O fanatismo místico de Hitler
Cesar
Vanucci
“Quanto
ao frio, o assunto é comigo. Ataquem!”
(Adolf Hitler, aos seus generais)
Adolf
Hitler, vimos no comentário anterior, acreditava-se um ser iluminado. Um
messias dos novos tempos. Um vidente extraordinário, incumbido de redimir a
humanidade e construir uma nova civilização. Confessou a Rauschning,
intelectual alemão a quem expunha confidências, disposições as mais
tresloucadas: “A nossa revolução é uma nova etapa, ou antes, a etapa definitiva
da evolução que conduz à supressão da história”. Vejam até onde chegavam suas
delirantes concepções! Sua proposta era simplesmente suprimir a história...
Apagar todos os vestígios do patrimônio espiritual, cultural e humanístico
edificado ao longo dos tempos.
São
de autoria também do supremo dirigente nazista, mencionadas pelo mesmo
Raushning, as palavras que se seguem: “Não sabem nada de mim. Os meus camaradas
do partido não fazem a menor idéia dos sonhos que carrego comigo e do edifício
grandioso do qual pelo menos os alicerces estarão edificando quando eu morrer.
(...) Há uma curva decisiva do mundo. Eis-nos na charneira dos tempos. (...)
Haverá uma alteração do planeta que vós, os não iniciados, sois incapazes de
compreender. (...) O que se passa não é mais do que o aparecimento de uma nova
religião.”
Quando
se referia à hipotética transformação do planeta, ele se inspirava em previsões
apocalípticas transmitidas por “forças ocultas”, em seus estados de transe.
Strasser, antigo colaborador do chefe nazista, captou um flagrante desse comportamento
doentio: “Aquele que escuta Hitler vê surgir, de súbito, o Fuhrer da glória
humana. Aparece uma luz atrás de uma janela escura. Um senhor com um cômico
bigode em vassoura transforma-se em arcanjo. Depois o arcanjo levanta vôo:
apenas resta Hitler, que se volta a sentar, alagado em suor, com os olhos
vítreos.” Anotaram a observação? Um arcanjo! Tudo é paranóia à volta do
“messias” nazista.
Foi
numa dessas circunstâncias alucinatórias, respaldadas por teorias horbigerianas
de cunho pseudocientífico, embebidas de fanatice mística, que Adolf Hitler,
segundo Jacques Bergier e Louis Paulwells, embarcou na frustrada aventura
bélica que assinalou a reviravolta nos rumos da guerra. Apoderado da convicção
de que era capaz de prever com muita antecedência as variações da temperatura
no planeta, o dito cujo encasquetou a idéia maluca de que o inverno iria ser
relativamente suave, quando suas temíveis legiões, que vinham de vitórias
fulminantes nas frentes européias, adentrassem o território russo. Bergier e
Pauwels com a palavra: “Enquanto o Fuhrer prestava, habitualmente, particular
atenção no equipamento das suas tropas, limitou-se apenas a entregar aos
soldados da campanha da Rússia suplemento de vestuário derrisório: uma echarpe
e um par de luvas. E, em dezembro de 1941, o termômetro desceu bruscamente a
quarenta graus negativos. As previsões eram falsas. As profecias não se
concretizaram. Os elementos naturais insurgiam-se (...), cessavam bruscamente
de trabalhar para o “homem justo”. (...) As armas automáticas pararam. (...) Na
retaguarda, as locomotivas gelavam. Sob seu capote e as botas do uniforme, os
homens morriam. A mais ligeira ferida os condenava. Milhares de soldados, ao
acocorarem-se sobre o gelo para satisfazer as necessidades fisiológicas, caiam
com o ânus congelado. Hitler recusou-se a acreditar nesse desacordo entre a
mística e o real. O general Guderian, arriscando-se a ser destituído e mesmo
condenado a morte, foi de avião à Alemanha para por o Furher a corrente da
situação e pedir-lhe que ordenasse a retirada. Quanto ao frio – disse Hitler –
o assunto é comigo. Ataquem!”
O
resto está nos livros de história da guerra. Os exércitos blindados que
conquistaram numerosos países em questão de dias, as legiões dos “super-homens
invencíveis”, golpeados pela inclemência glacial, desapareceram no deserto
frio, na tentativa vã de provar que a mística, o fanatismo pudessem ser mais
reais que o curso da vida.
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