Assim funciona a democracia
Cesar Vanucci
“Tudo nessa
história de disco voador resvala o fantástico.”
“Uma corrida
de revezamento.”
(Antônio
Luiz da Costa, professor)
(Explicação didática de Barack Obama, sobre a disputa eleitoral numa democracia)
Extrair da democracia, para plena utilização, todo
ímpeto criativo, todas as propostas construtivas que ela seja capaz de
engendrar. Confiar na democracia assim como “a palmeira confia no vento e o
vento confia no ar”, conforme a recomendação poética de Thiago de Mello, mesmo
sabendo-a carregada de imperfeições por culpa de equivocadas posturas humanas.
Expressar inabalável convicção de que a pior das democracias é preferível à
melhor das ditaduras. Ter presente, a propósito, que a expressão “melhor das ditaduras”
não passa de mero ardil de linguagem.
Todo regime despótico, não importando a
lateralidade ideológica, se de esquerda ou de direita, revela-se inapto a
assegurar aos cidadãos subjugados qualquer vantagem compensatória em relação à
aterrorizante supressão da liberdade. Relembrar sempre, sobretudo quando diante
de alguma frustração política, aquela irretocável definição sobre a democracia
feita pelo estadista Winston Churchill na Câmara dos Comuns inglesa, em 11 de
setembro de 1947. Aqui está ela: “Ninguém pretende que a democracia seja
perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de
governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em
tempos.”
É preciso manter a atenção fixada nas engrenagens
operacionais do sistema democrático. Absorver bem a ideia de que o voto
significa voz. E que o vozerio majoritário outra coisa não exprime senão uma
vontade a ser acatada sem tergiversações. Barack Obama, presidente do qual seus
compatriotas sentem imensa saudade nesta fase de sucessivos desatinos
praticados pelo sucessor, certa feita recorreu a sugestivo exemplo mode quê
explicar didaticamente o mecanismo que rege o jogo democrático. Comparou as
periódicas disputas eletivas a uma eletrizante corrida de revezamento. A cada
etapa da competição o bastão é trocado de mãos. Os contendores dão o melhor de
si, no percurso extenuante que se lhes toca cobrir, para levarem a cabo
satisfatoriamente sua missão. Cuidam zelosamente, fieis a saudáveis regras, da
respeitosa entrega do bastão aos disputantes seguintes. Ficam no direito, se
assim desejarem, caso se ofereçam condições propícias, a participar das futuras
corridas de revezamento.
A corrida eleitoral brasileira chegou ao seu
epílogo. Foi pontuada, em não poucos instantes, por indesejável fragor
belicoso, alimentado por exacerbadas paixões. Dos brasileiros de boa-vontade
espera-se, agora, procurem com serenidade e inteligência, espírito desarmado,
participar ativamente das etapas de construção do progresso e desenvolvimento
que venham a ser programadas pelo interesse nacional e pela democracia. Com
ideias propositivas, mesmo em situações que inspirem compreensível avaliação
crítica, chutando pra fora da cancha desavenças de teor desedificante, cada
cidadão é convocado a ocupar lugar no inadiável e ingente esforço de
mobilização das forças vivas da nacionalidade em favor de políticas econômicas
e administrativas capazes de assegurar crescente prosperidade para todos.
As siglas partidárias e as correntes de opinião são
elos importantíssimos no encadeamento democrático. Acima delas, entretanto,
importa muito colocar o sagrado interesse da coletividade. Coletividade essa
que abriga infinitas diversidades de pensamento e métodos de ação. A liderança
legitimamente obtida nas urnas pelos governantes recém-eleitos deles reclama
grandeza cívica, sob a forma de gestos e palavras que apaziguem ânimos,
eliminem desagradáveis idiossincrasias e traduzam sincera disposição em aceitar
contribuições alheias de boas ideias na execução das politicas públicas a serem
deflagradas objetivando a expansão do bem-estar comunitário. De outra parte, de
quem se alinhe nas fileiras da oposição, portadores de uma missão relevante no
esquema democrático republicano, é de se aguardar, pela mesma forma,
demonstrações de isenção e capacidade para não se furtarem à cooperação nos
projetos e iniciativas dos governantes que consultem realmente as aspirações da
sociedade.
É assim que as coisas funcionam na democracia.
Nalgumas horas, uma clareira carece ser aberta na penosa caminhada do país em
busca de seu destino, para que todos, independentemente das tendências e
simpatias políticas, conscientes de que um poder mais alto de alevanta, se
entreguem a uma generosa troca de experiências e produtivo reforço de ideias e
atos que permitam imprimir ritmo mais veloz na busca dos objetivos sociais e
civilizatórios.
