Cesar Vanucci
“Um governo
deve sair do povo
como o fumo sai
da fogueira.”
(Monteiro Lobato)
A democracia
funciona assim. O que as urnas falam está falado. A fala de agora foi de
eloquência atordoante. Muitos os recados transmitidos. Reclamam descomedida
atenção. Como diz o poeta, é preciso saber entender direitinho os sinais. É preciso
perceber o significado dos sinais.
Expressando a
vontade popular, os resultados do pleito desmentiram pesquisas que se acreditam
criteriosas do ponto de vista técnico. Contrariaram avaliações de um batalhão de
analistas políticos, integrantes de bancadas televisivas dominadas por embriagante
autossuficiência. Produziram euforia em alguns redutos e frustração noutros. São
resultados a serem, obviamente, assimilados sem choro nem vela por todos os
cidadãos e grupamentos partidários que atuaram como protagonistas na frenética
corrida pela conquista do voto.
Um aluvião de
situações inesperadas apoderou-se da paisagem política. Foram registradas alterações
expressivas na composição do Senado, da Câmara dos Deputados, das Assembleias. Revelou-se
impactante a pífia votação, sob certo aspecto inimaginável, atribuída a numerosas
figuras de prestígio nacional na disputa presidencial. O mesmo cabe ser dito a
respeito da retirada constrangedora do palco de nomes proeminentes - alguns
deles, não todos - com participação de certo modo realçante no processo de
desenvolvimento social e econômico. E o que não dizer do desfecho pra lá de
desconcertante da pugna eleitoral em determinados cenários, com destaque para o
que aconteceu em Minas Gerais e Rio de Janeiro?
As
considerações suscitadas pelo que rolou no pedaço eleitoral são a perder de
vista. Os desacertos clamorosos, outra vez mais, das pesquisas de intenção de
voto estão a pedir uma reformulação dessas consultas pré-eleitorais. Não há
como ignorar a influência que os dados propagados, com frequência praticamente
diária, podem vir a exercer junto a parcelas dos votantes indecisos. Isso
carece ser levado na devida conta. As críticas ao esquema adotado pelos
institutos se avolumam. Todos nós já nos deparamos com pessoas que alegam nunca
terem sido ouvidas em pesquisa alguma. Mais do que isso: jamais tiveram,
tampouco, conhecimento de alguém que o tenha sido. Fica evidente que a questão
comporta a necessidade imperiosa de reexame.
Mudemos o foco,
agora, para um aspecto inegavelmente positivo extraído do evento de domingo.
Ele se configura no clima civilizadamente ordeiro que prevaleceu ao longo do
período de comparecimento dos votantes às seções eleitorais. Em ponto nenhum da extensão continental
brasileira ocorreu, ao que se sabe, como consequência de discordâncias
políticas inflamadas, incidente que maculasse a beleza da festa cívica transcorrida.
Essa inequívoca demonstração de maturidade política e democrática do eleitorado,
no momento de expressar suas preferências nas urnas, contribuiu para reafirmar
a veemente condenação da sociedade brasileira a atos deploráveis anotados no
andamento da campanha eleitoral. Com ênfase ao desvairado atentado de Juiz de
Fora.
O segundo turno
é uma outra eleição. São bastante compreensíveis as expectativas externadas por
todos os segmentos representativos da sociedade, comprometidos com o Bem Comum,
em relação ao posicionamento a ser mantido, daqui pra frente, pelos candidatos
apontados para a derradeira disputa. A ardente esperança popular é de que eles
se coloquem à altura da confiança que lhes foi outorgada. Esmerem-se na
elaboração e exposição dos planos e estratégias julgados relevantes para que o
país possa ser recolocado nas trilhas do desenvolvimento econômico e das
conquistas sociais. Faz-se essencial se mostrem aptos a oferecer indicações
claras de competência, preparo psicológico, condição moral e ética para gerir
os sagrados negócios públicos. É fundamental que saibam projetar publicamente
elementos de forte convicção sobre seus propósitos, que mostrem exuberantemente
seus currículos, suas histórias de vida, que proclamem com clareza solar suas
ideias sobre as questões pertinentes ao crescimento brasileiro e à nossa evolução
civilizatória.
Dos eleitos
espera-se mantenham sintonia perfeita com o sentimento das ruas. Como dizia o
imortal Monteiro Lobato, “um governo deve sair do povo como o fumo sai da
fogueira.”
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