Dois recados
Cesar Vanucci
“Alguns recados soam como advertências
para que as pessoas retomem o bom-senso”.
(Domingos Justino
Pinto, educador)
· O alerta científico,
de magna relevância, emitido em janeiro último, passou um tanto quanto
desapercebido. Acabou ofuscado pela avalancha do coranavírus. É sumamente
lógico presumir que, a esta altura, em centros de estudos avançados, a
revelação já esteja sendo objeto de meticulosas avaliações. Não há como ignorar as graves implicações
socioambientais suscitadas pela candente questão. É hora de explicar aos
distintos leitores que o anúncio trazido a público por integrantes da base
científica brasileira que opera na Antártida é sumamente perturbador. A
temperatura na região polar elevou-se, em dado momento, a, mais de 20 graus
centígrados. Na ocasião em que isso se deu, os termômetros no Brasil, país
tropical, acusavam, na média, índice assemelhado. Uma anotação elucidativa: as
pessoas circulavam por aqui, como costuma acontecer na maior parte do
calendário, em trajes característicos de verão. Perfeitamente correto extrair
do dado a desconfortável impressão de que, também na Antártida, a Natureza está
mandando recado ao ser humano. Criticando seu desvairado comportamento na lida
ininterruptamente agressiva com o meio ambiente. Isso remete à imperiosa
necessidade de se reconhecer a extrema seriedade de que se revestem as
reiteradas advertências, dos círculos mais categorizados da ciência, a respeito
das ameaças que rondam a sociedade humana em decorrência do aquecimento global.
A possibilidade de que a elevação da temperatura provoque catastrófico degelo
nas calotas polares não pode continuar sendo, irresponsavelmente, subestimada
pelas lideranças mundiais. Se o degelo ocorrer haverá a elevação, em termos
diluvianos, das águas dos mares, que ocupam ¾ da superfície do planeta. O clima
sofrerá brusca alteração. Setores da ciência admitem a probabilidade de que o fenômeno
geológico possa liberar na atmosfera partículas microorganicas de toxidade
letal, na hora presente ainda em estado hibernal. A “globalização da
indiferença”, consoante magistral definição do Papa Francisco, quando se refere
aos problemas globais clamorosamente deixados à deriva nas preocupações
prioritárias dos que traçam os planos de desenvolvimento político, econômico e
social, pode direcionar, irremediavelmente, a sociedade humana a um beco sem
saída. O “efeito estufa” não é assunto controverso. É uma tremenda realidade.
Não se trata de ficção alarmista brotada do bestunto de um “bando perigoso” de
cientistas e ambientalistas mancomunados no “nefando propósito” de subverter a
ordem constituída. Quem propaga isso, de maneira irresponsável, pode-se dizer
virótica, são os teóricos da “doutrina terraplanista”. Esses aí, sim, acham-se obsessivamente
empenhados em construir demenciais narrativas revisionistas do ponto de vista
político e sociológico.
O
recado da Natureza encerra uma convocação às pessoas de boa-vontade para que
apressem estudos e ações capazes de promoverem a reconexão do mundo com sua
humanidade.
· Ato de pirataria. Esta
a classificação dada, por vozes influentes no cenário internacional, à decisão
do “xerife” Donald Trump, ao confiscar na marra, ao arrepio das leis,
instrumentos terapêuticos essenciais adquiridos por outros países. O ato é lesivo
aos interesses da comunidade humana, tendo em vista a circunstância de que o
material apropriado estava destinado a centros de atendimento médico
emergenciais engajados no árduo combate travado contra a pandemia do Covid-19. A
prepotência demonstrada coloca em xeque a autoridade moral do mandatário
estadunidense. Escancara sua manifesta inaptidão para o exercício da função
mais importante da atividade política contemporânea. Robustece o anseio
generalizado no sentido de que o eleitorado da mais poderosa nação, abastecido
de bom-senso, opte, providencialmente, nas eleições vindouras, pelo defenestramento
do incômodo personagem. No consenso geral, o cara vem fazendo de tudo, com seus
destrambelhados posicionamentos, para arranhar a reputação dos Estados Unidos no
concerto das nações. O recado de Trump, grosseiro e arrogante, na contramão das
propostas de solidariedade que correm o mundo, merece ampla e geral repulsa.
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