quinta-feira, 18 de junho de 2020


O fundamentalismo nazista
                                                                               
Cesar Vanucci

“A nossa revolução é uma nova etapa, ou antes, a etapa
 definitiva da evolução que conduz à supressão da história.”
(Adolf Hitler)

Categorizados analistas da história contemporânea registram, com justificada apreensão, no cenário político mundial, sinais ruidosos de surtos neonazistas, com propensão pandêmica. Não são tão pouco numerosas assim, que não motivem preocupação, as manifestações desencadeadas pelos simbolicamente chamados “camisas pardas”. Ou seja, adeptos de uma seita que prega o ódio, o preconceito. a intolerância e a derrubada das instituições democráticas. A incômoda constatação cria ensancha oportunosa para a recondução a este “minifúndio de papel”, dedicado à produção de singelas e bem intencionadas ideias, algumas considerações sobre o personagem central de um movimento tenebroso que ficou conhecido por “fundamentalismo nazista”.  

Uma faceta menos explorada da personalidade de Adolf Hitler revela-nos, instigantemente, o comprometimento visceral do líder nazista, desde os começos de sua trajetória política, com tresloucados conceitos e ações de cunho místico. É daí que emerge sua convicção pessoal insana, compartilhada com devoção por fanáticos seguidores, do papel messiânico que a história lhe teria reservado. O “Fuhrer” se apresenta e é aceito pela sociedade alemã como o homem capaz de redimir a sua gente. Nas furibundas manifestações em que deixa entrevista sua paranóica exaltação mística, ele se coloca na condução de um movimento diferente, sem similar em época alguma, para que possa executar “missão redentora”.

Num estudo em que assestam a claridade dos holofotes sobre as raízes da filosofia hitleriana, apropriadamente classificada de luciferina, os pensadores Jacques Bergier e Louis Pauwells mostram que a ambição e a “sagrada missão” de que o mesmo se crê investido ultrapassam infinitamente os domínios da política e do patriotismo. Dão a palavra a Hitler para uma melhor explicação dessa assertiva: “A ideia de nação – diz lá o “Fuhrer” – tive de me servir dela por razões de oportunidade, mas já sabia que ela não podia ter mais do que um valor provisório. Dia virá em que pouca coisa restará, mesmo aqui na Alemanha, daquilo que chamamos o nacionalismo. O que haverá no mundo será uma confraria universal dos mestres e dos senhores.”

Fica evidenciado, como esclarecem lucidamente os pensadores mencionados, que a política representou para o autor de “Minha luta” apenas um instrumento retórico. Reduziu-se a aplicação prática e momentânea de uma cartilha de conceitos deformados, de tétrica inspiração esotérica, concernentes às leis da vida. A humanidade seria aquinhoada, dentro dessa linha de ideias mórbidas, com um destino que os homens comuns não seriam nem de leve capazes de conceber, nem mesmo suportar. Só mesmo os homens superiores, os da “raça ariana pura”. Seres que ele, Hitler, procurava fervorosamente preservar da “contaminação com seres impuros”, de maneira a garantir supremacia dos “valores prodigiosos” contidos em sua perversa doutrina.

Adolf Hitler – as evidências estridentes de seus posicionamentos doutrinários estão aí pra confirmar – foi um fundamentalista extremado. O mais radical de todos, na interpretação das leis espirituais que regem a conduta humana e dos fatos sociais que compõem nosso precioso e inalienável patrimônio humanístico. Tinha-se na conta de vidente portentoso. Valia-se de conceitos extraídos de pseudociência para expor alucinadas teorias. Contava com o fanatismo apocalíptico de profetas como o austríaco Hans Horbiger, seu guru de cabeceira, e de companheiros tão insanos quanto o chefe, integrantes de sociedades herméticas engajadas na construção de um “admirável mundo novo”, composto de “semideuses”...

Essa condição de fundamentalista desvairado, perceptível em seus modos de pensar, falar e agir, não pode deixar de ser relembrada na ocasião em que nos acercamos dos setenta e cinco anos da derrocada da Alemanha nazista. Sobretudo, quando se tem sob foco preocupante, nos círculos sinceramente devotados às práticas humanísticas e espirituais autênticas, onde a humanidade bebe inspirações para uma vida digna, a movimentação deletéria, em tantos lugares, de grupos radicais, que fazem do fundamentalismo político ou religioso uma bandeira de luta carregada de ameaças e riscos explosivos.

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