Semeadores
de livros
Cesar Vanucci
“Oh! Bendito o
que semeia Livros./ livros à mancheia /.
E manda o povo
pensar! / O livro caindo n'alma /
É germe que faz
a palma, / É chuva que faz o mar.”
(Castro Alves)
① Com seu estilo sempre requintado de esculpir
palavras e extrair do fundo d’alma genuínas emoções, a magnífica Elizabeth
Rennó traz a lume outro livro de poemas. “Quântico” é o décimo quarto título da
extensa lista de publicações impressas dessa autora de presença estelar em
nosso firmamento cultural. Sua produção literária, claro está, vai bastante
além dos textos estampados em livros. Contam-se dezenas as antologias,
inclusive estrangeiras, que ornamentam as páginas com seu talento e
sensibilidade. Tendo em vista labor intelectual tão intenso e os enfoques
humanístico e espiritual saudavelmente indissociáveis das coisas que escreve
não constitui surpresa alguma saber-se ser a autora colecionadora de prêmios literários,
dentro e fora do país. E, além disso, integrante de numerosas instituições
representativas da vida cultural brasileira. Entre elas, a Academia Mineira de
Letras, da qual foi a primeira presidenta; Academia Municipalista de Letras de
Minas Gerais, que também já presidiu, e o Instituto Histórico e Geográfico de
Minas Gerais.
No prefácio de “Quântico”, a brilhante acadêmica,
escritora e mestre em Literatura Andréia Donadon Leal assevera que o livro em
questão é fundamental dentro do contexto poético brasileiro. Andréia está
coberta de razão. Dá pra perceber o que proclama por essas cintilantes amostras:
“Fiatlux. E a lua se fez / e era boa
/ Separar a luz / da escuridão / fenômeno inconcebível / alheio à descrença
humana / Benção divina / em que se mergulha / Adão / e sua descendência.”
“Condição humana. Nossa miséria
/clama / Nossas dores / mortificam / Os pensamentos / zéfiros antigos /
tornam-se vendavais. / Só vós / Deus Misericordioso / pode olhar / da
Infinitude / nosso Desamparo.”
“Mossul. Do esplendor / ao caos
humano / A sagrada bandeira / de um Iraque destroçado / engana e mata / civis
aprisionados / no impossível desejo / de fuga do inferno / Mossul / dos
homens-bomba /das crianças despedaçadas / das mães desesperadas / Cristo / e
Alá / e suas bênçãos / tenham piedade de nós.”
Mas ninguém melhor do que a própria Elizabeth
Rennó pra explicar o mais recente fruto de sua criatividade artística: “Eis
Quântico, alegre e triste, desesperançado mas confiante na Palavra Maior, a que
dirige as nossas vidas. As letras, nanopartículas, reverteram as sílabas e
formaram palavras-conceitos que me subornaram. Como na Física Quântica,
partículas atômicas, iguais ou menores que os átomos, não se influenciam pelas
leis clássicas: gravidade, inércia, ação ou reação. São únicas, cuja energia
eletromagnética é indivisível. Assim, eis os versos, totalidade indivisível,
descontínuos na passagem de valores, assumem esta transmutação.”
② Os livros “Vila dos
Confins” e “Chapadão do Bugre”, de Mário Palmério, acabam de ser relançados. A
Universidade de Uberaba, que tem como reitor Marcelo Palmério, filho do genial
escritor e criador da instituição, e a Academia de Letras do Triângulo Mineiro
(da qual me orgulho ser fundador), presidida pelo escritor João Eurípedes
Sabino, promoveram dias atrás ato público comemorativo da reedição dos dois
títulos, reunindo figuras de alta expressão na area cultural. Convidado a
participar do evento e impedido, na última hora, de fazê-lo, pedi ao jornalista
Luiz Gonzaga de Oliveira que me representasse e transmitisse aos presentes a
mensagem que tomo a liberdade de abaixo reproduzir.
“Contemporâneo do futuro! A expressão é
impecável para definir Mário Palmério. Com seu espírito vanguardeiro, ele foi
intrépido desbravador nos caminhos do progresso e da construção humana. Um
roteirista primoroso em tramas edificantes que compõem o fascinante, posto que
tumultuado, enredo da vida. Em tudo quanto tocou deixou impressos lampejos
de genialidade. O relançamento destas duas obras primas literárias é uma
forma de reverenciar-lhe a memória. Mas significa, também, um gesto de exaltação
da cultura, num instante em que os valores humanísticos e espirituais que
conferem dignidade à aventura humana proclamam ser ela - Cultura - uma força
ordenadora nos avanços civilizatórios. Lamentando não poder estar presente,
felicito efusivamente as pessoas e instituições envolvidas na
promoção. Cesar Vanucci (Ex-aluno,
com muito orgulho, do Conglomerado Educacional germinado com a implantação, nos
anos 40, das primeiras salas de aulas do Liceu do Triângulo Mineiro).”
A propósito dos livros relançados, mais este definitivo
dito: Duas obras primas do romance brasileiro.
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