sábado, 28 de março de 2020


Nestes tempos de coronavírus

Cesar Vanucci

“Brasília poderia ter sido (desde o começo da pandemia) uma fonte de informações e de orientações respeitáveis. Degradada, a ação federal move-se entre comédias e provocações.”
(Élio Gáspari, jornalista)

Tempos difíceis, provações à pamparra. Tempos para o exercício febricitante de valores que enobrecem a caminhada humana. Tempos de solidariedade, de fraternidade. Tempos de imprescindíveis bom-senso, juízo, reflexão. E, também, apropriado a meditação, reclusão interior e – como não? – oração.

Das lideranças detentoras de responsabilidades institucionais bastante precisas na cartilha republicana e no texto constitucional é legítimo aguardar, mais do que isso, exigir, que saibam se comportar à altura das aspirações nacionais. Revelem-se zelosas e dedicadas no cumprimento do dever, afirmativas nas decisões preventivas e curativas que possam contribuir eficazmente para o enfrentamento da galopante pandemia e minimização de seus devastadores efeitos sociais e econômicos.

O entendimento nacional acima de paixões políticas, largadas de lado ridículas “questiúnculas de aldeia”, discussões bizantinas desagregadoras, é uma solene imposição deste grave momento. As circunstâncias reclamam uma conjugação de forças, de vontades, a mais poderosa que se tenha condições de articular, de maneira a definir, com todo vigor, as políticas mais adequadas que o país tenha ao seu dispor, para o confronto inexorável com a enfermidade que ceifa vidas preciosas e lesiona o valioso patrimônio da coletividade.

As providências requeridas pela dramática situação requerem uma sintonia fina de propósitos e esforços. Faz-se mister que as autoridades competentes, em todos os escalões, a começar pelo Governo Federal, deem-se as mãos, compartilhem a mesma mesa para diálogos construtivos e decisões efetivas. Desvencilhem-se da ruinosa tentação de ditarem regras, mesmo que bem-intencionadas, provenientes de interpretações pessoais egolátricas das ocorrências ameaçadoras que nos rondam. Somem conhecimentos, inventividade, promovendo a coalizão capaz de transmitir à Nação a certeza confortadora de que o melhor da competência inerente ao complexo oficial de serviços públicos está sendo colocado a serviço da proteção comunitária.

Da engrenagem assistencial constituída com esse edificante objetivo, amparada naturalmente no indispensável apoio dos sistemas privados de saúde, espera-se um trabalho eficiente, muito trabalho eficiente. Trabalho de magnitude tal que nunca se possa dar por suficientemente trabalhado o todo problemático a ser encarado, mesmo que o esforço laboral despendido seja o mais intenso e extenso jamais estruturado.

O projeto nacional de combate ao coronavírus terá que ser, - é o óbvio ululante – coordenado na esfera federal. Os governos estaduais e municipais, bem como as lideranças de outros segmentos da sociedade convocadas para trabalho conjunto, serão partícipes importantíssimos no colossal processo. Cabe anotar, neste ponto das considerações, penosa constatação. Até, pelo menos, à hora em que estes dizeres estavam sendo digitados o presidente Jair Bolsonaro mostra-se estranhavelmente avesso a fazer uso do diálogo de modo a possibilitar a alvejada conjugação de ações. Empregando palavras e atitudes inconvenientes e dúbias, classificando o terrificante vírus de “uma gripezinha” insignificante e de alarmismo inconsequente as diligências assumidas noutras esferas administrativas, dava extravagante demonstração de não haver, ainda, então, se compenetrado da indelegável missão que o cargo exercido lhe confere nessa hora de angustia e temores.

A sociedade brasileira concentra-se, agora, na esperançosa expectativa que esse procedimento equivocado, prejudicial aos interesses nacionais, ceda lugar a uma avaliação ponderada dos fatos, uma compreensão exata da realidade que nos rodeia e que disso possam resultar negociações, entendimentos, troca de conhecimentos, atos positivos, com suprema urgência e sem mais desperdícios de energias e recursos, de maneira a contribuir para aliviar um pouco as desgastantes tensões. E colocar o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, em posicionamento estratégico recomendável nas trincheiras abertas para o combate ao flagelo.


Um comentário:

MARILUSA disse...

Grata, estar, pela quantidade de informações e reflexões ..a raco

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