Umas e
outras (literárias)
Cesar
Vanucci
“O mais
inventivo fenômeno literário surgido recentemente no Brasil”.
(Guido Bilharinho sobre o escritor José
Humberto Henriques)
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A apreciada “Revista da Academia Mineira de Letras”, em sua última edição,
recheada como sempre com trabalhos de excelente conteúdo, estampa esplêndida
narrativa intitulada “Além do Chapadão do Bugre e Vila dos Confins, os
mamoeiros de um quintal em Medeiros”, atribuindo a autoria, em frisante
equívoco, a este desajeitado escriba. Ignoro por completo as circunstâncias que
deram causa ao episódio reportado. Assim que me dei conta do ocorrido, contatei
a direção da revista, procurando, ao mesmo tempo, identificar o autor do texto
em questão, peça literária da melhor supimpitude, premiada em concurso
nacional. Apurei tratar-se do aplaudido escritor e poeta José Humberto Silva
Henriques, médico conceituado, membro da Academia de Letras do Triângulo
Mineiro e da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Prevaleço-me da
oportunosa ensancha para falar da admiração que as criações literárias de José
Humberto suscitam junto a críticos qualificados e leitores exigentes, graças a
qualidade de seu estilo narrativo inovador. O genial Mário Palmerio, titular do
escrete brasileiro de romancistas, meu professor nos bons tempos ginasianos em
Uberaba, foi quem primeiro me falou (anos 90) da chegada de José Humberto Silva
Henriques na cena literária. Deixou claro, não regateando entusiasmo nas
referências, que esse mineiro de Brejo Bonito, médico cardiologista e professor
em Uberaba, trazia na bagagem talento e preparo mais que suficientes para a
conquista de um lugar ao sol no fascinante mundo da prosa e verso. Botando
tento no dito do mestre , pude constatar, à primeira
leitura de um texto do escritor recomendado, fazer todo sentido a louvação
ouvida da boca do autor de “Vila dos Confins”. Com seus mais de 300 livros, que
lhe garantem, logo de cara, condição de realce entre os escritores mais
prolíficos, José Humberto é reconhecido, por quem realmente entende do ofício
das letras, como magnífico ficcionista. Trata-se, “provavelmente, do mais
consistente, inventivo e multiforme fenômeno literário surgido recentemente no
Brasil”, afiança o renomado escritor Guido Bilharinho. “Araguaia” e “Pernaiada”
figuram, em sua vasta obra, como alguns dos títulos mais apreciados.
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“De reinados e de reisados” é obra que faculta ao leitor imersão profunda nos
domínios de encantadora vertente da mais genuína arte de raiz. Quem abre a chance
pra esse contato prazeroso é a antropóloga, professora, bailarina e terapeuta
corporal Juliana Garcia. Valendo-se de seu talento narrativo e afinco
desbravador em ações de pesquisa, ela soube extrair de longa e proveitosa
convivência com integrantes do quilombo de Nossa Senhora do Rosário de
Justinópolis uma reflexão antropológica do melhor nível a respeito de genuína
manifestação enraizada na alma comunitária. O circuito festivo anual de
tradicional irmandade do congado, com suas singelas louvações, de apreciável
sentido místico, aos santos de devoção é retratado magnificamente nessa
publicação vinda a lume graças à Lei Municipal de Incentivo a Cultura de Belo
Horizonte. Às tantas, nas considerações alinhadas, a autora confessa, a
propósito das “famílias herdeiras dos tambores do candombe”, que “com essas
pessoas, muitas já não presentes em corpo físico, tenho aprendido sobre os mais
ricos e preciosos saberes em torno da cultura herdada, tais como: festa,
ancestralidade, corpo, cura, religião.” Revela-se grata “pela contribuição tão
necessária deixada ao planeta e ao cosmos: a preciosa lição de resiliência, e
de preservação da vida em coletividade.”
Tão
substanciosos conceitos conduzem Letícia Berteli a sublinhar, no prefácio,
estarmos diante de “belíssimo texto, fruto de um exercício de alteridade,
abordado a partir de experiências de convívio, de referenciais teórico e
poéticos precisos”. Isso aí!
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Intrigante reportagem na Band deixa escancarado, outra vez mais, o embaraço –
para não dizer a notória dificuldade – que acomete certos setores da atividade
intelectual na lida com o dilacerante preconceito racial. Embaraço esse que
reflete, por sinal, de algum modo, padrão comportamental deploravelmente
pressentido, em não poucos instantes, noutras faixas da sociedade. Aglutinando
exemplos recolhidos ao longo dos tempos, estudiosos dos fenômenos sociais
documentam, numa convincente pesquisa, o empenhado esforço, em sucessivos
lançamentos editoriais da obra de consagrados autores brasileiros da raça
negra, de apresentá-los ao público leitor, retocando-se-lhes as imagens, como
pessoas de epiderme mais clara, ou menos escura... Nesse sutil processo de
desfiguração, os magníficos Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Souza, José
do Patrocínio acabam sendo retratados, nas caprichadas ilustrações de seus
livros, com traços fisionômicos que os distanciem de sua autêntica origem
racial. Origem racial essa magistralmente descrita num belíssimo poema, de
soberba afirmação cidadã, do inspirado vate estadunidense Langston Hughes: “Sou
negro, / negro como a noite, / negro como as profundezas d’África.”
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