O
fim e os meios
Cesar
Vanucci
“O fim
justifica os meios.”
(Maquiavel, pensador italiano do século XV,
famoso pelos seus conceitos anarquistas)
Ao
contrário do que prega Maquiavel, o fim não justifica os meios. Os valores
humanísticos, os princípios democráticos basilares, os direitos civilizatórios
repelem o emprego de expedientes antiéticos, subversivos do ponto de vista
jurídico, adotados em decisões que possam alvejar a dignidade humana. Se
entendimento tão saudável, nascido do bom-senso universal, fruto de uma lúcida e
amadurecida interpretação das sagradas regras da boa convivência humana, não
prevalecesse como conquista moral da civilização, com toda certeza muita gente
estaria advogando aí, de forma aterrorizante, a implantação rotineira de
métodos de suplicio e tortura para arrancar confissões de suspeitos, de
desafetos, de pessoas que não rezem por sua cartilha. Acontece em momentos
trevosos da história, em diferentes épocas.
Ilustres
personagens da chamada Operação Lava Jato, em que pesem os meritórios
resultados de muitas das ações deflagradas no andamento do complexo e saneador
processo, andam um tanto quanto confusos no que concerne aos recursos a serem
empregados na execução satisfatória de suas tarefas institucionais. Foram
flagrados, outra vez mais, em clara e criticável ultrapassagem de velocidade
quanto ao itinerário a percorrer traçado pelo Direito. No afã de executar a
contento sua relevante missão, sentem-se inteiramente à vontade para avançar em
território situado além dos limites de sua competência. Fique claro que os
encargos de que se acham investidos asseguram-lhes poderes especiais, de modo a
que as diligências possam ser bem sucedidas. Mas, podendo muito, eles,
incontestavelmente, nem tudo podem. Todavia, isso parece, passar desapercebido,
não poucas vezes, à sua compreensão. Bem
emblemática desses impulsos despropositados é aquela história, de pouco tempo
atrás, da criação, no âmbito da atuação do núcleo operacional da Lava Jato, de um
Fundo Social constituído de volumosos recursos que outra destinação não poderiam
ter senão os cofres do Tesouro Nacional, como restou comprovado.
O
site “The Intercept Brasil” traz, agora, a lume o cometimento de outras
exorbitâncias. Élio Gáspari, uma das vozes mais influentes do nosso jornalismo,
descreve em texto impecável o aturdimento causado pela postura assumida, na
questão em tela, pelo ex-juiz, atual ministro Sérgio Moro e o procurador Deltan
Dallagnol. Classifica de “impróprias” as conversas mantidas por ambos, figuras
de participação exponencial nas
investigações pertinentes às fraudes da Petrobras. Elas (as conversas) –
sustenta o jornalista – “enodoaram a Lava Jato e fragilizaram a condenação
imposta a Lula pelo triplex de Guarujá (SP)”. No modo de ver do jornalista, o
ministro posicionou-se de “forma arrogante” (...) às revelações do site “The
Intercept Brasil”, obrigando “muitos daqueles que gostariam de defendê-lo a
ficar no papel de bobos”. O comentário de Gáspari anota, ainda, “o fato grave
de se ver um juiz, numa rede de papos, cobrando do Ministério Público a
realização de operações, oferecendo uma testemunha a um procurador, propondo e
consultando-o a respeito de estratégias”. Tal procedimento, aduz, leva à constatação
de que, “o viés militante de Moro e Deltan na Lava Jato afasta-os do devido
processo legal”. Outra incisiva e pertinente manifestação do mesmo
comentarista: “Em nome de um objetivo maior, a Lava Jato e Moro cometeram
inúmeros pecados factuais e algumas exorbitâncias, tais como o uso das prisões
preventivas como forma de pressão para levar os acusados às delações premiadas.
Como não houve réu-delator que fosse inocente, o exorbitante tornou-se
conveniente. Ao longo dos anos, Moro e os procuradores cultivaram e, em alguns
casos, manipularam a opinião pública. Agora precisam respeitá-la”.
Cabe,
por derradeiro, registrar, a propósito de tudo quanto acima alinhado, que do
site responsável pela divulgação continuam jorrando embaraçosas denúncias. Dizem
respeito a outras infringências comportamentais ocorridas nas lides
processuais, as quais, pela mesma forma, colidem com as leis, a ética e o
bom-senso.
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