Os poetas são imprescindíveis
Cesar Vanucci
“Olhar as estrelas e dar rumo ao navio!”
(JG de
Araujo Jorge, definindo a missão do poeta na “navegação” pela vida terrena)
O livro de poemas “O Círculo dos Bastidores”,
de Jorge Alberto Nabut, foi lançado em Belo Horizonte em noite de autógrafos
acontecida na Academia Mineira de Letras. O ato foi prestigiado por figuras de
realce na vida cultural. Ângelo Oswaldo de Araujo Santos, ex-Secretario da
Cultura em Minas, enalteceu em nome da AML, a produção poética de Nabut, em
aplaudido pronunciamento. O professor Eduardo Veras discorreu brilhantemente
sobre o livro e outras publicações do autor. A este escriba tocou também a
tarefa de comentar o trabalho intelectual de Nabut. O pronunciamento feito na
ocasião é reproduzido abaixo.
“Sumamente honrado com o convite do estimado
amigo Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras, para
dirigir saudação ao poeta Jorge Nabut, prometo não ocupar nem dez minutos do tempo de cinco minutos estipulado
para a fala.
A poesia é necessária. E os poetas são
imprescindíveis. Dias atrás, o telefone da mesa de trabalho soou.
Movimentando-me para atender, disse em voz alta: - Ligação de Uberaba!
Alguém na sala estranhou: - Como é que você
sabe disso?
Respondi de pronto: - O tilintar do telefone
é sempre festivo quando a chamada procede de Uberaba, cidade natal, modéstia à
parte, do Nabut e minha.
Do outro lado da linha, o poeta Jorge Nabut
perguntou-me se compareceria à cerimônia de hoje. Garanti presença, acrescentando
que a ausência em certos eventos só encontra mesmo justificativa quando a gente
manda, no lugar, um indesejado atestado pessoal de internação hospitalar
inesperada.
A poesia é necessária. E os poetas são
imprescindíveis. Byron comparou a Inglaterra a um navio. Castro Alves
complementou: “Um navio que na Mancha ancorou”. JG de Araujo Jorge conferiu
abrangência à imagem, explicando que o mundo em que vivemos, este sim, é que pode
ser mostrado como um imenso navio a singrar pela imensidão azul sideral. Na
embarcação, as lideranças comprometidas com a inteligência e a cultura têm
tarefas nobres a desempenhar. E qual fica sendo, então, a missão do poeta nessa
história? Resposta do poeta JG: - “Olhar as estrelas e dar rumo ao navio!”
A poesia é necessária. E os poetas são
imprescindíveis. Os poetas são intérpretes das coisas da vida providos de faculdades
paranormais. Concorrem para descobertas constantes de ocultas belezas. Ajudam na
decifração dos arcanos alojados nos planos transcendentes da aventura humana. “O
olhar do poeta, girando em delírio, / vai do céu para a terra, da terra para
céu (...)” Lembra Shakespeare.
Também propagador da esperança, o poeta
consegue flagrar, em ações triviais, soberbo instante lírico. “Tu pisavas nos
astros distraída...” O verso de Orestes Barbosa, em “Chão de Estrelas”, canção composta
em parceria com Silvio Caldas, foi escolhido por Manuel Bandeira, certa feita,
como o mais lindo da poética nacional.
A poesia é necessária. E os poetas são
imprescindíveis. Os poetas refazem
narrativas históricas. Vergastam imposturas mundanas. Colocam a sabedoria nata,
o talento, a sensibilidade social, a serviço da construção humana. Enfrentam
galhardamente a onda asfixiante de posturas rançosas nascidas da intolerância e
do obscurantismo, tão notórios em tempos de agora. Os escritos de Castro Alves,
Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Adélia Prado, Vinicius de Moraes,
Carlos Drumond de Andrade, Cora Coralina, Thiago Mello, entre muitos outros,
documentam profusamente essa esplêndida profissão de fé na poesia.
A poesia é necessária. E os poetas são
imprescindíveis. O excelente poeta Jorge Alberto Nabut, companheiro da Academia
de Letras do Triângulo Mineiro, encontra-se aqui entre nós, a revelar-nos seus
dons de esteta da palavra, ofertando-nos sua inteligente interpretação do
sentido da vida. Traz, para geral embevecimento, sua mais recente criação
literária. “O Círculo dos Bastidores” é considerado em avaliação de Eduardo
Veras uma preciosa autobiografia literária-experimental.
Ele comparece a este sodalício, guardião
sereno de saberes acumulados, para enfaticamente proclamar suas crenças no
instrumento poético como forma de exaltação da cultura – tão alvejada por aí
afora -, dos valores humanísticos e espirituais que recobrem de dignidade a
caminhada terrena.
Com vocação vanguardeira, chama nossa atenção
para o modo peculiar que escolheu para expressar seu sentimento do mundo. Proporciona-nos
a todos, com as rajadas líricas disparadas nos versos, a certeira convicção de
que a poesia é mesmo necessária e os poetas são realmente imprescindíveis no processo fecundo e alentador, posto
que extenuante, dos avanços civilizatórios. Aplausos fartos para o Nabut. O
poeta merece.”
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