Nebulosas
conveniências
Cesar Vanucci
“A geopolítica é regida, muitas vezes,
por conveniências as mais espúrias.”
(Antônio
Luiz da Costa, educador)
Para
os que conservam os instrumentos de percepção pessoal em estado de alerta
sobram sempre, nesta nossa trepidante andança pela pátria terrena, copiosas
evidências de que as posições da mídia internacional são regidas por
inextricáveis desígnios. Refletem nebulosas conveniências. É só por tento nos
desdobramentos de certos acontecimentos momentosos. Fatos propagados de maneira
estrondosa são, de súbito, sem mais essa nem aquela, envoltos em sepulcral
silêncio. Atenção para alguns deles.
Comecemos
pela situação da Venezuela do caudilho Nicolás Maduro. O que era transmitido, até
outro dia, ao respeitável público, pode ser assim descrito. Meses e meses a fio,
renderam manchetes informações sobre a crise humanitária venezuelana; sobre a
reação popular aos desmandos do governo; a repressão aos protestos de rua por
parte das forças de segurança; o garroteamento das liberdades públicas; a
instituição do governo paralelo autoproclamado de Guaidó, congregando apoio
formal de numerosos países; as alianças firmadas por Caracas com Moscou e
Pequim, debaixo dos flamejantes protestos de Washington, e por aí vai. Alguma
mudança radical de cenário parecia prestes a ocorrer. Só que, em efervescentes
bastidores, engendradas por influência geopolítica econômica, presumíveis
manobras abortivas detiveram o esperado parto da montanha... O papo emudeceu. E
tudo ficou como está, pra ver como é que fica. Estranho pacas!
Outra
situação assaz emblemática, dentro da mesma linha de raciocínio. Diz respeito a
duas organizações sinistras: o Estado Islâmico e a Al-Qaeda. A última das
organizações citadas tem base no Afeganistão. Foi liderada por Osama Bin Laden,
sendo apontada como responsável pelo atentado às torres gêmeas. Oportuno
recordar que a Al-Qaeda operava, no princípio, ancorada em poderosa ajuda, como
força auxiliar combatente, ao lado dos Estados Unidos, nas lutas dos afegãos
contra os invasores russos. Logo após a retirada das tropas russas da
conflituosa região, os incondicionais aliados da Casa Branca viraram a casaca.
Tornaram-se inimigos ferozes de seus parceiros. Deu no que deu. Com menor
estridência, mas sempre com letais propósitos, a Al-Qaeda continua a semear
terror nas bandas orientais do planeta. Tem-se por absolutamente certo que os
dirigentes atuais sustentam entendimentos, na “moita”, como se diz no popular,
com graduados funcionários norte-americanos com o objetivo de estabelecer um
pacto de governança compartilhada para o Afeganistão. O “acordo”, reaproximando “aliados” de outros
tempos, implicaria na retirada da guarnição de doze mil militares dos Estados
Unidos presentemente concentrados no território. Isso aí...
Já
no que concerne ao EI (Estado Islâmico), os aspectos mais frisantes a
considerar, bastante perturbadores, são os que se seguem. Cercados
permanentemente, na terra, no mar e no ar, por forças de diferentes países – as
mais bem equipadas do mundo -, entre elas militares estadunidenses e russos, os
combatentes do fanatizado agrupamento, estimados em dezenas de milhares, nunca
se deparam, em momento algum – atroz “enigma” –, com dificuldades de provisões,
de qualquer ordem, na consecução dos atos terroristas executados. As regiões
que ocupam são desprovidas de tudo. Mas eles dispõem, tempo todo – fornecidos
por quem e como? –, de armamento sofisticado, de reservas de combustível para
movimentação das viaturas, de produtos alimentícios, além de recursos
financeiros para remuneração dos militantes. A circulação do dinheiro é
assegurada, com inabalável certeza, por uma rede bancária, “invisível”, “clandestina”.
Incrível imaginar possa essa rede bancária jamais ter sido identificada pela
sofisticadíssima, arguta e bem articulada contra-inteligência dos países inimigos,
declaradamente empenhados em “riscar do mapa” a execrável falange extremista.
E
não é que, igualmente, o EI andou tomando “chá de sumiço” no noticiário! Pelo
que se ouve dizer, numa ou noutra informação estampada, já agora em canto de
página, o grupo não abdicou de seus cruéis propósitos. Prossegue ativo na
escalada da violência contra quem discorde de suas tresloucadas concepções
políticas e religiosas. Só que os atentados, ceifando vidas inocentes, estão sendo
direcionados, de tempos para cá, em regiões consideravelmente distanciadas dos
centros urbanos pertencentes às grandes potências. Soaria exagerada a suposição,
inimaginável à luz do bom-senso, de que pintou no pedaço algum (outro) pacto
tenebroso, concebido nos domínios lúgubres de inconfessáveis interesses
geopolíticos? Como é de costume dizer-se por aí, perguntar não ofende, não é
mesmo? E, por outro lado, nem sempre é preciso explicar tudo, o que a gente
quer é só entender...
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