O
fundamentalismo nazista
Cesar
Vanucci
“A nossa
revolução é uma nova etapa, ou antes, a etapa
definitiva da evolução que conduz à supressão
da história.”
(Adolf Hitler)
Categorizados
analistas da história contemporânea registram, com justificada apreensão, no
cenário político mundial, sinais ruidosos de surtos neonazistas, com propensão
pandêmica. Não são tão pouco numerosas assim, que não motivem preocupação, as
manifestações desencadeadas pelos simbolicamente chamados “camisas pardas”. Ou
seja, adeptos de uma seita que prega o ódio, o preconceito. a intolerância e a
derrubada das instituições democráticas. A incômoda constatação cria ensancha
oportunosa para a recondução a este “minifúndio de papel”, dedicado à produção
de singelas e bem intencionadas ideias, algumas considerações sobre o
personagem central de um movimento tenebroso que ficou conhecido por
“fundamentalismo nazista”.
Uma
faceta menos explorada da personalidade de Adolf Hitler revela-nos, instigantemente,
o comprometimento visceral do líder nazista, desde os começos de sua trajetória
política, com tresloucados conceitos e ações de cunho místico. É daí que emerge
sua convicção pessoal insana, compartilhada com devoção por fanáticos
seguidores, do papel messiânico que a história lhe teria reservado. O “Fuhrer” se
apresenta e é aceito pela sociedade alemã como o homem capaz de redimir a sua
gente. Nas furibundas manifestações em que deixa entrevista sua paranóica
exaltação mística, ele se coloca na condução de um movimento diferente, sem
similar em época alguma, para que possa executar “missão redentora”.
Num
estudo em que assestam a claridade dos holofotes sobre as raízes da filosofia
hitleriana, apropriadamente classificada de luciferina, os pensadores Jacques
Bergier e Louis Pauwells mostram que a ambição e a “sagrada missão” de que o
mesmo se crê investido ultrapassam infinitamente os domínios da política e do
patriotismo. Dão a palavra a Hitler para uma melhor explicação dessa assertiva:
“A ideia de nação – diz lá o “Fuhrer” – tive de me servir dela por razões de
oportunidade, mas já sabia que ela não podia ter mais do que um valor
provisório. Dia virá em que pouca coisa restará, mesmo aqui na Alemanha,
daquilo que chamamos o nacionalismo. O que haverá no mundo será uma confraria universal
dos mestres e dos senhores.”
Fica
evidenciado, como esclarecem lucidamente os pensadores mencionados, que a
política representou para o autor de “Minha luta” apenas um instrumento
retórico. Reduziu-se a aplicação prática e momentânea de uma cartilha de
conceitos deformados, de tétrica inspiração esotérica, concernentes às leis da
vida. A humanidade seria aquinhoada, dentro dessa linha de ideias mórbidas, com
um destino que os homens comuns não seriam nem de leve capazes de conceber, nem
mesmo suportar. Só mesmo os homens superiores, os da “raça ariana pura”. Seres
que ele, Hitler, procurava fervorosamente preservar da “contaminação com seres
impuros”, de maneira a garantir supremacia dos “valores prodigiosos” contidos
em sua perversa doutrina.
Adolf
Hitler – as evidências estridentes de seus posicionamentos doutrinários estão
aí pra confirmar – foi um fundamentalista extremado. O mais radical de todos,
na interpretação das leis espirituais que regem a conduta humana e dos fatos
sociais que compõem nosso precioso e inalienável patrimônio humanístico.
Tinha-se na conta de vidente portentoso. Valia-se de conceitos extraídos de
pseudociência para expor alucinadas teorias. Contava com o fanatismo
apocalíptico de profetas como o austríaco Hans Horbiger, seu guru de cabeceira,
e de companheiros tão insanos quanto o chefe, integrantes de sociedades
herméticas engajadas na construção de um “admirável mundo novo”, composto de “semideuses”...
Essa
condição de fundamentalista desvairado, perceptível em seus modos de pensar,
falar e agir, não pode deixar de ser relembrada na ocasião em que nos acercamos
dos setenta e cinco anos da derrocada da Alemanha nazista. Sobretudo, quando se
tem sob foco preocupante, nos círculos sinceramente devotados às práticas
humanísticas e espirituais autênticas, onde a humanidade bebe inspirações para
uma vida digna, a movimentação deletéria, em tantos lugares, de grupos
radicais, que fazem do fundamentalismo político ou religioso uma bandeira de
luta carregada de ameaças e riscos explosivos.
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