Nação
e Democracia merecem respeito
Cesar
Vanucci
“O papel
do Congresso é ter paciência,
equilíbrio
e não ter açodamento”.
(Deputado Rodrigo Maia, Presidente da Câmara
dos Deputados, comentando
os 28 pedidos de impedimento presidencial
encaminhados ao Parlamento)
A
crise política, de consequências imprevisíveis, brotada de excesso de
arrogância, insensatez, incompetência, tendo por epicentro redutos palacianos
brasilienses, elevou a níveis insuportáveis a tonalidade do desassossego na
vida nacional. As pessoas se interpelam, tomadas de preocupação, se já não
bastaria como ônus pesado pra carregar nos ombros, neste conturbado panorama de
tantos males crônicos, a calamidade adicional da covid-19. Um baita problema
demasiadamente agravado, em nossas plagas, por abordagens oficiais dúbias e
impróprias. Até com a indesejável “exoneração da ciência”, a nos valermos de
denúncia do defenestrado ministro Mandeta.
O
que vem rolando no pedaço político “não está no gibi”, como se diz em papo de
rua. Causa enorme sobressalto. Vejamos. Grupelho terrorista, uma minoria
atuante ancorada em apoio clandestino, bota a cara nas ruas pra pregar a
derrubada das instituições democráticas. Por meio de palavras de ordem
beligerantes, deixando à mostra a histeria típica dos incendiários de
carteirinha, os agentes da subversão pedem, descerimoniosamente, com todas as
letras, pontos e vírgulas, uma ditadura para o Brasil. Fiéis ao desvario
inerente aos fanáticos – pessoal que tem os pés permanentemente plantados no
ar, conforme saborosa definição de Roosevelt –, eles clamam a volta do AI-5.
Pedem o fechamento do Congresso e STF. Pugnam pela supressão das liberdades
públicas. Desejam seja silenciada, com base na porrada, a voz da imprensa.
Imprensa essa - asseveram –, “responsável” por tudo quanto de ruim e negativo vem
pintando por aí...
O
que faz o senhor Presidente da República ao tomar ciência de uma manifestação
absurda, enquadrada dentro de tão ignominioso objetivo, convocada para praça
pública na Capital? Escanteia deveres inerentes à nobre função exercida, à qual
foi alçado por consagradora votação em eleição patrocinada pelo regime
democrático; esquecido do solene juramento constitucional da posse, resolve ir
ao encontro dos desordeiros. Não o fez para condenar o desvairado procedimento.
Mas para externar, inacreditavelmente, simpatia pela desatinada turba. Onde foi
que já se viu tamanho despautério? O pronunciamento corretivo, horas depois, em
termos comedidos, obviamente recomendado por colaboradores ajuizados, não se revelou
eficaz pra desfazer a enrascada. As repercussões do insólito ato, até
internacionais, foram estrondosas. Parlamentares, juristas, líderes de
diferentes tendências e segmentos, alguns próximos da cúpula governamental, condenaram
a atitude de Bolsonaro. Houve quem propusesse, sem meias palavras, reações
legais extremas. Caso, entre outros, de um presidente da República, Fernando Henrique
Cardoso, reconhecidamente prudente em ocasiões de ânimos acalorados.
O
alarido alusivo ao estouvado episódio ainda se mantinha inteiriço quando
explodiu, com máxima intensidade, a inimaginável notícia do entrechoque entre o
Presidente e o Ministro Sérgio Moro. Colisão apinhada de interrogações,
acusações e suspeitas de teor muito sério. As atordoantes alegações do
magistrado que se tornou célebre na “Lava Jato”, falando dos motivos de sua
saída da pasta, deixaram um rastro de estupefação no espírito popular. Foram apontadas,
nos círculos jurídicos, como libelo acusatório explosivo. Rebatendo o ex-colaborador,
brindado repetitivamente, em passado recente, com referências altamente
elogiosas, o Presidente levantou, por sua vez, a tese de que as desavenças
nasceram da incontrolável disposição do contendor em utilizar expedientes desprimorosos
na conquista de posições de maior projeção na carreira.
O
“quiproquó” ganhou estardalhante reverberação. Causou natural estarrecimento,
colocando a opinião pública em alerta e na expectativa de que o bom-senso possa
prevalecer, nos desdobramentos das candentes questões, de forma a garantir o
império estrito da Lei nas soluções políticas e judiciais requeridas pelas
circunstâncias.
Tudo
quanto narrado remete a inarredáveis conclusões. A pátria e a democracia exigem
respeito. O flagelo do coronavírus carece de conjugação poderosa de vontades pra
mode que ser conjurado. O diálogo é instrumento imprescindível na busca das
decisões, a serem regradas pelos preceitos constitucionais. As exigências
sociais e econômicas reclamam crises de menos, algumas mesquinhas e
artificialmente semeadas. No lugar delas mais, muito mais trabalho,
iniciativas, criatividade, arrojo empreendedor tendo em mira a retomada de um
processo de desenvolvimento verdadeiramente conectado com a vocação de grandeza
do País. O Brasil em primeiro lugar. O resto é resto.
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