Nossa
fascinante MPB
Cesar Vanucci
"Onde se toca
boa música,
não pode haver coisa má."
(Cervantes)
Nestes tempos amargos de forçada
reclusão venho procurando escapulir, por instantes que sejam – sempre
enlevantes -, do inevitável e impactante bombardeio midiático gerado pela
pandemia, ouvindo peças musicais de compositores de meu especial agrado. Foi
assim que já repassei, em agradáveis espaços de tempos,
os repertórios de Vila Lobos, Ary Barroso, Tom Jobim, Dorival Caymmi, para
falar de alguns poucos de uma cintilante constelação de figuras exponenciaisna
criação artística. As audições serviram para fortalecer arraigada convicção
pessoal.
A música brasileira representa, no
reconhecimento popular, um instante mágico, privilegiado, de elevação na escala
da criatividade universal.
Não existe neste mundo do bom Deus,
onde o diabo costuma armar barraca pra aprontar malvadezas, quem ouse não se
confessar encantado com os sons cheios de vida, líricos e coloridos, lembrando
imenso calidoscópio, de infinitas e variegadas emoções, produzidos à mancheia
pelo time dos artistas brasileiros da música. Um time, sem qualquer sombra de
dúvida, da maior competência, preparado para ganhar tudo quanto é copa de que venha
participar.
Quando se fala dos sons musicais
brasileiros, dos versos primorosos reunidos em milhares de composições do
melhor quilate, não há como esquecer também do ritmo malemolente, único,
saído dos instrumentos de percussão. Ele é inconfundível e, também,
irreproduzível em outras plagas, mesmo por craques na arte de extrair ruídos
sonoros dos tambores. Produz um barulho de fala muito especial. Junto com os da
melodia e letra, que são barulhos que pensam, conforme o clássico conceito de
Victor Hugo, ajuda a mostrar, de modo exultante, a riqueza cultural fabulosa da
gente brasileira.
Em tudo quanto é canto deste planeta
azul, as músicas brasileiras enternecem e arrebatam. Ary Barroso e Tom Jobim,
pra ficar no registro de dois nomes transcendentes da populosa nação dos
compositores brasileiros talentosos, deixaram as digitais impressas nos
repertórios das mais famosas orquestras, dos grandes instrumentistas e
vocalistas. São assobiados nas ruas. Ouvidos com prazer em todos os lugares
onde se toca boa música, lugares, conforme Cervantes, em que não pode haver
coisas más.
Os turistas brasileiros são, vez por
outra, envolvidos em suas andanças pelo exterior por inesperadas ondas de
simpatia, que ajudam a quebrar o gelo da recepção costumeiramente oferecida,
sobretudo em paragens europeias. É quando a música brasileira pinta no pedaço.
Algo assemelhado com o que ocorre, também, quando o futebol aflora nas
conversas. Nossa música popular e nosso futebol – de passado recente fantástico
-têm o condão de identificar lá fora, admiravelmente, o nosso jeito de ser. E
produzem, como nenhuma outra ação construtiva consegue fazer, aproximações
enriquecedoras e saudáveis.
Acode-me, a esta altura, a lembrança
de uma situação singular que experienciei (ora, epa!) em 1995, no
Tibete.
Disponho-me, adiante, a contar o que
aconteceu, aqui neste espaço, se não me falha a memória, pela segunda vez. A
repetição, assinale-se logo, vem robustecer os argumentos da defesa apaixonada
que estou fazendo da cultura musical brasileira neste de hoje e no próximo
artigo.
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