Um certo Capitão
Guimarães Rosa
Cesar Vanucci
“É um dever cívico e
patriótico exaltar os nomes que
edificaram nossa
nacionalidade e João Guimarães Rosa foi um deles.”
(Coronel Klinger Sobreira de Almeida,
presidente da Academia de Letras da PMMG)
Antes de tornar-se
celebridade por força da genialidade literária, antes mesmo da cintilante
trajetória percorrida na cena diplomática, com notável atuação em prol dos
direitos humanos, sobretudo à época da odiosa perseguição nazista aos judeus, João
Guimarães Rosa, já graduado em medicina, desempenhou proficientemente as
funções de capitão da Polícia Militar de Minas. Sua extraordinária obra
intelectual somada a essa honrosa condição inspirou seus companheiros de farda
a colocarem seu nome como patrono da prestigiosa Academia de Letras que agrupa
intelectuais do meio militar.
A instituição
patrocinou, este ano, pela segunda vez, a outorga do “Troféu João Guimarães
Rosa” a personalidades e organizações que se destacam no culto à memoria e obra
do escritor. Revestida da pompa que já
nos habituamos a ver em eventos culturais e cívicos da conceituada corporação,
a cerimônia reuniu representativo contingente de convidados. Aconteceu no dia
19 de novembro, data reservada no calendário cívico ao culto da bandeira nacional.
Aos agraciados foram entregues pequenas estatuetas do patrono do troféu
envergando farda típica do tempo em que serviu como capitão-médico na Força
Pública.
Dez troféus foram
atribuídos a três respeitáveis instituições e a sete cidadãos. Estas as
instituições: Batalhão da Polícia Militar de Barbacena (antigo 9º Batalhão de
Infantaria), unidade onde Guima atuou nos anos 30; Fundação Guimarães Rosa e
Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa. Aqui a lista dos demais agraciados:
Calina da Silveira Guimarães (homenagem de saudade), coronel Cláudio Roberto de
Souza, comandante geral do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, jornalista
Juliana Dametto Guimarães Rosa, professora Lélia Maria Parreira Duarte,
jornalista Gustavo de Jesus Werneck, empresário Evandro Guimarães de Paula, e,
ainda, este escriba amigo de vocês, atual presidente da Academia Municipalista
de Letras MG, autor de um ensaio sobre “O lado místico de Guimarães Rosa”.
A programação cumprida
na solenidade, levada a efeito em praça pública da Cidade Nova, BH, batizada
com o nome do autor de “Grande Sertão: Veredas”, contou com o concurso da banda
do Corpo de Bombeiros, de guarda de honra da Escola de Cadetes da PM,
representação do 9º BMPM de Barbacena, que reverenciou de forma especial a
memória do capitão médico diante de sua estátua. Em nome dos homenageados, o coronel
Cláudio Roberto de Souza pronunciou discurso de rico conteúdo literário. Além
do Hino Nacional e Hino a Bandeira foram executadas, pela banda do Corpo de
Bombeiros, a canção da corporação e a canção da Polícia Militar.
Ano passado, no mesmo
local, ao ensejo do cinquentenário do passamento à pátria espiritual do
escritor, reconhecido como a maior figura literária brasileira de todos os
tempos, realizou-se pela primeira vez a festa cívico-cultural de entrega do
troféu. A estátua plantada na praça foi então inaugurada. A filha de Rosa,
Vilma Guimarães Rosa, compareceu. A cerimônia do dia 19 comemorou o 51º
aniversário do “encantamento” de Guima.
A Academia de Letras da
PM, presidida por personagem de realçante presença na paisagem intelectual
mineira, coronel Klinger Sobreira de Almeida, com o apoio do Clube dos Oficiais,
comandado pelo ilustre coronel e deputado Edvaldo Piccinini Teixeira, organizou
o ato comemorativo sublinhando que seu patrono, nascido em Cordisburgo em 1908,
graduou-se como médico em 1930, indo clinicar em Itaguara. Em 1932 integrou
como voluntário uma unidade da Força Pública, tendo sido comissionado no posto
de capitão-médico. Foi efetivado dois anos depois, por concurso, no batalhão de
Barbacena. Deixou a caserna para ingressar na diplomacia.
No governo JK ocupou o
cargo de embaixador, já aí com o nome glorificado nos círculos literários. Da
passagem pela PM, Guimarães guardou fortes lembranças. Em registro a respeito
frisou que “a Força Pública se caracteriza, antes de tudo, pela homogeneidade e
pela continuidade. Homogeneidade no cômputo de seus valores. Continuidade no
manter as suas tradições de disciplina e bravura, contribuindo para isso o processo
de formação de suas patentes, que galgam das primeiras graduações aos topes da
oficialidade por um processo de rigorosíssima seleção de aptidões e
capacidades.”
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