terça-feira, 7 de janeiro de 2020


Semeadores de livros

Cesar Vanucci

“Oh! Bendito o que semeia Livros./ livros à mancheia /.
E manda o povo pensar! / O livro caindo n'alma /
É germe que faz a palma, / É chuva que faz o mar.”
(Castro Alves)

Com seu estilo sempre requintado de esculpir palavras e extrair do fundo d’alma genuínas emoções, a magnífica Elizabeth Rennó traz a lume outro livro de poemas. “Quântico” é o décimo quarto título da extensa lista de publicações impressas dessa autora de presença estelar em nosso firmamento cultural. Sua produção literária, claro está, vai bastante além dos textos estampados em livros. Contam-se dezenas as antologias, inclusive estrangeiras, que ornamentam as páginas com seu talento e sensibilidade. Tendo em vista labor intelectual tão intenso e os enfoques humanístico e espiritual saudavelmente indissociáveis das coisas que escreve não constitui surpresa alguma saber-se ser a autora colecionadora de prêmios literários, dentro e fora do país. E, além disso, integrante de numerosas instituições representativas da vida cultural brasileira. Entre elas, a Academia Mineira de Letras, da qual foi a primeira presidenta; Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, que também já presidiu, e o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

No prefácio de “Quântico”, a brilhante acadêmica, escritora e mestre em Literatura Andréia Donadon Leal assevera que o livro em questão é fundamental dentro do contexto poético brasileiro. Andréia está coberta de razão. Dá pra perceber o que proclama por essas cintilantes amostras: “Fiatlux. E a lua se fez / e era boa / Separar a luz / da escuridão / fenômeno inconcebível / alheio à descrença humana / Benção divina / em que se mergulha / Adão / e sua descendência.”

“Condição humana. Nossa miséria /clama / Nossas dores / mortificam / Os pensamentos / zéfiros antigos / tornam-se vendavais. / Só vós / Deus Misericordioso / pode olhar / da Infinitude / nosso Desamparo.”

“Mossul. Do esplendor / ao caos humano / A sagrada bandeira / de um Iraque destroçado / engana e mata / civis aprisionados / no impossível desejo / de fuga do inferno / Mossul / dos homens-bomba /das crianças despedaçadas / das mães desesperadas / Cristo / e Alá / e suas bênçãos / tenham piedade de nós.”

Mas ninguém melhor do que a própria Elizabeth Rennó pra explicar o mais recente fruto de sua criatividade artística: “Eis Quântico, alegre e triste, desesperançado mas confiante na Palavra Maior, a que dirige as nossas vidas. As letras, nanopartículas, reverteram as sílabas e formaram palavras-conceitos que me subornaram. Como na Física Quântica, partículas atômicas, iguais ou menores que os átomos, não se influenciam pelas leis clássicas: gravidade, inércia, ação ou reação. São únicas, cuja energia eletromagnética é indivisível. Assim, eis os versos, totalidade indivisível, descontínuos na passagem de valores, assumem esta transmutação.”

Os livros “Vila dos Confins” e “Chapadão do Bugre”, de Mário Palmério, acabam de ser relançados. A Universidade de Uberaba, que tem como reitor Marcelo Palmério, filho do genial escritor e criador da instituição, e a Academia de Letras do Triângulo Mineiro (da qual me orgulho ser fundador), presidida pelo escritor João Eurípedes Sabino, promoveram dias atrás ato público comemorativo da reedição dos dois títulos, reunindo figuras de alta expressão na area cultural. Convidado a participar do evento e impedido, na última hora, de fazê-lo, pedi ao jornalista Luiz Gonzaga de Oliveira que me representasse e transmitisse aos presentes a mensagem que tomo a liberdade de abaixo reproduzir.
“Contemporâneo do futuro! A expressão é impecável para definir Mário Palmério. Com seu espírito vanguardeiro, ele foi intrépido desbravador nos caminhos do progresso e da construção humana. Um roteirista primoroso em tramas edificantes que compõem o fascinante, posto que tumultuado, enredo da vida. Em tudo quanto tocou deixou impressos lampejos de genialidade. O relançamento destas duas obras primas literárias é uma forma de reverenciar-lhe a memória. Mas significa, também, um gesto de exaltação da cultura, num instante em que os valores humanísticos e espirituais que conferem dignidade à aventura humana proclamam ser ela - Cultura - uma força ordenadora nos avanços civilizatórios. Lamentando não poder estar presente, felicito efusivamente  as pessoas e instituições envolvidas na  promoção. Cesar Vanucci (Ex-aluno, com muito orgulho, do Conglomerado Educacional germinado com a implantação, nos anos 40, das primeiras salas de aulas do Liceu do Triângulo Mineiro).”

A propósito dos livros relançados, mais este definitivo dito: Duas obras primas do romance brasileiro.

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