Reflexões
suscitadas pelos vírus
Cesar
Vanucci
“A liberdade
de expressão é requisito fundamenta de país democrático” (...) A independência
e harmonia entre Poderes são imprescindíveis” (Ministro da defesa, Fernando
Azevedo e Silva)
Comecemos
pelo corrosivo vírus antidemocrático. Qualquer semelhança não será mera
coincidência se, de repente, em meio à colérica turba que anda aprontando
estripulias antidemocráticas na Esplanada dos Poderes, em Brasília, despontarem
histéricos cavalheiros e madames a envergar, garbosamente, camisas pardas com
suástica pendurada na manga.
Nas
palavras de ordem emitidas, cartazes e faixas, gestos desafiadores e intimidatórios,
nas vociferações preconceituosas e agressões à imprensa, essas mobilizações
milicianas deixam descoberta a afinidade ideológica de seus integrantes com as
falanges hitleristas de tenebrosas recordações. Causam pasmo – mais do que
isso, náusea – as inacreditáveis cenas, captadas pelas câmeras, da presença de
parlamentares e até de Ministro de Estado no grupo de arruaceiros pregando o
fechamento do Congresso. Como classificar um procedimento desse jaez? Mas, a
história não cessa aí. O aturdimento da opinião pública ganhou maior robustez ainda
ao confrontar uma inimaginável postura do Chefe do Governo nos deploráveis
acontecimentos. S.Exa., exercendo funções propiciadas pelo regime democrático
ora vilipendiado na algazarra de dúzia e meia de fanáticos, desonerou-se,
lamentavelmente, de seus deveres institucionais, ao se aproximar do pessoal com
acenos de simpatia.
As
reações que se seguiram a esse desfile de absurdidades, abrangendo avalancha de
pronunciamentos contendo censuras, revelam o quanto a consciência cívica da
Nação se sente injuriada. Tais reações vão respaldar, com certeza, as
providências competentes, a serem adotadas no âmbito judicial e parlamentar, em
defesa dos postulados democráticos. O Brasil civilizado abomina autoritarismos
de quaisquer matizes. Passa a aguardar, agora, confiante e esperançoso, por decisões
vigorosas, tomadas por quem de direito, capazes de refrear, vez para sempre, os
impulsos deletérios dos radicais de plantão. Os sagrados valores da cidadania
exigem fique devidamente protegido o curso dos avanços civilizatórios promovidos
pela sociedade. Tudo de conformidade com o inalienável regramento democrático e
republicano. O vírus antidemocrático que alguns vêm procurando disseminar carece
ser erradicado já. Com vigor. Assim pede o sentimento nacional.
Falemos,
na sequência, do outro vírus. Na esteira da Covid-19, as ponderações vindas a
seguir são, todas elas, muitíssimo sensatas. Vão direto ao ponto. Consultam anseios e conveniências legítimos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, enfaticamente, que a tormentosa
questão do coronavírus não seja politizada. Exatamente o que não está sendo
feito, neste preciso momento, num país “lindo e trigueiro” – consoante dizeres
de canção inesquecível - localizado ao sul do Equador. E tudo por conta de
visão política medíocre, egos inflados, inapetência administrativa, demagogia
inconsequente e insensibilidade social. O país ultrapassou a China em número de
casos fatais. “E daí?” Indaga em tom inflamado o dirigente político com a
responsabilidade de coordenar – sem disposição para fazê-lo - as ações de
combate sem tréguas ao flagelo pandêmico. Promove atos ambíguos indesculpáveis,
em beligerância aberta com a OMS, mundo científico e demais lideranças
políticas engajadas na luta contra a enfermidade, expressando discordância insanável
com relação à metodologia terapêutica proposta nos protocolos médicos e
sanitários. E daí, como ficamos? – a vez de interrogar agora é da própria coletividade,
insatisfeita com o rumo das coisas.
O
Clube de Diretores Lojistas pede que os juros bancários para as atividades
produtivas sejam zerados. O apelo procede. Como todos estamos calvos de saber,
notadamente os que recorrem a financiamentos pra tocar negócios, garantir
empregos e impulsionar a economia, os juros praticados por aqui atingem
altitudes galácticas. Isso permite ao sistema bancário o desfrute de
rentabilidade ininterruptamente recordista, há décadas, a cada balanço
trimestral. Tem nada demais, portanto, que face às aflições e angústias
detectadas nesta situação emergencial, que reclama conjugação de forças para a debelação
da crise, sejam as taxas temporariamente zeradas. Atente-se, ainda, à circunstância
de que a queda significativa da Selic não redundou, inexplicavelmente, até
aqui, na almejada redução dos custos para os tomadores de empréstimos bancários.
A
outra postulação merecedora de registro procede da Federaminas. Num dos itens
da proclamação em que são abordados problemas cruciais gerados pela sufocante
crise humanitária, a instituição dirige um apelo a grupo privilegiado de
agentes públicos. Abram mão, provisoriamente, dos vantajosos penduricalhos que
permitem a ultrapassagem, em seus holerites, do teto salarial estipulado em
preceito constitucional, escancaradamente desrespeitado. Integrem-se no esforço
geral, como já feito por outras categorias de assalariados, voltado para o relevante
alvo de aliviar a carga de encargos que recaem sobre os ombros da comunidade. A
contribuição dos milhares de servidores enquadrados nessa condição será muito bem-vinda.
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