sexta-feira, 8 de maio de 2020


Reflexões suscitadas pelos vírus

Cesar Vanucci
                                                                                                 
“A liberdade de expressão é requisito fundamenta de país democrático” (...) A independência e harmonia entre Poderes são imprescindíveis” (Ministro da defesa, Fernando Azevedo e Silva)


Comecemos pelo corrosivo vírus antidemocrático. Qualquer semelhança não será mera coincidência se, de repente, em meio à colérica turba que anda aprontando estripulias antidemocráticas na Esplanada dos Poderes, em Brasília, despontarem histéricos cavalheiros e madames a envergar, garbosamente, camisas pardas com suástica pendurada na manga.

Nas palavras de ordem emitidas, cartazes e faixas, gestos desafiadores e intimidatórios, nas vociferações preconceituosas e agressões à imprensa, essas mobilizações milicianas deixam descoberta a afinidade ideológica de seus integrantes com as falanges hitleristas de tenebrosas recordações. Causam pasmo – mais do que isso, náusea – as inacreditáveis cenas, captadas pelas câmeras, da presença de parlamentares e até de Ministro de Estado no grupo de arruaceiros pregando o fechamento do Congresso. Como classificar um procedimento desse jaez? Mas, a história não cessa aí. O aturdimento da opinião pública ganhou maior robustez ainda ao confrontar uma inimaginável postura do Chefe do Governo nos deploráveis acontecimentos. S.Exa., exercendo funções propiciadas pelo regime democrático ora vilipendiado na algazarra de dúzia e meia de fanáticos, desonerou-se, lamentavelmente, de seus deveres institucionais, ao se aproximar do pessoal com acenos de simpatia.

As reações que se seguiram a esse desfile de absurdidades, abrangendo avalancha de pronunciamentos contendo censuras, revelam o quanto a consciência cívica da Nação se sente injuriada. Tais reações vão respaldar, com certeza, as providências competentes, a serem adotadas no âmbito judicial e parlamentar, em defesa dos postulados democráticos. O Brasil civilizado abomina autoritarismos de quaisquer matizes. Passa a aguardar, agora, confiante e esperançoso, por decisões vigorosas, tomadas por quem de direito, capazes de refrear, vez para sempre, os impulsos deletérios dos radicais de plantão. Os sagrados valores da cidadania exigem fique devidamente protegido o curso dos avanços civilizatórios promovidos pela sociedade. Tudo de conformidade com o inalienável regramento democrático e republicano. O vírus antidemocrático que alguns vêm procurando disseminar carece ser erradicado já. Com vigor. Assim pede o sentimento nacional.

Falemos, na sequência, do outro vírus. Na esteira da Covid-19, as ponderações vindas a seguir são, todas elas, muitíssimo sensatas. Vão direto ao ponto.  Consultam anseios e conveniências legítimos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, enfaticamente, que a tormentosa questão do coronavírus não seja politizada. Exatamente o que não está sendo feito, neste preciso momento, num país “lindo e trigueiro” – consoante dizeres de canção inesquecível - localizado ao sul do Equador. E tudo por conta de visão política medíocre, egos inflados, inapetência administrativa, demagogia inconsequente e insensibilidade social. O país ultrapassou a China em número de casos fatais. “E daí?” Indaga em tom inflamado o dirigente político com a responsabilidade de coordenar – sem disposição para fazê-lo - as ações de combate sem tréguas ao flagelo pandêmico. Promove atos ambíguos indesculpáveis, em beligerância aberta com a OMS, mundo científico e demais lideranças políticas engajadas na luta contra a enfermidade, expressando discordância insanável com relação à metodologia terapêutica proposta nos protocolos médicos e sanitários. E daí, como ficamos? – a vez de interrogar agora é da própria coletividade, insatisfeita com o rumo das coisas.

O Clube de Diretores Lojistas pede que os juros bancários para as atividades produtivas sejam zerados. O apelo procede. Como todos estamos calvos de saber, notadamente os que recorrem a financiamentos pra tocar negócios, garantir empregos e impulsionar a economia, os juros praticados por aqui atingem altitudes galácticas. Isso permite ao sistema bancário o desfrute de rentabilidade ininterruptamente recordista, há décadas, a cada balanço trimestral. Tem nada demais, portanto, que face às aflições e angústias detectadas nesta situação emergencial, que reclama conjugação de forças para a debelação da crise, sejam as taxas temporariamente zeradas. Atente-se, ainda, à circunstância de que a queda significativa da Selic não redundou, inexplicavelmente, até aqui, na almejada redução dos custos para os tomadores de empréstimos bancários.

A outra postulação merecedora de registro procede da Federaminas. Num dos itens da proclamação em que são abordados problemas cruciais gerados pela sufocante crise humanitária, a instituição dirige um apelo a grupo privilegiado de agentes públicos. Abram mão, provisoriamente, dos vantajosos penduricalhos que permitem a ultrapassagem, em seus holerites, do teto salarial estipulado em preceito constitucional, escancaradamente desrespeitado. Integrem-se no esforço geral, como já feito por outras categorias de assalariados, voltado para o relevante alvo de aliviar a carga de encargos que recaem sobre os ombros da comunidade. A contribuição dos milhares de servidores enquadrados nessa condição será muito bem-vinda.



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