Privatização
não é panaceia
Cesar Vanucci
“As empresas são células vitais da economia”.
(Assim
falava José Alencar)
É
como falava o saudoso José Alencar Gomes da Silva, um baita fazedor de
progresso. Um cidadão provido de aguda percepção social, inteligência
privilegiada, notável capacidade empreendedora, que deixou sinais cintilantes
na vida empresarial e na atividade pública. A pujança econômica - componente
essencial do processo de evolução civilizatória – repousa no pressuposto
basilar de uma cadeia de empresas prósperas. Não importam sejam elas (empresas)
– células dinâmicas do labor humano – de gigantesco, grande, médio, pequeno, ou
micro porte. Privadas, estatais, ou de economia mista, nacionais ou
estrangeiras. O que conta mesmo é que se projetem prósperas, eficientes,
proporcionem empregos e realizações sociais relevantes, assegurem a circulação
da riqueza social, multipliquem benefícios comunitários à mancheia.
Fácil,
bastante compreensível deduzir, a partir daí, que esse papo maroto de que uma
empresa, pra ser de verdade competente, careça ser privatizada é pura balela.
Falácia, não com segundas, mas com sextas intenções. Embromação marqueteira.
Cortina de fumaça lançada com o fito de encobrir censuráveis maquinações.
Privatização
de empresa não é, coisíssima alguma, condição fatalística para que os negócios
públicos funcionem melhor. Funcionem a contento, se ajeitem nos conformes
adequados aos superiores interesses da coletividade. É sempre recomendável
conservar o desconfiômetro ligado à toda quando ocorra de pintarem no pedaço
vozes tonitruantes apontando a privatização como dogma de fé a ser, religiosa e
prontamente, adotado dentro de um alinhamento inspirado em concepções
administrativas avançadas, universalmente acatadas. Isso não passa de engodo.
“Conversa mole pra boi dormir”, como era de costume dizer-se em tempo de
antanho...
Tais
considerações chegam a propósito desse novo surto de privatizações a qualquer
preço que assola o país, nesse perturbador instante de notória estagnação
econômica com perversas consequências sociais. Os aparelhos de percepção
pessoal do cidadão comum, atônito e, por conseguinte, desmotivado face à
pororoca avassaladora de equívocos praticados, não é de hoje na gestão das
coisas públicas, com reflexos pronunciados nas atividades produtivas, só fazem
captar desestimulantes falas oficiais de desmobilizações, cortes, privatizações,
o escambau. Tudo isso concorre deploravelmente para que a economia do país mais
pródigo do mapa-mundi em potencialidades, em riquezas naturais, esteja operando
em visível marcha à ré, desacorçoando investidores em potencial, expandindo a
níveis insuportáveis o desemprego, arremessando multidões numa informalidade
laboral sem perspectivas.
É
o bom senso e as saudáveis práticas de gestão que reclamam. Estabelecer
discussão prioritária, ampla, geral e irrestrita com a sociedade em torno da
indispensável, urgente e inadiável retomada do crescimento econômico precisa
ser objeto de cogitação. E isso antes, bem antes de se abrir qualquer debate a
propósito da privatização de ativos públicos valiosos, providência que,
obviamente, recomenda participação ativa, sem restrições, de todos os segmentos
envolvidos na operação. A convocação das forças vivas nacionais para uma
conjugação de esforços com o intento de fazer a economia crescer não pode ser
indefinidamente procrastinada. Identificar em processos de privatizações a
torto e a direito saídas para as crises que nos rodeiam não deixa de sinalizar
desconcertante despreparo gerencial de quem se anime a formular tal tipo de
proposta.
O
passado é pródigo em lições sobre como decisões desse gênero são passiveis de
suscitar estragos e encrencas difíceis, senão impossíveis, de serem
sanadas.
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