Sonoro não aos
despautérios
Cesar Vanucci
“Não se agride o
espírito democrático impunemente”.
(Paulo Pinheiro Chagas, saudoso escritor e homem público)
Os despautérios cometidos por elementos do
núcleo central do Governo, alvejando valores muito caros à Democracia e Cultura
brasileiras, vêm jorrando, nestes nossos dias, com a mesma desnorteante
desenvoltura e impetuosidade das misteriosas manchas de óleo surgidas nas
faixas litorâneas em agressão violenta ao meio ambiente, às atividades
turísticas e economia de centenas de municípios nordestinos. Ambas as situações
são, obviamente, de feição a causar transtornos, perplexidade e preocupação à
coletividade.
Detendo-nos no primeiro fator causal do
detectado desassossego comunitário, vemo-nos impelidos a lançar no ar pergunta
atravessada como espinho na garganta de toda gente. Até quando persistirão
esses repetitivos e inconsequentes abusos retóricos, de nauseabundo teor
antirrepublicano? A Nação anda clamando
por um basta nesta história pra lá de incômoda! O pronto e decidido coro de
vozes irrompido recentemente, no seio da opinião pública, há que ser
interpretado como benfazeja reação ao tropel de impertinências assacadas contra
o sentimento nacional.
A tresloucada opinião de um parlamentar
radical, volta e meia emaranhado em bravatices de escancarado bolor
totalitário, “ameaçando” o país com um novo AI-5, desencadeou compreensível
clamor nacional. O fragor do repúdio fez esquecidas, por algum tempo,
divergências, desencontros e até entrechoques de ideias, às vezes agudos,
inerentes ao cotidiano político. Cidadãos de diferentes tendências e crenças,
deixando de lado antagonismos periféricos, fizeram questão absoluta de bradar,
alto e bom som, seu inconformismo e repugnância a qualquer manobra subversiva
que atente contra as instituições. Sem discrepâncias ao expressarem visceral
repulsa à provocação do despreparado parlamentar, lideranças de todos os segmentos
e matizes deixaram evidenciada, com todos os pontos e vírgulas, firme
disposição de confrontarem quaisquer vociferações e gestos bolorentos dos que
utilizam a imprecação do furor para atingir a pureza e serenidade dos magnos
valores culturais e democráticos.
O recado que as forças vivas da nação estão
passando, aos responsáveis por atos e linguajares conflitivos com a consciência
cívica, documenta discordância frontal a tudo quanto, em gestos ou ditos, possa
representar ameaça ao regime democrático. Regime esse que, nada obstante
perceptíveis defeitos, acha-se consagrado na memória e sentimento das ruas como
único compatível com a dignidade humana. Regime que, aliás, a propósito, deu
chance a alguns dos que, desastrada e equivocadamente, perseveram na inglória
tarefa de miná-lo em sua essência, a serem guindados às importantíssimas
funções hoje exercidas.
Fique bastante explícito, para os extremados
adeptos de facções alojadas nas lateralidades ideológicas incendiárias, que os
brasileiros rechaçam, com veemência, “atos institucionais” de qualquer
numeração. Rechaçam obstruções de qualquer ordem à liberdade de ir e vir, bem
como à livre dicção de ideias e cerceamento da voz da imprensa. Rechaçam também
prisões clandestinas e torturas aviltantes, louvações, como figuras icônicas,
de ditadores e torturadores. Consideram inaceitáveis o desrespeito e achincalhe
de instituições representativas da sociedade livre, grosseiramente configuradas
como óbices a remover em perverso esquema de erosão democrática.
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