sexta-feira, 11 de janeiro de 2019


Em defesa dos SS  

Cesar Vanucci

 “A contribuição das empresas é importante porque garante o funcionamento de entidades que deram certo e contribuem para o bem-estar social.”
(José Alencar Gomes da Silva, de saudosa memória, à época presidente da Fiemg)

Percorrendo as ladeiras da memória, certifico-me de que há mais de duas décadas, em 1995, deflagrou-se nos bastidores governamentais uma articulação com o propósito de alterar a configuração do chamado “Sistema S”. A ideia aventada era estatizá-lo, algo que soava tremendamente incoerente numa hora em que se fazia manifesta na ação oficial a intenção de promover descontrolada privatização de ativos públicos, ainda hoje bastante criticada. Em defesa dos SS, publiquei uma série de artigos contendo respeitáveis conceitos ajustados às circunstâncias específicas daquela ocasião.
As considerações estampadas conservam ainda, de certo modo, num que outro ponto, sabor de atualidade neste momento em que a atuação das mencionadas instituições volta a frequentar, se bem que em contexto diferenciado, a agenda de debates. Eis o que então registrei.

As aparências enganam, como ensina a antiga prudência. Por isso, vou desovando logo saborosa historieta que frequenta com habitualidade e efeito garantido os encontros de sensibilização gerencial. O cidadão ia à toda na estrada. Numa curva bem fechada, quase vira manchete vistosa de página policial, ao cruzar com veículo que vinha um tanto desgovernado. Na passagem, gesticulante, alto falante gutural ao máximo volume, o outro motorista, uma mulher (“Não falei?”- pensou o nosso personagem, machismo todo aflorado), já com o controle da máquina retomado, deixou cair: - Cavalo! Cavalo!...  Não teve a menor dúvida. Sapecou incontinenti a resposta engatilhada para esses entreveros de trânsito: - Vaca! Vaca!...  Segundos depois, o carro rodopiava no asfalto, por culpa de uma tropa de cavalos atravessando a pista.

Moral da história: a palavra pode se aprestar a interpretações enganosas. Pelo que, tendo em vista o título deste comentário, nada de confusões pro meu lado. Sem essa de tentar lobrigar chifre em cabeça de cavalo. A defesa veemente assumida não é a dos notórios SS que ocupam espaço sinistro nos registros da história. Os SS de minha incondicional admiração nada têm em comum com os responsáveis pelo hediondo expurgo racista do apogeu do nazismo, tempo marcado pela destruição de apreciáveis valores humanos e espirituais. Muito antes, pelo contrário. Eficientes agentes da construção humana e espiritual, estes SS de minha apaixonada defesa compõem registro edificante da história brasileira. Os SS de que falo, evocativos de tanta coisa positiva realizada e de tantas iniciativas boas por fazer, atendem pelas sonoras e simpáticas denominações de SESI, SESC, SENAC, SENAI.

Querem acabar com eles. São inimigos dissimulados, ostensivos. Entregam-se, obsedantemente, a esse propósito demolidor. O objetivo é perseguido com implacável obstinação. O carro-chefe das tropas de assalto empenhadas na inglória missão está agora representado pela proposta de eliminação da contribuição compulsória dos encargos sociais nas folhas de pagamento, ao pretexto ridículo de que os pouco por cento reservados a tão nobres intuitos sobrecarregam os custos empresariais. Atrás disso se escondem argumentos inconsistentes oriundos de desconhecimento de causa, oportunismo, estreiteza intelectual para descobrir o óbvio. Parte-se, assim, para a negação sistemática da filosofia social embutida na programação das entidades. Para a não aceitação de sua condição de instrumento eficaz na promoção comunitária. Para a ideia de jerico, acolhida de modo embevecido nalguns ambientes, de transformar as instituições em meros departamentos burocráticos de um Ministério qualquer, como novas e defeituosas versões da LBA.

O que se pretende é a mudança de regra no jogo em andamento, onde os atletas se deslocam em campo em estado de graça, proporcionando com arte e criatividade espetáculo deslumbrante, ao agrado de numerosa e exigente torcida. Vê se pode! Mexer na regra é distorcer o resultado. Cabe à opinião pública identificar nos adeptos dessas esdrúxulas teses pessoas descompromissadas com o sentido social da vida. Gente que coloca à deriva das preocupações, como indissociáveis das ações econômicas, as cogitações sociais.

Pelo teor da ofensiva, percebe-se que é intenso o empenho em acabar com a obra que vem dando certo desde o começo. Obra que pode ser apontada como modelo de atuação. Produto exportável em condições de arrebatar tantos certificados ISO criados nos foros internacionais de qualidade.

Nossos SS nasceram de inspirada combinação do zelo oficial com a sensibilidade empresarial e aspiração laboral. Funcionam em moldes eficientes, sendo sustentados por recursos provindos das empresas, células dinâmicas do desenvolvimento. Para que o projeto nascido dessa poderosa conjugação de vontades se consolidasse muito concorreu a lucidez revelada por uma legião admirável de líderes. Empresários evoluídos, contemporâneos do futuro, souberam captar a envolvente mensagem social inserida no bojo das velozes transformações deste tempo. Assumiram, com saudável disposição, o comando dos SS, encaixando-os nos esquemas operacionais das entidades representativas das categorias econômicas. Acertaram em cheio. Souberam definir arrojadas linhas de ação social e educacional para o trabalho levado a efeito.

São nomes que fazem parte do panteão da história do desenvolvimento.  Reverenciá-los é preciso. Roberto Simonsen, Euvaldo Lodi, Morvan Figueiredo, Américo Giannetti, entre outros, souberam tornar melhores as relações entre o capital e o trabalho. Deixaram valiosa contribuição à causa da paz social.


Um comentário:

Guilherme Roscoe disse...

Caro Vanucci, bom dia!
Palpito sobre sua defesa do SS:
Ninguém discute a qualidade do serviço prestado, nem sua importância social e que ajuda maior produtividade nas empresas.
Não se cogita extingui-los nem desprezá-los.
Apenas, por questão de lógica, se é bom, reconhecidamente útil - por unanimidade - que se deixe a cargo de cada empresário contribuir da forma que achar justa, possivelmente até maior do que a "contribuição" obrigatória (incoerência semântica).
Esta é a questão: a obrigação universal, todos, em qualquer circunstância, obrigados (impostos) a dar sua parte, independentemente de suas prioridades e urgências momentâneas.
Num momento crítico, na óbvia necessidade de "apertar o cinto", os empresários e dirigentes classistas deveriam dar seu exemplo, concordando com essa flexibilização!

Seria também de bom alvitre que essas contas fossem mais transparentes: qual é a parcela que se perde na burocracia, mordomias e excessos da super estrutura dos sistemas? 60%?
O mesmo raciocínio serve para os sindicatos, ONG e que tais: se são bons, que se financiem com recursos voluntários de seus adeptos, membros e beneficiários.
Antes de dizer que é impossível, veja exemplo recente e eloquente do Partido NOVO!
Basta, não é mesmo?
Grande abraço,

A SAGA LANDELL MOURA

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