Até quando?
Cesar Vanucci
“Em Barão de
Cocais, mais centenas de pessoas são retiradas às pressas de casa.”
(Do noticiário)
Uai! Assim
mesmo? Quer dizer, então, pelo que está posto, que o pânico coletivo tende a
perpetuar-se? Quer dizer, então, mesmo, que o pesadelo não tem desfecho à vista?
Indagações desse atordoante teor avolumam-se. Irrompem de corações despedaçados
pela dor e também da paciência já exaurida das ruas.
As manchetes nossas
de cada dia não cessam de trazer revelações impactantes. Expõem as incompreensíveis
fragilidades oferecidas pelos sistemas de segurança montados, por aí afora, nas
[barreiras de contenção de rejeitos minerais situadas no entorno de povoados e
até de cidades. A predação criminosa, observada em tantos recantos do mapa, na
exploração dos mananciais da infindável riqueza mineral agasalhada nas
entranhas das Minas Gerais mostra-se – visto está – suficientemente “capacitada”
a estender a mais outros sítios seus devastadores tentáculos.
Eis aqui uma
pergunta entalada na garganta das pessoas, clamando por resposta urgente. Até
quando? Até quando atos terroristas desse gênero assumidos por alguns complexos
de extração minerária operados irresponsavelmente em moldes vandálicos, em
solene menosprezo às exigências tecnicamente recomendadas no sentido da
salvaguarda de vidas e do meio ambiente, continuarão desafiando impunemente o
sagrado interesse da coletividade? Até quando as multidões afetadas pelos
malfeitos detectados ficarão condenadas a viver em estado de permanente
sobressalto? É extremamente cruel o fardo imposto a cidadãos que se veem, de súbito,
constrangidos a alterar dramaticamente a rotina de vida pela circunstância de
possuírem suas casas, seus negócios, seus ambientes de convivência localizados
nas proximidades de barragens suspensas, reconhecidamente inseguras. Numa
situação com tais características não há quem não se sinta apoderado de atormentada
expectativa. Nalgum instante qualquer, quebrando sonos intranquilos ou vigílias
nervosas, trombetas fatídicas poderão anunciar que um novo dilúvio de lama vem descendo
por aí. Oportuno, a propósito, anotar que nas dilacerantes preocupações das
pessoas é colocada em conta também a possibilidade, não descartável em virtude
de brutal ocorrência já transcorrida, de a trombeta (melhor dizendo, a sirene)
deixar de emitir a tempo o alerta para a evacuação às pressas.
De tudo quanto
se ouve, se sabe, se lê dos pavorosos acontecimentos de agora e de
acontecimentos semelhantes anteriores, sobra a inapelável certeza de que a
exploração mineral no Brasil, sobretudo em Minas, vem sendo inocultavelmente
caracterizada em certos trechos – vale repetir, para que fique bem gravado na
consciência popular - por ações de caráter predatório, em desconsideração aos
direitos humanos e flagrante menosprezo às normas ambientais. Tudo isso,
proclame-se com veemência outra vez mais, se processa em nome da ganância sem
freios. Ao arrepio dos marcos civilizatórios que apontam para todo e qualquer
tipo de atividade econômica verdadeiramente comprometida com a causa do
desenvolvimento e da prosperidade coletiva, o apego aos valores éticos e à
sensibilidade social aguçada no relacionamento com as comunidades em que se veja
inserida.
A opinião
pública brasileira, consciente das prerrogativas asseguradas pelo exercício da
cidadania no regime democrático que nos vige, fica no direito de aguardar dos
poderes reguladores governamentais, das autoridades competentes, nos diferentes
escalões decisórios, das lideranças comunitárias, das empresas do setor mineral
que saibam promover, com bom senso, transparência e suprema urgência, compondo
uma conjugação de vontades poderosa, um pacto propositivo em torno das soluções
que a conjuntura reclama. Indenizações e ressarcimentos rápidos. Restaurações
arquitetônicas e de paisagens ágeis. Esquemas de fiscalização rígidos. Apuração
rigorosa de responsabilidades. Tudo isso demanda diligências sem maiores delongas,
com dispensa de blá, blá, blá retórico. Configura-se igualmente com clareza
solar de verão o fato de que a sociedade está a exigir definições prementes,
tanto no plano das providências de ordem tecnológica, quanto nas medidas de
caráter administrativo, que poupem vidas inocentes e que devolvam, o quanto
antes, a paz, a tranquilidade, o sossego público às comunidades alvejadas pelo
desvario que deu origem às tragédias que enlutaram o país.
A Nação almeja
que a resposta a ser dada ao seu “Até quando?” seja um sonoro e vibrante “É pra
já!”
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