Falando de
gripe comum
Cesar Vanucci
“ (...) Daí ser a venda
de remédios
negócio de primeira
ordem.”
(Antônio Callado)
Falo de uma gripe comum. Não dessa “gripezinha”
desembestada, que anda ceifando vidas preciosas, semeando pânico e tolhendo as
atividades produtivas.
Falar verdade, em meu caso particular, a
“marvada” foi mesmo a gripe. Não a pílula antigripal de alardeados efeitos
milagrosos daquele reclame musical na televisão. Pegou-me de com força.
Estirou-me na lona. Foi assim como se houvesse sido atingido por um cruzado do
Popó, ou do Eder Jofre, ou mesmo de ambos, os dois, conjuntamente, ufa! Gripe
dessas faz germinar, no silêncio mais profundo de duas ou três noites mal
dormidas, um bocado de ruminações. Algumas doídas. Ocupamo-nos delas na sequência.
Os gastos com medicamentos, em função da
“marvada”, anotadinhos na ponta do lápis, superaram dois salários mínimos. E
olhe que nos consultórios visitados me foram generosamente passadas algumas
amostras grátis! Os desembolsos não contemplaram honorários médicos, chapas,
exames de laboratório, itens acobertados pelo seguro-saúde, que custa aliás uma
nota preta. O orçamento doméstico do mês sofreu algum abalo mas, pelo menos
desta vez, o leite dos meninos não ficou prejudicado. Das coisas vivenciadas
por conta da gripe sobraram amargas indagações. Quem puder faça a gentileza de
responder. No auge de uma crise gripal braba como a que me acometeu, que grassa
solta pela aí, atingindo impiedosamente mesmo quem (como eu) recebeu vacina a
tempo e a hora no centro de saúde, como é que se arranja mesmo um trabalhador
de salário mínimo inesperadamente alvejado pelos mesmos sintomas febris que
derribaram o neto predileto de vó Carlota?
Adiante, gente boa. Concordam comigo que essa
questão de medicamento é troço danado de sério? Um mal sem remédio? Peguemos um
dado da Organização Mundial de Saúde. Não mais do que 150 fórmulas
farmacêuticas, diz ela, são suficientes para o mundo encarar de frente os
problemas básicos de saúde. A revelação adquire toque burlesco confrontada com
os zilhões de marcas amontoadas nas prateleiras das farmácias espalhadas por
tudo quanto é canto deste nosso planeta de consumismo desvairado. Não por outras
razões a cartelizada indústria farmacêutica, sob controle de grandes
corporações, compõe com os setores petrolífero e de armamentos a lista dos
negócios mais rentáveis bolados pelo engenho humano. Isso remete, nas
avaliações e anseios dos humanistas por um mundo melhor, à ideia de que, algum
dia, mais na frente, a sociedade vai se ver compelida a fazer uso de todo seu
talento, criatividade, empenho político na formatação de modelos de atendimento
social no campo da saúde totalmente diferenciados dos de hoje. O esquema
adotado no fornecimento de medicamentos às populações revela-se ineficaz,
injusto. Coloca-se a distância considerável dos objetivos primordiais buscados
nas políticas sociais. Muita coisa feita com reta intenção, no sentido de
ajudar a população, acaba se transformando na prática, em consequência de
“estratégias negociais” dos laboratórios, num instrumento inofensivo. Caso sem
tirar nem pôr dos genéricos. Imaginava-se, de princípio, pudessem ser entregues
ao consumidor, opcionalmente, a preços acessíveis. Ledo engano. Entre os
“produtos de marca”, os “genéricos” e, ainda, os “similares” - classificações,
pelo que se percebe, criadas para confundir a patuleia ignara - não existem
diferenciações de valor, identificáveis à primeira vista, que tragam real
benefício ao consumidor.
Quebra de patentes, expansão da rede de
farmácias populares, lançamento em larga escala de produtos homeopáticos e
fitoterápicos, tudo isso pode integrar um sistema de proteção à saúde
fundamentado no objetivo de ajudar o povo em sua sufocante luta diuturna pela
aquisição de remédios. Mas não é o bastante. As lideranças comprometidas com a
causa do bem-estar social têm a obrigação de aprofundar estudos e discussões em
torno do angustiante problema dos remédios. E, a partir daí, promoverem uma
reavaliação do que é hoje feito e vem se revelando extremamente insatisfatório.
O interesse social reclama um tipo novo de relacionamento entre fabricantes,
comerciantes e clientela de medicamentos. O relacionamento vigente é
desvantajoso para o povo. E bota desvantagem nisso!
Um comentário:
O Povo de Deus
Padre Zezinho
O povo de Deus no deserto andava,
Mas à sua frente Alguém caminhava.
O povo de Deus era rico de nada,
Só tinha a esperança e o pó da estrada.
Também sou teu povo, Senhor
E estou nessa estrada
Somente a Tua graça me basta e mais nada.
O povo de Deus também vacilava;
Às vezes custava a crer no amor.
O povo de Deus, chorando, rezava
Pedia perdão e recomeçava.
Também sou teu povo Senhor,
E estou nessa estrada
Perdoa se às vezes não creio em mais nada.
O povo de Deus também teve fome
E Tu lhe mandaste o pão lá do céu.
O povo de Deus, cantado deu graças;
Louvou Teu amor, Teu amor que não passa.
Também sou teu povo Senhor,
E estou nessa estrada.
Tu és alimento na longa jornada.
O povo de Deus ao longe avistou
A terra querida que o amor preparou.
O povo de Deus corria e cantava
E nos seus louvores Teu poder proclamava.
Também sou teu povo Senhor
E estou nessa estrada,
Cada dia mais perto da terra esperada
Abraços carinhosos
Cesar Vanucci
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