Cesar Vanucci
“A contribuição
das empresas é importante porque garante o funcionamento de entidades que deram
certo e contribuem para o bem-estar social.”
(José Alencar Gomes da Silva, de saudosa memória, à época presidente da
Fiemg)
Percorrendo as
ladeiras da memória, certifico-me de que há mais de duas décadas, em 1995,
deflagrou-se nos bastidores governamentais uma articulação com o propósito de
alterar a configuração do chamado “Sistema S”. A ideia aventada era
estatizá-lo, algo que soava tremendamente incoerente numa hora em que se fazia
manifesta na ação oficial a intenção de promover descontrolada privatização de
ativos públicos, ainda hoje bastante criticada. Em defesa dos SS, publiquei uma
série de artigos contendo respeitáveis conceitos ajustados às circunstâncias
específicas daquela ocasião.
As considerações
estampadas conservam ainda, de certo modo, num que outro ponto, sabor de
atualidade neste momento em que a atuação das mencionadas instituições volta a
frequentar, se bem que em contexto diferenciado, a agenda de debates. Eis o que
então registrei.
As aparências enganam, como
ensina a antiga prudência. Por isso, vou desovando logo saborosa historieta que
frequenta com habitualidade e efeito garantido os encontros de sensibilização
gerencial. O cidadão ia à toda na estrada. Numa curva bem fechada, quase vira
manchete vistosa de página policial, ao cruzar com veículo que vinha um tanto
desgovernado. Na passagem, gesticulante, alto falante gutural ao máximo volume,
o outro motorista, uma mulher (“Não falei?”- pensou o nosso personagem,
machismo todo aflorado), já com o controle da máquina retomado, deixou cair: -
Cavalo! Cavalo!... Não teve a menor
dúvida. Sapecou incontinenti a resposta engatilhada para esses entreveros de
trânsito: - Vaca! Vaca!... Segundos
depois, o carro rodopiava no asfalto, por culpa de uma tropa de cavalos
atravessando a pista.
Moral da história: a
palavra pode se aprestar a interpretações enganosas. Pelo que, tendo em vista o
título deste comentário, nada de confusões pro meu lado. Sem essa de tentar
lobrigar chifre em cabeça de cavalo. A defesa veemente assumida não é a dos
notórios SS que ocupam espaço sinistro nos registros da história. Os SS de
minha incondicional admiração nada têm em comum com os responsáveis pelo
hediondo expurgo racista do apogeu do nazismo, tempo marcado pela destruição de
apreciáveis valores humanos e espirituais. Muito antes, pelo contrário.
Eficientes agentes da construção humana e espiritual, estes SS de minha
apaixonada defesa compõem registro edificante da história brasileira. Os SS de
que falo, evocativos de tanta coisa positiva realizada e de tantas iniciativas
boas por fazer, atendem pelas sonoras e simpáticas denominações de SESI, SESC,
SENAC, SENAI.
Querem acabar com eles. São
inimigos dissimulados, ostensivos. Entregam-se, obsedantemente, a esse
propósito demolidor. O objetivo é perseguido com implacável obstinação. O
carro-chefe das tropas de assalto empenhadas na inglória missão está agora
representado pela proposta de eliminação da contribuição compulsória dos
encargos sociais nas folhas de pagamento, ao pretexto ridículo de que os pouco
por cento reservados a tão nobres intuitos sobrecarregam os custos
empresariais. Atrás disso se escondem argumentos inconsistentes oriundos de
desconhecimento de causa, oportunismo, estreiteza intelectual para descobrir o
óbvio. Parte-se, assim, para a negação sistemática da filosofia social embutida
na programação das entidades. Para a não aceitação de sua condição de
instrumento eficaz na promoção comunitária. Para a ideia de jerico, acolhida de
modo embevecido nalguns ambientes, de transformar as instituições em meros
departamentos burocráticos de um Ministério qualquer, como novas e defeituosas
versões da LBA.
O que se pretende é a
mudança de regra no jogo em andamento, onde os atletas se deslocam em campo em
estado de graça, proporcionando com arte e criatividade espetáculo
deslumbrante, ao agrado de numerosa e exigente torcida. Vê se pode! Mexer na
regra é distorcer o resultado. Cabe à opinião pública identificar nos adeptos
dessas esdrúxulas teses pessoas descompromissadas com o sentido social da vida.
Gente que coloca à deriva das preocupações, como indissociáveis das ações
econômicas, as cogitações sociais.
Pelo teor da ofensiva,
percebe-se que é intenso o empenho em acabar com a obra que vem dando certo
desde o começo. Obra que pode ser apontada como modelo de atuação. Produto
exportável em condições de arrebatar tantos certificados ISO criados nos foros
internacionais de qualidade.
Nossos SS nasceram de
inspirada combinação do zelo oficial com a sensibilidade empresarial e
aspiração laboral. Funcionam em moldes eficientes, sendo sustentados por
recursos provindos das empresas, células dinâmicas do desenvolvimento. Para que
o projeto nascido dessa poderosa conjugação de vontades se consolidasse muito
concorreu a lucidez revelada por uma legião admirável de líderes. Empresários
evoluídos, contemporâneos do futuro, souberam captar a envolvente mensagem
social inserida no bojo das velozes transformações deste tempo. Assumiram, com
saudável disposição, o comando dos SS, encaixando-os nos esquemas operacionais
das entidades representativas das categorias econômicas. Acertaram em cheio.
Souberam definir arrojadas linhas de ação social e educacional para o trabalho
levado a efeito.
São nomes que fazem parte
do panteão da história do desenvolvimento.
Reverenciá-los é preciso. Roberto Simonsen, Euvaldo Lodi, Morvan
Figueiredo, Américo Giannetti, entre outros, souberam tornar melhores as
relações entre o capital e o trabalho. Deixaram valiosa contribuição à causa da
paz social.
Um comentário:
Caro Vanucci, bom dia!
Palpito sobre sua defesa do SS:
Ninguém discute a qualidade do serviço prestado, nem sua importância social e que ajuda maior produtividade nas empresas.
Não se cogita extingui-los nem desprezá-los.
Apenas, por questão de lógica, se é bom, reconhecidamente útil - por unanimidade - que se deixe a cargo de cada empresário contribuir da forma que achar justa, possivelmente até maior do que a "contribuição" obrigatória (incoerência semântica).
Esta é a questão: a obrigação universal, todos, em qualquer circunstância, obrigados (impostos) a dar sua parte, independentemente de suas prioridades e urgências momentâneas.
Num momento crítico, na óbvia necessidade de "apertar o cinto", os empresários e dirigentes classistas deveriam dar seu exemplo, concordando com essa flexibilização!
Seria também de bom alvitre que essas contas fossem mais transparentes: qual é a parcela que se perde na burocracia, mordomias e excessos da super estrutura dos sistemas? 60%?
O mesmo raciocínio serve para os sindicatos, ONG e que tais: se são bons, que se financiem com recursos voluntários de seus adeptos, membros e beneficiários.
Antes de dizer que é impossível, veja exemplo recente e eloquente do Partido NOVO!
Basta, não é mesmo?
Grande abraço,
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