Só
mesmo Nonô! (I)
Cesar
Vanucci
“Nossa
missão: A democracia praticada e não apenas pregada.”
(JK, em mensagem aos colegas militares)
A
soberba cena já foi narrada em verso e prosa. Até mesmo em cantoria de cordel.
Pisando pela primeira vez o solo de Brasília, a professora Julia, mãe de JK,
abriu a janela do aposento em que se achava alojada, esquadrinhou maravilhada,
olhos marejados, o deslumbrante cenário descortinado e exclamou com voz forte,
carregada de emoção cívica, mesclada com orgulho maternal: - Só mesmo Nonô
seria capaz de fazer tudo isso!
A frase da veneranda educadora ricocheteou,
vezes numerosas, na memória velha de guerra deste escriba durante recente
encontro cultural interacadêmico levado a efeito na sede da Academia
Municipalista de Letras de Minas Gerais. O economista Carlos Alberto Teixeira
de Oliveira e o coronel Klinger Sobreira de Almeida presentearam o público na
ocasião com esplêndidas exposições, enfocando a vida e obra do inesquecível
Juscelino Kubitschek de Oliveira. Inserido nas comemorações do tricentenário da
implantação da Província de Minas Gerais, o evento foi promovido pelas
instituições acadêmicas na sequência nominadas: Arcádia, Academia Feminina Mineira de Letras, Academia
Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa, Academia de Letras João Guimarães
Rosa da PMMG, Academia de Letras do Ministério Público, Academia de Letras do
Triângulo Mineiro, Academia Mineira
de Leonismo, Academia
Mineira de Letras, Academia
Municipalista de Letras, Instituto
Histórico e Geográfico.
A
plateia, composta de personagens da maior representatividade intelectual,
aplaudiu com vivo entusiasmo as palestras proferidas pelos dois ilustres
acadêmicos, ambas de altíssimo nível e substancioso conteúdo histórico. Ambas
reveladoras, no retrato produzido dos feitos de JK, daquilo que dona Julia
proclamou: - Só mesmo Nonô seria capaz de fazer tudo isso!
Klinger
é membro da Academia da Polícia Militar. Carlos Alberto integra os quadros da
Amulmig. Primeiro a fazer uso da palavra, o coronel relatou lances marcantes da
atuação de Kubitschek na Força Pública. Como capitão médico lotado no Hospital
Militar, ele ingressou na corporação em 1931. Participou como oficial médico da
Revolução de 32.
O
expositor valeu-se de sugestiva e exaustiva pesquisa, estampada em publicação
distribuída aos presentes durante o encontro, para sublinhar aspectos pouco
divulgados pertinentes à trajetória jusceliana na vida militar. Referiu-se aos
louvores de superiores hierárquicos a propósito de seu desempenho no movimento.
Na folha de serviços ele é apontado como “o cirurgião da campanha” e “bisturi
de ouro da Força Pública”. A afeição e fidelidade de JK à corporação fica bem
evidenciada no fato dele jamais ter dela se desligado, mesmo consagrando-se às
tarefas políticas que o celebrizaram.
Quando
do lançamento da candidatura à Presidência da República, perante a oficialidade
reunida, envergando farda, ele assim se pronunciou: “Senhor Comandante Geral, o
tenente coronel Juscelino Kubitschek de Oliveira, do Serviço de Saúde, aqui se
apresenta por motivo da passagem do Governo do Estado ao seu substituto legal,
em obediência ao dispositivo da Lei, já que é candidato à Presidência da
República”.
Noutro
instante, junho de 1959, já aí como chefe do governo, ele agradeceu a uma
homenagem da Polícia Militar com manifestação de carinho, de sonora atualidade,
da qual extraímos os trechos na sequência alinhados. “Neste momento medito bem,
e faço o balanço do muito que, a crédito da Polícia Militar, está consignado no
processo de autêntica democratização de nosso Estado. (...) Colocando-nos
rigorosamente dentro do mais alto sentido da nossa missão, foi-nos dado
colaborar para o advento do que aí está: a democracia praticada e não apenas
pregada.” (...) “A Polícia Militar de Minas (...) colaborou para o êxito desta
sábia orientação política.” (...) “Não haverá obra de desenvolvimento possível,
nem seríamos levados a sério, se déssemos prova de subdesenvolvimento político
(...), se nos portássemos como subdesenvolvidos (...), por demonstrações de
incompatibilidade com o regime civilizado que adotamos.”
Dá
pra repetir: Só mesmo Nonô!
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