Fundamentalismo rima com racismo
Cesar
Vanucci
“...Estão
afastados de nós como as
espécies
animais da verdadeira espécie humana.”
(Adolf Hitler)
Terminada
a segunda guerra mundial, em vários lugares, notadamente na Alemanha, Áustria e
Itália, muitas pessoas, entre impactadas e temerosas diante da avalancha das
atrocidades nazistas, procuraram vender a ideia de que Adolf Hitler enganou
todo mundo. Disfarçou-se de cordeiro, embora fosse lobo voraz. Nada menos real.
O Fuhrer chegou ao palco mundial – que nem uma bateria de escola de samba
adentrando avenida com tonitruantes tambores –, fala e pose “messiânicas”,
anunciando, alto e bom som, a que vinha. Quem, dentre os líderes políticos,
militares, religiosos da época, conservou os olhos acesos para enxergar e os
ouvidos atentos para escutar, cansou de ver e ouvir, com sonora clareza, o recado
assustador por ele transmitido.
Sem
essa, portanto, de se querer – como fizeram numerosos alemães - confundir
omissão e conivência com desconhecimento de causa. O chefão nazista escancarou,
desde o comecinho de seu tenebroso itinerário, as garras afiadas do movimento
luciferino de que se fez arauto. Apregoou, com palavras e atos, seu pérfido
propósito de desmantelar estruturas de vida nucleadas nos valores humanísticos.
Impulsionado por misticismo mórbido, com a cumplicidade de multidões de
fanáticos aglutinadas em torno de sua desvairada doutrina, prometeu uma “nova
era” refulgente para os “puros da raça ariana”. Intitulava-se o “redentor”
prometido, numa “curva decisiva do mundo”. Uma “hora mágica”, em que a
“biologia mística” iria confrontar a “falsa rota do espírito”. A humanidade,
segundo tão tresloucada linha de pensamento, abandonaria a crença nas coisas
divinas, “ascendendo” a novos patamares em sua “evolução”...
Nas
Olimpíadas de Berlim, o Fuhrer deixou a tribuna furibundo, à hora em que um soberbo
atleta negro, dos Estados Unidos, subiu ao pódio, depois de derrotar os
oponentes “arianos”. Hitler não jogava com meias palavras para traduzir seu
odioso racismo. Propagava sandices como esta: “Judeus, negros e ciganos estão
afastados de nós como as espécies animais da verdadeira espécie humana”. As
perseguições ignominiosas aos judeus, que desembocaram no holocausto,
irromperam antes mesmo de haver se apoderado do poder. Fica impossível admitir
que a enlouquecedora conspiração contra os direitos humanos pudesse ser posta
em marcha sem apoios ponderáveis da sociedade alemã, compreendidos aí
militares, intelectuais, cientistas, políticos etc. No plano internacional, a
grande maioria dos que viram e não gostaram, preferiu calar-se. O Fuhrer
agregou simpatias declaradas ou prudentemente silenciadas em várias estruturas
de poder. A Itália e o Japão renderam-se ao seu “fascínio”. Na Espanha, Franco
assumiu o comando com ostensiva ajuda militar germânica. Salazar, em Portugal, não ocultava admiração
pelo ideário hitleriano. No Brasil, vários elementos da cúpula do “Estado Novo”
deram demonstrações seguidas de simpatia ao nazismo. Os integralistas bolaram
um modelo de atuação de nítida concepção hitlerista. Nas vestes, no símbolo e
na ridícula saudação. Aconteceu também, no sul do país, de a suástica ser
desfraldada em alguns núcleos de imigrantes alemães. A polícia política da
ditadura estabeleceu, em certa época, cooperação com a famigerada Gestapo. Também
nos Estados Unidos e Inglaterra, figuras influentes na política e nas finanças
chegaram, nalguns instantes, a confessar admiração pelo déspota alemão. A
Argentina de Perón, premida pela pressão internacional, só aquiesceu em
considerar a Alemanha inimiga da humanidade no instante da capitulação do
“Reich”. A ditadura bolchevista russa firmou com a ditadura nazista alemã um
pacto de não beligerância. O território polonês foi dividido entre os dois
países. Comunistas franceses chegaram a recepcionar as tropas alemãs na chegada
triunfante a Paris. Caíram, mais adiante, na clandestinidade e tiveram papel de
destaque na resistência à ocupação. Na França ainda, houve o colaboracionismo
da “República de Vichy”, liderada pelo marechal Petain, herói da primeira
guerra mundial...
Todos
esses registros – tornamos a dizer – fazem-se oportunos nesta proximidade da
comemoração dos 75 anos do término da segunda guerra mundial. Até mesmo pela
circunstância do surgimento, na atualidade, em várias partes do mundo, de
núcleos fundamentalistas neonazistas ativos, empenhados em propagar, com muito
rancor e manifesta belicosidade, as concepções racistas e antidemocráticas da
“nova civilização” projetada por Hitler para durar milhares de anos...
Alvissareiro
comprovar que esse radicalismo terrorista é veementemente repudiado pela
consciência cívica e democrática. Pelo sentimento universal.
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