Honra
demasiada
Cesar
Vanucci
“A
cultura é uma dimensão
constitutiva
da existência humana.”
(Gilberto Amado)
Na
manhã do dia 30 de março passado, sábado, vivi forte e genuína emoção. Tomei
posse, em concorrida assembleia de teor literário e artístico, como membro
efetivo do elenco acadêmico do Instituto Histórico e Geográfico de Minas
Gerais, mais antiga instituição cultural mineira, fundada por João Pinheiro.
Conduzida pelo presidente Aluizio Alberto da Cruz Quintão, escritor, poeta e
jurista de renome, a festiva cerimônia reuniu incontável número de amigos de
variados segmentos comunitários, entre eles personagens pertencentes aos
quadros, além do Instituto, da Academia Mineira de Letras, Academia
Municipalista de Letras de Minas, Academia de Letras Guimarães Rosa, da Polícia
Militar, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Arcádia, Academia Mineira de
Leonismo e outras entidades ligadas ao movimento literário e artístico. A
participação de representantes do Lions Clube foi também bastante
significativa.
A
parte artística do evento ficou a cargo do famoso instrumentista Cid Ornellas,
nome de projeção nacional, que brindou o público presente com recital
primoroso, interpretando peças musicais de Villa Lobos, Ary Barroso, Luiz Lua
Gonzaga e Ravel.
Na
ocasião, deu-se o lançamento do livro “Pelos caminhos do Pescador”, romance
histórico com foco na figura de São Pedro, de autoria do secretário do
Instituto, Joaquim Cabral Netto. Nas palavras de Cabral “há passagens (na obra)
que defluem de fatos reais e, outras, que decorrem da criação do autor”. O
propósito é “realçar Pedro: o Apóstolo, o homem, o líder e sua missão.”
Minha
indicação para o Instituto partiu dos eminentes companheiros Paulo Duarte
Pereira, Luiz Carlos Abritta e Daniel Antunes Junior. Coube ao primeiro deles a
saudação ao empossando. Cidadão de inteligência privilegiada, capacidade de
liderança louvada num sem número de funções, Paulo é coronel da Polícia
Militar, tendo presidido o Tribunal de Justiça Militar. Elos fraternos
consistentes nos unem. Amigos de longa data, firmamos, pode-se dizer, uma
“tríplice aliança acadêmica”. Estamos juntos no Lions Clube, onde ele deixou
como Governador rastro luminoso. Somos companheiros na Academia de Leonismo.
Passamos doravante a atuar como colegas no Instituto Histórico.
No
pronunciamento que fiz, ao receber o diploma, a medalha e o distintivo
oferecidos aos que são investidos na honrosa titulação de sócio do Instituto,
registrei, entre outras, as seguintes palavras: “Suceder Oiliam José na cadeira
número 18, tendo como patrono José Pedro Xavier da Veiga, representa – como
diria saudoso professor de História aos tempos da escola risonha e franca no
Liceu Triângulo Mineiro, dirigido pelo genial Mário Palmério – honra demasiada
da conta para pobre vassalo. Vassalo, por força das circunstâncias, catapultado
por misteriosos, tanto quanto generosos desígnios, aos domínios encantados de
uma realeza dotada de invulgar sabedoria, descrição mais que ajustada a este
sodalício”.
Reportando-me
ao patrono, lembrei que Xavier da Veiga, mineiro de Campanha, foi alguém de
estatura everestiana no cenário intelectual. Jornalista, historiador, poeta,
atuou destacadamente na política no século XIX. Exerceu funções como Deputado
Provincial e Senador Estadual, tornando-se arauto da causa municipalista.
Nutrindo por Ouro Preto verdadeira veneração, opôs-se à transferência da
capital mineira para Curral Del Rey. Reconhecido pelo traquejo na administração
da coisa pública, atuou como negociador em contenda do Governo de Minas com o
Governo do Rio alusiva às divisas territoriais entre as duas províncias. O
parecer por ele emitido influenciou decisivamente a conciliação que pôs fim na
pendência. Com desempenho brilhante, fez parte do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro. Organizou o Arquivo Público Mineiro. Foi seu primeiro
diretor, entre 1895 e 1900. Criou a Revista do Arquivo Mineiro, onde se acha
estampada parte considerável de sua efervescente produção literária. No
trabalho executado no Arquivo colocou a salvo de desmantelamento e destruição
parte significativa da documentação provincial mineira. A rica e vasta
bibliografia de Veiga enfeixa inspirados poemas, textos de primorosa feição,
pujantes narrativas de conteúdo histórico.
Referi-me,
ainda, no discurso, à refulgente trajetória de meu antecessor Oiliam José,
educador, escritor, historiador, poeta e pensador, decano de organizações do
porte do Instituto Histórico e Geográfico, Academia Mineira de Letras e
Academia Municipalista de Letras. Recordei o fato de que mantínhamos, Oiliam e
eu, cordial relacionamento. A atividade literária fazia parte de nosso
substancioso intercâmbio de opiniões. Era enxergada como instrumento eficiente
de narração da historia humana e como fator de irradiação dos valores
humanísticos e espirituais que constituem nossa própria razão de viver.
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