Incidente ufológico em Brasília
Leitor que se confessa “fissurado” no chamado
fenômeno ÓVNI cobra-me relato sobre um extraordinário episódio narrado em
palestra que fiz no Congresso Brasileiro de Ufologia, ano passado, em Belo
Horizonte. O “incidente” envolveu, logo nos começos de Brasília, dois homens
públicos de projeção nacional. Ambos parlamentares. Ambos escritores. Ambos já
falecidos.
Inicio a narrativa citando-lhes os nomes: Paulo
Pinheiro Chagas e Plínio Salgado. Este último, presidente do PRP (Partido de
Representação Popular), desfrutava de notoriedade como chefe da ação
integralista, uma versão tupiniquim do movimento fascista italiano de Benito
Mussolini. Sua obra mais apreciada como escritor focaliza a vida de Jesus
Cristo. Pinheiro Chagas foi, provavelmente, o mais culto e talentoso tribuno
parlamentar de sua época. De sua vasta produção literária faz parte o livro
“Teófilo Otoni, o Ministro do Povo”, por muitos apontado como a melhor
biografia já produzida de um personagem de nossa história. Estive ligado a
Paulo, até os derradeiros momentos de sua peregrinação pela pátria terrena, por
poderosos laços de amizade. Ele e senhora, a também saudosa Zembla, tia de
minha esposa Addi, foram meus padrinhos de casamento. Foi dele, Paulo Pinheiro
Chagas, que ouvi, por mais de uma vez, com requintados detalhes, o relato de
uma incrível experiência ufológica.
Brasília vivia, em 1960, a efervescência de seus
primeiros encantadores instantes de vida como centro das decisões políticas
nacionais. O presidente da República era o inolvidável Juscelino Kubitschek de
Oliveira. Paulo Pinheiro Chagas desempenhava as funções de líder do governo na
Câmara dos Deputados. Num final de tarde, acompanhado do amigo deputado Crispim
Jacques Bias Fortes, Pinheiro Chagas deixou a sede do Legislativo com o destino
do Palácio do Planalto. O carro conduzia os parlamentares e o motorista. Eis
que, de repente, a uma distância que possibilitou aos ocupantes do veículo em
movimento visão bastante nítida da cena, surgiu um objeto aéreo fazendo
desnorteantes evoluções. O artefato possuía o formato celebrizado na maioria
dos avistamentos notificados nos anos 50: um pires com uma redoma. A imagem
captada, como sempre ocorre em circunstâncias do gênero, deixou forte impacto
nas testemunhas. Ali mesmo no carro, Paulo e companheiros tomaram uma
deliberação: manter a ocorrência sob reserva, de modo a evitar repercussões de
cunho político. A ferrenha oposição a JK não perdia chance para alvejar as
decisões, atos e projetos governamentais. Provavelmente, partiria para uma tentativa
de ridicularizar políticos tão próximos ao grande presidente, caso a história
do contato de terceiro grau vazasse. As cautelas adotadas no sentido de se
evitar a divulgação não impediram, todavia, que o fato merecesse pequeno
registro, sem maiores detalhes, numa coluna de jornal brasiliense.
As coisas estavam colocadas nesse pé, quando Paulo
Pinheiro Chagas recebeu uma ligação telefônica de Plínio Salgado. O líder da
bancada integralista, vinculada a oposição, pediu-lhe uma conversa em caráter
confidencial. Como o momento político se revelasse um tanto quanto conturbado,
Paulo deu ciência a Juscelino do encontro proposto, na expectativa de que a
conversa sigilosa com Plínio pudesse girar em torno de alguma questão política
momentosa. Mas o papo, para espanto do líder do governo, tomou rumo totalmente
diferente.
Plínio Salgado tivera ciência, pelo jornal, do caso
do óvni. E não podia deixar de passar para seu companheiro de parlamento, como
ele escritor, uma revelação espantosa. Contou, então, com visível emoção, os
surpreendentes desdobramentos do incidente ufológico em causa. Naquela tarde,
um “disco-voador” com configuração idêntica ao do avistamento de Pinheiro
Chagas e Bias Fortes apareceu, inesperadamente, a curta distância do local onde
Plínio Salgado se encontrava, no jardim da residência. O deputado sentiu-se
imobilizado, depois de atingido por um feixe de luz desfechado do aparelho. Só
algum tempo passado, com o objeto já fora do alcance visual, é que conseguiu
recuperar os movimentos. O relato, como os investigadores do fenômeno óvni
podem atestar, guarda semelhança com outras ocorrências ufológicas e favorece a
dedução de que Plínio Salgado, naquele momento, talvez houvesse sido alvo de
uma abdução.
Pra encerrar a conversa: em Belo Horizonte, no
bairro da Serra, anos mais tarde, Paulo Pinheiro Chagas testemunhou um outro
avistamento de óvni.
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