Tropeções
em fatos desconcertantes
Cesar
Vanucci
“Olhar
o mundo com os olhos dilatados pela estranheza...”
(Ortega y Gasset)
Nas
andanças cotidianas os tropeções em fatos desconcertantes acontecem volta e
meia. Aqui, de registro recente, um punhado deles.
Cada
dia, conta o jornal, um novo tipo de agrotóxico é despejado na mesa de
refeições do brasileiro. O número dessas substancias nocivas, liberadas por
órgãos ditos de saúde pública, cresceu 394 por cento entre 2005 e 2018. Seja a
informação acrescida de outro dado inquietante: boa parte dos produtos
franqueados é de uso proibido fora daqui, inclusive nos países onde o veneno é caprichosamente
concebido ou fabricado para comercialização em “casa de mãe Joana”. Cabe anotar
ainda que, só em Minas Gerais, no ano de 2017, ocorreram 625 notificações de
intoxicação aguda provocada por agrotóxico nas lidas rurais. Em 2008 as
intoxicações na faixa do trabalho agrícola chegaram a 181. Aumento de 245 por
cento, entre os períodos citados, conforme levantamentos do SUS.
Investigação
jornalística revela serem um tanto quanto exagerados os atos até agora
divulgados acerca de nomeações de parentes próprios, ou de familiares de
cupinchas, para cargos públicos estratégicos, assinados por numerosos
governantes estaduais que se escoraram em retóricas mudancistas com relação a
viciosas práticas políticas para galgar o poder. A postura nepotista denunciada
mostra explicitamente que, também por aí, vamos ter que, tomados por frustração,
confrontar um pouco mais do mesmo...
Com
a manutenção pela Câmara Municipal de veto do Executivo a projeto de lei definindo
regras rígidas e limitações na comercialização de animais domésticos, Belo
Horizonte tornou-se a única capital do Sudeste desprovida de legislação
pertinente ao assunto. “Consideramos o veto um desfavor à sociedade. Estamos na
contramão da corrente mundial”, denuncia Ana Martins, dirigente da ONG “BastAdotar”,
em entrevista ao “O Tempo”.
Itatiaiuçu,
Barão de Cocais, Macacos (Nova Lima), em fevereiro; Rio Preto, agora em março,
são outros municípios duramente afetados, na história recente, pela exploração
predatória mineral. Passaram a integrar o conjunto das comunidades
inclementemente alvejadas por preocupações diante da circunstância de estarem
localizadas nas proximidades das tais “barragens de risco”. Foram “lançados” no
rol das áreas que ostentam placas com os dizeres “perigo à vista”, após as
horrendas tragédias de Mariana e Brumadinho. Ainda agora, em 16 de março,
moradores do povoado de Monte Alegre, distrito de Santa Bárbara de Monte Verde,
Rio Preto, Zona da Mata, foram convidados a deixar, às carreiras, suas
propriedades e pertences, ao soar a sirene de alerta a respeito da súbita
elevação, para o assim chamado (amedrontador) “nível dois”, do volume de água na
barragem vinculada ao reservatório de uma hidrelétrica. Acertou na mosca quem apostou
ser a Vale a proprietária da usina hidrelétrica...
O
Governo Federal vem de promover leilão para que um punhado de aeroportos, por ora
administrados pelo Estado, “passe ao controle da iniciativa privada”. O
ganhador do lote apontado como de maior valor (terminais localizados no Nordeste)
foi uma grande empresa espanhola. Estatal, tá bem? Como diriam o saudoso
Ricardo Boechat e seu irreverente parceiro, José Simão, nas bem humoradas
tiradas matinais na “Band”, o Brasil é mesmo, inapelavelmente, o país da piada
pronta...
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