As pessoas sentem que algo está errado com o modo como as elites do G-7 se desincumbem das suas responsabilidades. A trajetória atual (...) está levando a uma crise sistêmica que colocará em questão muitas das crenças nas quais o sistema capitalista é construído.”

O tema dá vaza a mais reflexões.



Encrencas que adoecem o mundo

Cesar Vanucci

“A mídia internacional tem culpa no cartório. Ora se tem!”
(Domingos Justino Pinto, educador)

As encrencas que adoecem o mundo são muitas. E mesmo dispondo de um formidável aparato de divulgação sobre o que rola pela aí, o ser humano carece, num sem número de circunstâncias, de informações pertinentes e tempestivas a respeito de um montão de coisas essenciais. Isso advém de descabidas interferências decretadas por conveniências espúrias. Conveniências que têm origem, no mais das vezes, na geopolítica-econômica.

Interpretações propositadamente equivocadas, omissões clamorosas, cerceamentos da liberdade de expressão, indesculpáveis sigilos, revelações truncadas: tudo isso faz parte de uma metodologia de “comunicação” empregada à pamparra com o fito de confundir o entendimento e desviar atenções.

O poderoso instrumental midiático é posto, incessantemente, a serviço dessa capciosa desfiguração da realidade. Pululam exemplos. Não é preciso retroceder muito no tempo para identificar situações tormentosas que possam ser tomadas como amostras sugestivas dessas desconcertantes reações. Vamos lá.

Dias atrás, o sinistro EI, que andava um tanto quanto ausente do noticiário, voltou a atacar. Agiu simultaneamente em muitas frentes, produzindo, como de praxe, macabras estatísticas. As vítimas dos atentados ocorridos no Paquistão, Afeganistão, Síria elevaram-se a mais de três centenas. Gente do povo, não envolvida nas escaramuças bélicas que ensanguentam a região. O noticiário acerca dessas tragédias humanitárias foi exageradamente comedido na banda de cá do planeta. Foi de uma parcimônia desnorteante. E suspeitosa. Nada daquelas manchetes estardalhantes, nascidas de compreensível indignação por parte das ruas, quando a fúria terrorista eclode, por exemplo, numa capital no Ocidente, provocando vítimas inocentes em número consideravelmente menor.

A primeira ilação a extrair dos fatos narrados, concebida em grau de constrangimento que chega a resvalar o estado de choque, é de que o Paquistão, o Afeganistão, a Síria estão demasiadamente distantes. Fazem parte de uma “periferia geográfica” enxergada com indiferença, com desdém, com menosprezo, pelos “donos do mundo”. Os habitantes desses “lugares” são de “categoria inferior”. São da “mesma laia” dos incômodos imigrantes, “de nacionalidades e etnias exóticas”, que têm sido recolhidos a essas versões modernosas de campo de concentração, conhecidas como centros de acolhimento humanitário montados pela “generosidade” de países ditos civilizados. “Eles lá”, com seus estranhos linguajares, crenças e hábitos culturais, que se entendam... É o que, de certa maneira, a manifesta má vontade da cúpula mundial diante dos infortúnios registrados naquelas longínquas paragens procura subliminarmente transmitir.

E não é que essa chocante ilação acaba remetendo muitas pessoas dotadas de poder de observação atilado e capacidade de raciocínio mais desenvolta, que conservam os aparelhos de percepção pessoal sintonizados nos acontecimentos, a estranharem o motivo de as ações do terror virem merecendo atenção escancaradamente secundária, ultimamente, no noticiário internacional? “Desconfiômetro” ligado nas marchas e contramarchas de cunho geopolítico, muitos analistas deixam no ar interrogações sobre as causas dessa cortina de silêncio que, de repente, começa a recobrir a movimentação dos fanáticos religiosos. Já há mesmo quem ouse aventar algo estarrecedor. Como sabido, misteriosas forças ocultas têm sido responsáveis por garantir até aqui a sobrevivência do ISIS, provendo-o dos recursos necessários para seus nefastos feitos. Pois bem, essas mesmas forças ocultas estariam agora concorrendo, em sórdidas articulações de bastidores, para atenuar os impactos das agressões que o nefando agrupamento terrorista promove. O fim da picada!

Há mais a dizer sobre essa questão do comportamento da mídia internacional quando minimiza a gravidade de fatos que alvejam em cheio a dignidade humana.

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