O
ser humano em primeiro lugar
Cesar
Vanucci
“A
economia é um meio pra se atingir um fim social.”
(José
Alencar Gomes da Silva, saudoso homem público e líder empresarial)
Proteger
vidas, proteger a economia! Palavras que ressoam longe, ouvidas, com
insistência mântrica, nesta hora de perplexidade e preocupação generalizadas.
Importa anotar, no contexto atual, sutil observação. A observação deriva de
inarredável princípio contido na cartilha humanística. O primeiríssimo lugar,
nas ações cogitadas com o objetivo de apontar soluções para os problemas que se
enfileiram na trajetória da pandemia do coronavírus, terá que contemplar, sem
tergiversações, o ser humano. Ele, ser humano, há que ser sempre visto como medida
suprema e correta de tudo. Alvo prioritário em todo e qualquer projeto elaborado
com o propósito de construção e valorização da vida.
Instrumento
imprescindível, extremamente valioso no ordenamento institucional do processo
civilizatório, a economia faz jus, a seu turno, a especial atenção. Cabe aqui, entretanto,
enfatizar: tanto quanto a ciência, a educação, a política, a tecnologia e
outros relevantes mecanismos criados pelo labor e engenhosidade humanos, a
economia não é fim em si mesma. Um bocado de gente, por esse mundo de Deus
afora, pensa que é. Labora em tremendo equívoco. O equívoco dá margem a
indesejáveis efeitos sociais. A economia é, sim, meio eficaz para se atingir um
fim. O fim é sempre social. No centro de tudo, como beneficiário das atividades
econômicas, situa-se o homem. Assim reza a lei da vida, superior a todas as
demais leis e normas instituídas.
O
conceito alinhado, como já dito na cláusula humanística, recolhe inspiração nas
lições espirituais transmitidas, desde o começo dos tempos. Homens e mulheres
de boa-vontade sinceramente empenhados na construção de um mundo melhor
conhecem disso, à saciedade. Embora saibamos que, em numerosas e cruciais ocasiões,
na marcha da história, tal conceito seja desprezado, descartado, relegado a
plano inferior, por força de egoísticas conveniências, de ambições hegemônicas,
por carência de solidariedade, é essencial mantê-lo bem aceso nas mentes e corações
generosos de forma a assegurar condições
a que possa prevalecer, acima de outros interesses, em situações e circunstâncias
complexas e difíceis como as que agora atravessamos.
Proteger
a vida representa, portanto, magna prioridade. Reconhecer isso implica,
naturalmente, em decisões que reservem o maior quinhão dos recursos a serem
carreados ao enfrentamento vigoroso da crise para os menos favorecidos. Para
quem esteja, sob o ponto de vista financeiro, inteiramente desguarnecido. Para
os desempregados e para quem se veja ameaçado de perder renda e não disponha das
reservas necessárias a própria sobrevivência e de familiares. Os melhores e
mais graduados especialistas em políticas sociais, dentro ou fora das organizações
executivas governamentais, devem ser convocados a participar da ampla coalizão
de forças vivas da Nação encarregada de promover ações emergenciais que propiciem
assistência a esses contingentes populacionais da sociedade, de maneira a
minorar seus padecimentos. Esta frente de ação social se junta à frente da ação
médica desencadeada desde o aparecimento do primeiro caso de contaminação detectado.
Outra
frente de trabalho fundamental que também requer urgência, diz respeito a proteção
da economia. O óbvio ululante: as iniciativas humanitárias emergenciais
recomendadas, oriundas de irrevogável imposição social, não excluem, jeito
maneira, a imperiosa necessidade de providencias que resguardem as atividades
produtivas quanto aos riscos de colapso. De grupos técnicos e administrativos
qualificados, recrutados no serviço público e na iniciativa privada, a
sociedade brasileira espera também uma série de providências, urgentes, que impulsionem
os pequenos negócios, as minis, pequenas e médias empresas. Enfim, mantenha a
sobrevivência, com condições de superar as adversidades deste instante, o
complexo produtivo, nele injetando estímulos de ordem tributária e
financiamentos de longo prazo a custos
módicos. Será de ajuda inestimável, a entes privados, jurídicos e mesmo
governamentais – caso dos Estados que compõem a Federação – a prorrogação das
quitações das dívidas tributárias ou de outra natureza contraídas com a União.
Por
último, ainda a propósito dos problemas suscitados pelo surto do Covid-19 mais
este registro. Os posicionamentos ambíguos e extravagantes pronunciamentos recentes
do presidente Jair Bolsonaro estão provocando, dentro e fora do país, compreensíveis
reações. As críticas vão desde a estupefação até a indignação, partindo do
mundo científico de organizações internacionais, círculos políticos, culturais,
classistas e religiosos, meios de comunicação social, enfim, de todos os
segmentos representativos da opinião pública. Até mesmo entre integrantes da
esfera governamental dá pra perceber, em manifestações vindas a público sinais
de desaponto e constrangimento, nos semblantes, nos gestos e nas falas. Tudo
isso é lamentável.
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