São
regras morais talibanistas!
Cesar Vanucci
“Ficar completamente nu durante o ato sexual
invalida o casamento.”
(Aiatolá Rasjah Hassán Jalil, do
Egito)
O pasmo suscitado da leitura de certas notícias
chegadas de plagas distantes pode levar o leitor à suposição de estar sendo
alvo de uma bem-humorada armação de repórteres imaginosos, sequiosos por
quebrarem a aridez e contundência de sua rotina como tradicionais informantes
de tragédias. Despacho de algum tempo atrás, procedente do Cairo, Egito, falando
de decisão tomada por religiosos fundamentalistas, faz parte perfeitamente
desse rol de histórias incríveis que parecem inventadas. Se não vejamos. De
acordo com decreto religioso (fatwa) baixado por acatado xeque da Universidade
de Al-Azhar, a mais célebre de tendência sunita no mundo islâmico, o casamento
pode ser invalidado na hipótese de os cônjuges cometerem o “sacrilégio” de se encararem
despidos no curso do ato sexual.
Outros renomados doutores na interpretação
dos textos sagrados entenderam também de expender considerações a respeito do
assunto. Caso de outro xeque, dirigente do “Comitê de fatwas” da mesma Universidade.
“Mais brando” nas avaliações, ele assevera, judiciosamente, que os cônjuges
podem, sim – como não? -, olhar cada qual para o corpo do outro, quando em
trajes de índios da Amazônia... Só que com uma ligeira ressalva: para que a
sacralidade conjugal não seja profanada, terão que se esforçar ao extremo,
ambos os dois, mode que evitar visão pecaminosa das chamadas partes pudendas do
parceiro. A piedosa recomendação é complementada com orientação ao marido e
mulher para que se cubram, pudica e prudentemente, com manta ou lençol, durante
a junção carnal. O despacho comentado não esclarece se a sentença dos aiatolás
se aplica, com vistas ao cabeça do casal, apenas à primeira esposa, ou a toda a
fileira de consortes da tradição conjugal sunita.
Outro item relevante na momentosa questão
levantada, que também estaria carecendo de instrução mais precisa por parte dos
doutos doutrinadores, diz respeito a determinados conceitos, pacificamente
aceitos pela psicologia contemporânea, sobre o que venham a ser, na realidade,
as chamadas partes erógenas na anatomia humana. Pela teoria vigorante admite-se
que o erotismo, fonte de “concupiscência” na cachola atormentada dos aiatolás responsáveis pelas
regras de pureza e recato traçadas para leais devotos, pode desabrochar, inopinadamente,
com todos seus desdobramentos malévolos, em regiões corporais imprevisíveis. O
dedão do pé, por exemplo. Os olhos, considerados janelas da alma, nem se fala!
Podem se transformar, de repente, não mais que de repente, diria o poeta, nas
ações descontroladas de criaturas que não estão nem aí para as práticas da
autêntica devoção, em dardejantes mensageiros de lascivos desejos e
inconfessáveis paixões. E o que não dizer, então, dos “pecados inomináveis” que
empedernidos e devassos hedonistas serão capazes de produzir, sorrateiramente,
com a simples gesticulação das mãos? Algum cara, obviamente preocupado com a
necessidade de salvaguardar os efeitos “salutarmente” moralizadores dos éditos
fundamentalistas anunciados, já deve ter, com certeza, alertado os zelosos
aiatolás para que baixem normas adicionais de proteção aos fieis ameaçados
pelas impuras tentações mundanas. O ideal, talvez, para que tudo funcione a
pleno contento, é a adoção de vestes que cubram o corpo inteiro dos viventes no
leito. Homens e mulheres se comprometeriam, no momento próprio, a envergar
caprichadas indumentárias, naquele estilo bolado pelos criativos figurinistas
talibãs. Talibãs do Afeganistão, do Egito, do Paquistão, Irã, Arábia Saudita e
de outros lugares onde o fundamentalismo religioso bote banca...
Fica-se a imaginar, também, como louvável “tentativa”
de se obter eficácia total naquilo que se almeja atingir com as “moralizadoras
fatwas”, a possibilidade da promulgação de ato complementar prevendo a redução da
prática do banho a dosagens mínimas. Algo que se ajusta (ao que se fofoca por
aí) aos hábitos culturais em alguns refinados ambientes europeus. E, nesse caso,
com a expressa determinação de não se dispensar camisola protetiva sob o jato
do chuveiro. Por derradeiro, neca de se desprezar, ainda, a conveniência do uso
de venda espessa nos olhos naqueles cruciais momentos em que o fervoroso crente
se entregue, prosaicamente, ao gesto fisiológico de aliviar a bexiga.
Fundamentalismo religioso, gente boa, é fogo!
Um comentário:
Sinal de que há hiato lá...quando se vai atolá...?
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