Sinais
perturbadores
Cesar
Vanucci
“E de
repente nós percebemos o significado dos sinais.”
(Robert Prost, poeta estadunidense)
Atentar
para os sinais é preciso. São preocupantes. Provocam espanto. Geram inquietação
intelectual. Não há como deixar de admitir algo estranho no ar, algo além dos
aviões de carreira, relembrando dito jocoso do Barão de Itararé.
Sinalização
indesejável. Para quem possua olhos pra enxergar, ouvidos pra escutar e
percepção aguçada, deixa à mostra reações comportamentais merecedoras, a esta
altura, de reflexões e ações serenas, mas resolutas. Os segmentos da sociedade
comprometidos com as crenças humanísticas e espirituais que conferem dignidade
à aventura da vida não podem ignorar tais sinais.
As
reações comportamentais sob o foco de nossa atenção neste comentário são
detectadas, envoltas em variados pretextos e em diversificadas escalas, aqui
dentro e lá fora. No atacado e no varejo, pode-se mesmo dizer. São abundantes
esses sinais de que muita coisa anda escapulindo ao controle social regido pelo
bom-senso. Alguns desses sinais chegam a parecer, a um primeiro olhar,
falsidades disseminadas com o intuito de confusão. “Fakes”, como é de moda
dizer. Há, ainda, indicações brotadas de episódios que resvalam bizarrice, mas
nem por isso despojados de componentes corrosivos.
Na
contemplação do que vem rolando, ocupemo-nos primeiramente de acontecências no
cenário internacional. Longo aí o desfile de revelações perturbadoras.
Febricitantes articulações geopolítico-econômicas levantam interrogações sem
conta. Algumas delas, alinhadas na sequência. Como explicar o “ensurdecedor
silêncio” que presentemente rodeia a sanguinolenta guerra na Síria, se até
indoutrodia esse confronto bélico rendia, em todas as edições jornalísticas,
estrondosas manchetes? De outra parte, qual a razão de haver arrefecido o
noticiário a respeito do terrorismo praticado pelas legiões fundamentalistas do
EI, depois que as ações desses fanáticos passaram a se concentrar na parte de
lá do mundo, como sucedeu, dias atrás, no pavoroso atentado no Sri Lanka?
Explique, quem for capaz, os motivos pelos quais as grandes lideranças
políticas mundiais, com inestimável cooperação midiática, mantêm-se em
sepulcral mutismo diante das estarrecedoras violações aos direitos humanos
cometidas, continuamente, na Arábia Saudita e no sultanato de Brunei? Para quem
ainda não sabe, nesses dois países, governados por déspotas de mentalidade
medieval - donos de riquíssimas jazidas petrolíferas exploradas por poderosos
consórcios norte-americanos e europeus –, os “códigos penais” prevêem
mutilações de órgãos, decapitação a golpe de sabre, apedrejamento e
crucificação em praça pública de criaturas que infrinjam normas de vida que não
estejam ao agrado dos poderes dominantes.
Os
sinais de que coisas bastante estranhas, ou, quando pouco, “diferentes”, vêm
pipocando no cenário mundial são sem dúvida significativos. Reclamam, voltemos
a anotar, atenção. Que interpretações, por exemplo, extrair-se dos anúncios,
feitos com algum estardalhaço, tanto pela Casa Branca como pelo Kremlin, de que
não mais se lhes interessa participar de acordos, celebrados com euforia na
época em que foram firmados, em torno da contenção da corrida armamentista?
Qual o significado do, chamemos assim, “banho Maria” em que foram largados os
entendimentos, tidos de início como altamente promissores pelas partes, entre
os Estados Unidos, de Donald Trump e a Coréia do Norte, de Kim Jong-un?
Como analisar, dentro do mesmo contexto, o recente encontro do ditador coreano,
recepcionado com extrema gala, em Moscou, pelo colega Vladimir Putin?
Comentadas
com exagerada parcimônia, as recentes manobras militares conjuntas de chineses
e russos, primeiras a ocorrerem em longo espaço de tempo, são de molde a
sinalizar, pela mesma forma, algo que clama por interpretação adequada de
qualificados estudiosos da conjuntura política planetária. E o que não dizer do
drama dos refugiados? Acossados pelas loucuras bélicas em tantos pontos do
atlas, milhares de seres humanos continuam a enfrentar esse drama em toda sua
inteiriça perversidade. Mas, por razões que a própria razão desconhece, a
tormentosa questão andou tomando “chá de sumiço” no noticiário nosso de cada
dia...
Ficando
hoje por aqui nessas narrativas, juntamos agora a esse conjunto de lances, que
sinalizam situações no mínimo confusas, mais um desconcertante registro. É
irrazoável e incompreensível o desinteresse dispensado pela comunidade
internacional à inacreditável história das centenas e centenas de menores,
filhos de imigrantes, recolhidos a “abrigos”.
Eles foram desapartados dos pais, latino-americanos, à hora da travessia,
quando os mesmos tentavam penetrar
ilegalmente em solo estadunidense. O cativeiro de muitas dessas crianças já se
estendeu por tempo demasiado.
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